Primeiro, calma: 2020 já acabou definitivamente.
E todos os anos é assim, entre brindes, desejos e passas, um ano ‘acaba’ e outro tem ‘início’.
Trata-se, conforme explica um artigo publicado pela BBCNews Mundo, do último dia do calendário gregoriano, o convencional de 365 dias (mais um nos anos bissextos, como 2020) que rege o Ocidente desde 1582, altura em que o calendário juliano deixou de ser utilizado.
“O que tradicionalmente entendemos por ano, tanto em astronomia quanto em muitas culturas, é o tempo que o planeta leva para girar em torno do Sol”, diz à BBC News Mundo o astrônomo e acadêmico Eduard Larrañaga, do Observatório Astronômico Nacional da Universidade Nacional da Colômbia.
Todavia, segundo o especialista, a data em que um ano começa e termina não se baseia na ciência, é, afinal e simplesmente, uma convenção, ou seja, um sistema de certo modo ‘inventado’.
“Partir do pressuposto de que o ano termina à meia-noite do dia 31 de dezembro e começa no dia 1 de janeiro é uma construção social, uma definição que foi feita num momento da história”, contaLarrañaga.
De acordo com o astrônomo, visto que a base para medir um ano é o tempo que a Terra demora a dar a volta no Sol, contar quando esse ciclo se inicia e finaliza pode suceder, na prática, a qualquer momento.
“Do ponto de vista astronômico, nada de especial acontece no dia 31 de dezembro para dizer que é aqui que termina o ano, tampouco nada de especial acontece no dia 1 de janeiro para dizer que é quando começa”, elucida.
“Na realidade, em toda a órbita da Terra não há nada de especial ou fora do comum que aconteça para marcar a mudança de um ano”.
Mas, caro leitor há mais… isto porque a duração exata de 365 dias do ano (ou 366, nos bissextos) não passa de outra convenção social.
“Na verdade, há muitas formas de medir a duração de um ano”, diz Larrañaga. E, conforme refere, dependendo do modo usado, a duração não é igual.
A duração do ano, uma definição complexa
Desde a sua introdução pelo imperador Júlio César, em 46 a.C., o calendário juliano foi utilizado para contar a passagem dos anos até ao fim do século XVI.
Mas, na Idade Média, vários astrônomos detectaram que esse método de quantificar o tempo resultava num erro cumulativo de cerca de 11 minutos e 14 segundos a cada ano.
Consequentemente, em 1582, o Papa Gregório 13 fez a reforma do calendário que usamos ainda hoje, realizando ajustes para aperfeiçoar o modelo introduzido por Júlio César, que já previa os anos bissextos.
Sendo que uma das modificações implementadas para resolver a situação do excedente acumulado consistiu em deixar de tornar um ano bissexto aquele que fosse divisível por 100, mas não por 400. Exemplificando, 2000 e 1600 foram anos bissextos, mas 1700 e 1900 não.
Adicionalmente, Larrañaga explica à BBCMundo que, tendo em conta a astronomia, que é a base para a definição do que é um ano, não há de facto uma unidade de medida única, e sim pelo menos quatro para contar o tempo que a Terra demora a dar uma volta em torno do Sol, nomeadamente:
– Ano ou calendário juliano: “É uma convenção e é usada na astronomia como uma unidade de medida em que se considera que a Terra dá a volta no Sol em 365,25 dias”.
– Ano sideral: “É o tempo que a Terra leva para dar uma volta no Sol em relação a um sistema de referência fixo. Neste caso, um grupo de estrelas é usado como referência, e esse ano tem uma duração de 365,25636 dias” .
– Ano trópico: “Leva em consideração a longitude eclíptica do Sol, ou seja, o ângulo do Sol no céu em relação à Terra ao longo do ano, principalmente nos equinócios. E dura um pouco menos que o ano sideral, 365,242189 dias”.
– Ano anomalístico: “A Terra, assim como os outros planetas, se move em elipse. Essa elipse faz com que, em algumas ocasiões, o Sol esteja mais perto e mais distante da Terra. Mas há um ponto em que ambos estão o mais perto possível, chamado periélio. E o ano anomalístico é o tempo decorrido entre duas passagens consecutivas da Terra por seu periélio. Dura 365,2596 dias”.
Larrañaga aponta que todos são perto de 365 dias, porém pressupor que este é o tempo rigoroso da duração de um ano é uma simplificação.
E não tem em conta outro fator. “Há uma outra questão. É que, embora tenhamos esses cálculos, nem todos os anos duram o mesmo, não têm a mesma duração todas as vezes”, salienta.
“É como um peão que balança”
Além dos fatos já mencionados, o problema adensasse. O especialista menciona ainda que apesar dos astrônomos terem tentado calcular com exatidãono decorrer dos séculos o tempo que o nosso planeta leva a dar uma volta ao Sol, há uma questão básica que os inibe de alcançar um númerodefinitivo.
“É preciso levar em conta que a duração dos anos nunca é a mesma porque tudo muda no sistema solar. Veja o caso do ano anomalístico: enquanto a Terra gira em torno do Sol, o periélio muda como resultado da ação gravitacional de outros planetas, como Júpiter”, conta.
O acadêmico explica que algo parecido sucede com o ano trópico, que mede o intervalo de tempo entre duas passagens consecutivas do Sol pelo Ponto de Carneiro ou equinócio de primavera, ou com o sideral.
“O ano trópico também muda, uma vez que depende do eixo da Terra, que é torcido. É como um pião que balança. Então a data e a hora do equinócio também são diferentes”, afirma.
“E se compararmos quanto tempo durou o ano sideral em 2020 com quanto tempo durou em 1300, certamente notaremos uma diferença. Seria sempre em torno de 365 dias, mas não seria exatamente a mesma duração, porque o movimento da Terra nem sempre é o mesmo”, concluiLarrañaga.
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