Carnaval privado em Salvador tem turistas e até Farol da Barra cenográfico

JOÃO PEDRO PITOMBO
SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – O cantor Durval Lelys empunhou sua guitarra no centro do palco e, de pronto, os foliões levantaram os braços para o alto. Mas não foi para a coreografia da “Dança da Manivela”: eles erguiam seus telefones celulares para fotos e vídeos que logo seriam postados em redes sociais na internet.

Um público de cerca de 1.500 pessoas tomou a área externa do Clube Espanhol neste sábado (26) para uma espécie de simulacro de Carnaval, festa suspensa pelo segundo ano consecutivo em Salvador por causa da pandemia da Covid-19.
O Baile Barra-Ondina, realizado em um dos clubes mais tradicionais da capital baiana e com ingressos de até R$ 400, teve ares de camarote: grupos ao redor de pequenas mesas com bebidas mergulhadas em baldes de gelo, mulheres de salto alto, homens vestindo calça, nenhuma fantasia e raros adereços.

Não fosse o axé music de Durval Lelys e de Tuca Fernandes, que comandaram o primeiro dia do baile, nada faria lembrar a festa que em condições normais aconteceria naquela mesma avenida. No fundo do espaço do shows, um Farol da Barra cenográfico completava o cenário.
O público, restrito a 1.500 pessoas por causa do decreto estadual da pandemia, era formado sobretudo por turistas que vieram de estados como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Piauí e Rio Grande do Norte.

O comerciante Fábio Garcia, 34, veio de Minas para passar o Carnaval em Salvador pela primeira vez. Mesmo sem a festa na rua, disse que não se arrependeu: “Queria um esquema mais tranquilo mesmo, está sendo ótimo”.

A administradora Juliana Sobrinho, por outro lado, era uma veterana. Desde 2012, a carioca de 38 anos vem para Salvador em todos os Carnavais e quase sempre desfila no bloco “Me Abraça”, comandado por Durval Lelys.

Confiante de que o Carnaval aconteceria depois da queda de casos de Covid-19 no segundo semestre do ano passado, ela já havia comprado a passagem e a hospedagem para vir para Salvador.

Mesmo com o cancelamento da festa, oficializado em dezembro, ela decidiu manter a programação e vir para Salvador. Quando soube do baile com Durval Lelys, comprou o ingresso: “A festa foi uma surpresa, eu pensei que não fosse ter nada”.

O casal Nilton Araújo, 29, e Otília Rodrigues, 30, que veio de São Raimundo Nonato (PI), viveu a mesma situação: já havia comprado as passagens para vir para Salvador quando a festa foi cancelada. Não só mantiveram a viagem como já compraram ingressos de um camarote para o Carnaval de 2023.

No palco, Durval Lelys enfileirava seus sucessos e relembrava antigos Carnavais: “A essas hora a gente estava ligando as turbinas”, disse o cantor, antes de emendar com “Me Abraça, Me Beija”, música que se tornou uma espécie de tema informal de seu bloco.

Tuca Fernandes subiu no palco na sequência e, com voz e violão, abriu o show com “Baianidade Nagô”, música de Evandro Rodrigues, sucesso da Bamdamel e um dos hinos do Carnaval de Salvador.
Em conversa com a Folha, Tuca Fernandes defendeu o modelo de festas privadas como um paliativo frente à suspensão do Carnaval: “Foi uma solução para que a gente não passasse em branco de novo como foi ano passado”.

O cantor ainda disse que o cancelamento do Carnaval de rua, que reúne centenas de milhares de pessoas, foi uma decisão acertada. E destacou a importância do controle das medidas sanitárias.

Assim como outras festas de Carnaval privadas em Salvador, o Baile Barra-Ondina exigiu o passaporte com comprovação de ao menos duas doses da vacina contra a Covid-19 para quem fosse entrar na festa.

Do lado de dentro, contudo, as regras sanitárias iam aos poucos sendo deixadas de lado. Tão logo os foliões entravam, as máscaras de proteção saíam dos rostos e eram presas nos braços ou iam para os bolsos. Quando começou o show, quase 100% do público estava sem o equipamento de proteção.

Em meio ao público, ao menos dois casais permaneceram usando o equipamento de proteção conforme as regras sanitárias. Outra foliã que também manteve a máscara devidamente enfeitada com lantejoulas coloridas.

Do lado de fora da festa, dois homens com colares havaianos bebiam cerveja sem a intenção de pagar por um ingresso. Meia dúzia de ambulantes permaneciam aguardando a chegada de novos foliões e um cambista solitário tentava, sem sucesso, vender um ingresso por R$ 350.

Não havia trios elétricos nem multidões que nesta época do ano tomariam cada centímetro do circuito entre a Barra e Ondina. A avenida Oceânica permanecia como nos demais dias do ano: escura e com um silêncio que só era rompido pelo vaivém de carros e pelos pedestres que se exercitavam no calçadão.

O Baile Barra-Ondina segue neste domingo (27) e segunda-feira (28), com shows de artistas como Bell Marques, Rafa e Pipo Marques e Pedro Sampaio.

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