BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, corre o risco de ser substituído no próximo mês caso Jair Bolsonaro (PL) reforce o acordo com o centrão, grupo político que, pela reeleição do presidente, defende um nome mais flexível ao controle de preços dos combustíveis.
Em 2021, Bolsonaro demitiu o primeiro presidente da Petrobras sob sua gestão, Roberto Castello Branco, também em meio a uma crise sobre preços dos combustíveis. A expectativa de que Silva e Luna mudaria a política, porém, não se confirmou.
O general vem sofrendo desgaste ao preservar a independência da estatal de repassar aumento de custos ao mercado.
Assessores do presidente afirmam que ele chegou a pedir que Silva e Luna segurasse os preços. No entanto, Bolsonaro não sinalizou se haveria compensação.
Desde então, teve início um processo de fritura em várias frentes do governo.
Bolsonaro quer agora um nome que seja mais alinhado com o governo e defende Rodolfo Landim, que já fez parte do conselho da Petrobras e hoje preside o Flamengo.
O Planalto já anunciou que Landim será indicado ao conselho da petroleira, o que ocorrerá no próximo dia 13 de abril, data da assembleia geral de acionistas.
Silva e Luna precisa ser excluído do conselho pela assembleia para abrir caminho para a aprovação de Landim como novo presidente.
Há ainda outros candidatos ao posto. Nesta semana, o ministro da Economia, Paulo Guedes, passou a defender seu secretário especial Caio Paes de Andrade para o comando da Petrobras.
Guedes não gostou da proposta defendida pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque -e que tramita no Congresso-, de criar subsídios para conter a alta dos combustíveis.
Bento também mede forças com o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-RN), que, para agregar o apoio do centrão, quer indicar nomes para agências reguladoras ligadas ao Ministério de Minas e Energia (como ANP e Aneel), estatais elétricas, como Itaipu, e a Petrobras.
Partidos do centrão são a base de apoio do governo e devem encampar sua campanha pela reeleição.
Em defesa do general, uma tropa de choque de aliados tenta convencer Bolsonaro nesta semana de que é melhor não tirá-lo do posto.
Fazem parte desse time militares de alta patente ligados ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, tanto no exército quanto na Marinha, e que são próximos a Bolsonaro.
Assessores do Planalto afirmam que o presidente preferiu aguardar a evolução dos preços do petróleo e do câmbio para bater o martelo.
Contam a favor de Silva e Luna a expectativa do mercado de um possível desfecho para a guerra entre Rússia e Ucrânia, o que vem reduzindo o preço do petróleo. Apesar da sinalização de queda, os preços do barril tipo Brent continuam na casa de US$ 100.
Outro fator favorável ao general é a valorização recente do real ante o dólar, o que também colabora com a queda do preço dos combustíveis.
Por isso, reservadamente, muitos políticos -especialmente do Norte e Nordeste- procuraram Bolsonaro para defender Silva e Luna.
Para eles, sem os reajustes, represados há quase dois meses, haveria risco de desabastecimento com potencial de dano à popularidade do presidente.
O estatuto da Petrobras define que a companhia tem autonomia na sua política de preços. Existe a possibilidade de conter repasses, quando a variação da cotação do petróleo sofre uma disparada, mas, neste caso, a União deve ressarcir a companhia pelas perdas geradas no período de contenção dos reajustes.
Desde a pandemia, o preço dos combustíveis derivados do petróleo, como a gasolina, o diesel e o gás de cozinha, vem sofrendo alta porque os principais produtores reduziram sua atividade devido à retração do consumo. Com a retomada da demanda, não houve tempo hábil para que a oferta reagisse, o que fez com que os preços subissem.
A guerra entre Rússia e Ucrânia agravou esse cenário, uma vez que a região é uma produtora relevante da commodity.
No Brasil, a Petrobras não teve outra saída e implementou um mega-aumento dos preços depois de quase dois meses sem repassar a alta do insumo para os distribuidores.
O anúncio do reajuste de 19% sobre a gasolina nas refinarias e de 25% no diesel ocorreu antes da aprovação de um projeto no Congresso que uniformiza e reduz o ICMS (imposto estadual) sobre combustíveis. Isso gerou insatisfação de Bolsonaro.
Pessoas que participaram das discussões com o governo e a empresa afirmam que havia um “jogo combinado” de que o reajuste só ocorreria após a redução do ICMS. Com o repasse, em postos de locais mais afastados do país, como no Acre, o litro da gasolina chegou a R$ 11. O botijão de gás chegou a ser vendido a R$ 150.
Como o combustível é um dos itens que mais pesa no cálculo da inflação, a disparada de preços preocupa Bolsonaro, que teme perder popularidade em ano eleitoral.
O presidente passou a criticar publicamente a gestão de Silva e Luna, acusando-a de ser insensível ao sofrimento da população.
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