IGOR GIELOW (FOLHAPRESS) – A guerra na Ucrânia se consolida como o mais mortífero conflito para tropas russas desde a Segunda Guerra Mundial, na qual combateu como principal país da União Soviética de 1941 a 1945, quando é avaliada a proporção entre mortos e feridos em combate.
Segundo o Ministério da Defesa russo divulgou nesta sexta (25), houve 1.351 militares mortos e 3.825 feridos nos primeiros 30 dias de combate. Foi o primeiro balanço desde o dia 2, ao fim da primeira semana da invasão.
A divulgação de dados oficiais, impossíveis de terem sua autenticidade comprovada a esta altura, busca um contraponto às estimativas de seus adversários, que pintam a guerra como um desastre militar completo para Vladimir Putin até aqui.
As Forças Armadas da Ucrânia falam em 16 mil soldados invasores mortos, entre os cerca de 200 mil que foram mobilizados inicialmente para o conflito, ao longo de quatro meses de falsos exercícios militares russos. Kiev não faz estimativa clara de suas baixas.
Já a Otan, aliança militar ocidental, vazou para repórteres em Bruxelas que o número seria de 40 mil, o que parece um exagero tão claro quanto o baixo número de Moscou.
Seja como for, isso não muda o fato acerca do péssimo desempenho russo em termos de sobrevivência de seus soldados ante a feroz resistência ao estilo guerrilha de Kiev.
A proporção entre mortos e feridos, que determina a eficácia da proteção pessoal, primeiros-socorros e remoção para hospitais, está em 1 para 2,7.
É ainda pior do que o 1 para 3,2 da primeira parcial, isso usando dados oficiais que podem estar subestimados. É um número comparável ao mais violento conflito da história humana, a Segunda Guerra Mundial, chamada de Grande Guerra patriótica na Rússia.
Ali, a taxa foi de 1 para 2,57. Naturalmente, a escala humana é incomparável. Se agora morreram 45 soldados por dia, na luta contra a Alemanha nazista após Adolf Hitler trair o pacto que tinha com Josef Stálin caíam 5.650 soviéticos ao fim de cada jornada.
Isso dito, é o pior desempenho proporcional russo desde então. Na ocupação de dez anos do Afeganistão, encerrada com derrota em 1989, Moscou a proporção era de 1 para 5, semelhante à registrada na primeira guerra da Tchetchênia (1994-96), embora ali os números sejam muito turvos para serem levados ao pé da letra. Na Geórgia em 2008, conflito semelhante em origem ao atual, foi 1 para 4,3.
Exércitos modernos miram uma proporção de 1 para 10, nem sempre alcançável. Os Estados Unidos evoluíram de 1 para 5,2 na Guerra do Vietnã (1955-1975) para 1 para 8,6 nos seus 20 anos de ocupação afegão, encerrados em 2021 em vexaminosa retirada. No Iraque (2003-11), embate mais violento, foi de 1 para 7.
O ministério também buscou afastar as críticas acerca do andamento da operação. Há consenso entre analistas ocidentais de que Putin não logrou uma derrota rápida como pretendia, além de ter cometido diversos erros táticos em solo.
“A operação segue como o previsto”, disse o porta-voz da Defesa, general Igor Konachenkov, em um comunicado. Ele afirmou que os objetivos da “primeira fase da operação militar” estão quase todos cumpridos, buscando enfatizar a ideia de que esta será uma guerra longa e de que o Kremlin não contava com uma capitulação imediata de Kiev.
A primeira parte da assertiva é verdadeira: tudo vem indicando que o conflito será prolongado, de atrito. A segunda, a realidade em solo não permite corroborar, ainda que seja impossível saber exatamente qual era o plano de Putin. Konachenkov disse que 93% do território histórico da província de Lugansk, por exemplo, foi retomado.
A situação nas autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, que controlam desde 2014 partes do leste ucraniano, foi uma das justificativas centrais da guerra. Putin as reconheceu três dias antes do ataque, recebeu um pedido de ajuda e foi às armas.
O teatro incluiu uma realidade, que era a vontade dos rebeldes pró-Rússia de ocupar toda a região que antes compreendia as províncias homônimas. Com a eventual queda de Mariupol, porto da antiga região de Donetsk sob cerco brutal dos russos, um corredor se estabelecerá do chamado Donbass à Crimeia, anexada por Putin em 2014.
Nesta sexta, o governo em Kiev admitiu “sucesso parcial” dos russos na empreitada, o que, dado o grau de propaganda nos anúncios dos militares ucranianos, pode significar um fim iminente para Mariupol. Defender tal trecho de terra, caso a guerra acabasse aí, é outra história: ela é relativamente estreita, o que sugere mais avanços russos a norte, contra as forças ucranianas que combatem os separatistas.
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