Ocupação de leitos para Covid cresce 561% no Amazonas

MANAUS, AM (FOLHAPRESS) – A explosão de casos de Covid-19 no Amazonas elevou o número de internados em leitos de enfermaria e de UTI e também as hospitalizações nos sistemas de saúde pública e privada.

O número de leitos de UTI ocupados por pacientes com Covid-19 mais que dobrou em Manaus neste início de ano. Em 1º de janeiro, eram 23 pacientes internados em estado grave, número que saltou para 73 nesta segunda-feira (17).

No estado, os leitos de enfermaria, com 271 internados por Covid-19, também pressionam o sistema de saúde. A ocupação nesta segunda era 561% maior que a registrada em 1º de janeiro, quando havia 41 pessoas hospitalizadas.

A maior pressão se deu sobre os leitos clínicos infantis. O número de crianças internadas subiu de três em 1º de janeiro para 40 nesta segunda. O percentual de ocupação deste tipo de leito atingiu 80%.

A ocupação de leitos clínicos infantis atual no Amazonas supera a registrada na véspera do segundo colapso do sistema de saúde. Dez dias antes do sistema de saúde colapsar com falta de oxigênio, em 14 de janeiro de 2021, o Amazonas tinha 20 crianças internadas, entre leitos clínicos e sala vermelha (criada para espera por UTI).

Na UPA Campos Sales, zona oeste de Manaus, crianças esperavam pelo atendimento junto com adultos nesta segunda, algumas sentadas em calçadas externas da UPA com o semblante abatido.

A filha de nove anos de Erlane Lopes da Silva, 31, apresentava sintomas de gripe e havia piorado com febre, enjoo e dor na barriga. Estava sem se alimentar o dia inteiro. Mãe e filha aguardavam havia cerca de uma hora pela testagem e atendimento.

Um funcionário da UPA informou que os testes acabaram desde sábado (15). Ele também informou que a UPA, ao contrário de janeiro do ano passado, não tinha nem um paciente internado.
De acordo com os dados divulgados nos boletins diários da FVS (Fundação de Vigilância Sanitária do Amazonas), desde que os casos de Covid aumentaram, as redes pública e privada abriram novos leitos clínicos e de UTI. Em 17 dias, as UTIs foram ampliadas de 83 para 112.

Já os leitos clínicos mais que dobraram em 17 dias. Eram 134 no dia 1º de janeiro, número que saltou para 330 leitos nesta segunda.

A abertura de novos leitos foi a estratégia de enfrentamento à pandemia executada nos meses anteriores ao segundo colapso do sistema de saúde do Amazonas, em janeiro do ano passado.

Na ocasião, contudo, a circulação descontrolada de pessoas num período de aceleração da doença e o surgimento de uma nova variante em Manaus tornaram a oferta de leitos insuficiente, resultando em mortes por desassistência e desabastecimento de oxigênio no estado.

Os boletins epidemiológicos do governo do Amazonas apontam que entre os dias 31 de dezembro de 2021 e 12 de janeiro de 2022, houve um “acelerado aumento” de 700% na média diária de casos de Covid-19.

Neste sábado (15), o Governo do Amazonas mudou da fase amarela, de baixo risco de contágio, para a fase laranja, de risco moderado de contágio. O epidemiologista Jesen Orellana, da Fiocruz Amazonas, afirma que a nova classificação de risco do estado é extemporânea e subestima a gravidade do quadro epidemiológico.

“Esse padrão de crescimento exponencial, fatalmente, remete aos críticos momentos da segunda quinzena de dezembro 2020, antessala do caos e das mortes por asfixia semanas depois. Portanto, não seria exagero classificar a situação sanitária como de alto risco”, diz.

A Fundação de Vigilância Sanitária do Amazonas destaca que, além do número de infectados outros parâmetros são levados em consideração para reclassificar a escala de risco epidemiológico no estado.

Os dados do governo do Amazonas apontam que os não vacinados são maioria entre os internados, mas os vacinados com duas doses também ocupam leitos neste momento.

Cerca de 50% dos internados em UTI e 53,8% dos que ocupam leitos clínicos não tomaram nenhuma dose de vacina. A maior chance de o quadro agravar entre não vacinados preocupa.

Ao menos 33% do total da população do Amazonas não tomou nenhuma dose da vacina contra a Covid-19. Ainda há outras 630 mil pessoas com segunda dose fora do prazo e 756 pessoas com a terceira dose fora do prazo no Amazonas.

A dona de casa Morezata Garcia, 33, que não tomou nenhuma dose da vacina, estava nesta segunda, com uma máscara de pano, esperando atendimento para a filha de 11 meses na UPA Campos Sales, lotada de pessoas com sintomas de gripe e Covid-19.

Ela balançava a criança no colo enquanto a menina chorava. Segundo a dona de casa, a menina estava com febre e aguardava havia mais de uma hora para ser avaliada pelo médico. Ao ser questionada sobre vacinas, disse não ser a favor da vacinação de crianças em função de notícias “sobre os riscos”.

A vacinação de crianças foi liberada pela Anvisa e é recomendada por pediatras e infectologistas.

O aumento de casos da Covid-19 e da influenza também gerou baixas no sistema de saúde. O Sindicato dos Técnicos de Enfermagem e Enfermeiros do Estado do Amazonas estima que 2.000 funcionários estão afastados em função de doenças respiratórias.

A Folha solicitou ao Governo do Amazonas o número de médicos afastados por Covid e gripe, mas na resposta encaminhada à reportagem não houve indicação do número.

O secretário de Saúde do Amazonas, Anoar Samad, anunciou um chamamento de profissionais para área de saúde para contratação imediata e temporária após aumento de servidores infectados.

Uma funcionária de um SPA (serviço de pronto-atendimento) da zona leste afirmou que, no final de semana, a testagem para Covid-19 foi suspensa no meio do plantão porque não havia funcionários para substituir os que estavam com atestado médico.

No SPA do Alvorada, na zona centro-sul de Manaus, onde as filas do lado de fora da unidade têm sido frequentes, funcionários relatam afastamento de pessoas que atuam no raio-X, cozinha, enfermeiros, entre outros.

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