GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) – Com motivações que, a princípio, pareceram mais econômicas do que sanitárias, o governo da Suécia aboliu a política de testagem em larga escala para detecção do coronavírus. A partir desta quarta-feira (9), os testes de antígeno serão deixados de lado, e os RT-PCR, disponibilizados somente para profissionais de saúde, idosos e pessoas em vulnerabilidade que apresentarem sintomas de Covid.
“Se fizermos testes em todos que têm Covid, isso significaria 500 milhões de coroas suecas [R$ 289 milhões] por semana e 2 bilhões por mês”, justificou a diretora da Agência Sueca de Saúde Pública, Karin Tegmark Wisell, em entrevista à SVT, empresa pública de comunicação.
A microbiologista argumentou que a relação custo-benefício dos testes já não se sustenta. Com a variante ômicron, que multiplicou o número de infecções -a média móvel sueca foi de 24,3 mil nesta terça (8), ante 2.200 registrado há dois meses–, testar a população em massa só escalaria, na visão do governo, o gasto público que até aqui chega a 21,5 bilhões de coroas suecas (R$ 12,4 bi).
Assim, aqueles que apresentarem sintomas de Covid mas não estão nos grupos prioritários de testagem são aconselhados a fazer isolamento. Testes de antígeno são vendidos em farmácias. O problema é que seus resultados não são notificados às autoridades, o que pode, ao longo dos meses, levar à subnotificação da pandemia na Suécia, mesmo não se tratando de um país com desafios para adquirir testes.
Também nesta quarta, as poucas restrições que restavam no país escandinavo foram abolidas. Reuniões públicas e privadas, bem como restaurantes e festas não contam mais com limite de participantes, requisitos de distanciamento ou necessidade de apresentar o certificado de vacinação. A agência local de saúde afirma que a alta cobertura de vacinação, combinada com a variante ômicron, que causa menos casos graves, “reduz a carga necessária de cuidados de saúde”.
Ainda que a ômicron tenha alavancado as infecções, o número de óbitos em decorrência da Covid na Suécia não chegou a bater níveis como os observados em janeiro do ano passado, com recorde de 140 mortes diárias. A média móvel de óbitos foi de 40 nesta terça. Há dois meses, a cifra de média diária de mortos girava em torno de 3.
Mais de 74% da população do país completou o primeiro esquema vacinal, e 43% receberam a terceira dose do imunizante contra a Covid, segundo dados do Our World in Data, cifras que projetam no governo a esperança de criar uma rede de imunidade.
Durante a crise sanitária, a Suécia já se viu forçada a admitir que errou nas medidas adotadas. A estratégia de enfrentamento à pandemia usada no país foi lenta e insuficiente para limitar a propagação das infecções e esteve abaixo do esperado, avaliou, em outubro, uma comissão independente nomeada pelo próprio governo nacional.
Considerado uma exceção europeia nas medidas implementadas para controlar o avanço do vírus, o país nórdico não estabeleceu políticas nacionais de lockdown nem a obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes fechados ou abertos, posturas que foram abordadas no relatório de dois volumes disponibilizado pela comissão à época.
O país seguiu na contramão da Europa, desta vez em episódio mais recente, quando a Agência de Saúde Pública local afirmou não recomendar a imunização de crianças com idade de 5 a 11 anos, ainda que tenha aprovado a aplicação da vacina contra Covid para essa faixa etária.
As restrições de entrada no país também foram parcialmente abolidas a partir desta quarta. Podem viajar para a Suécia cidadãos dos países nórdicos (Dinamarca, Islândia, Noruega e Finlândia) e da União Europeia (UE). Viajantes provenientes de outros países, porém, seguem sujeitos à proibição de entrada até 31 de março.
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