PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – A onda de calor em meio a estiagem no Rio Grande do Sul tem levado os termômetros do estado a máximas acima dos 40ºC desde a quarta-feira (12), segundo registros de estações do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
Em Quaraí, na fronteira com o Uruguai, temperatura máxima registrada foi de 41,5ºC na quarta, segundo registro do instituto, a maior do estado em 2022 até o momento. Esta é também a maior temperatura já registrada na estação automática, desde que a mesma foi instalada, em 2007.
Nesta quinta-feira (13), o município voltou a registrar máxima acima de 40ºC, chegando a 41,2ºC. Em Uruguaiana, na região da Fronteira Oeste, onde a temperatura chegou a 41,1ºC no dia anterior, a máxima foi de 41ºC nesta quinta. Em Porto Alegre, ela chegou a 34,8ºC.
A previsão no Rio Grande do Sul é de temperaturas ainda mais elevadas nos próximos dias, que podem levar a registros recordes.
O calor extremo é resultado de um bloqueio atmosférico, sistema de alta pressão –instalado na região que pega parte da Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil– que mantém o ar seco há vários dias consecutivos e impede a entrada de frentes frias, explica Daniela Freitas, meteorologista da empresa Climatempo.
“Funciona como se fosse uma tampa que impede que as frentes frias ou mesmo sistemas de baixa pressão consigam avançar. Como se fosse uma barreira. A gente sabe que para ter esse refresco na temperatura precisa ter chuva. O que está acontecendo é que estamos com ar muito seco instalado naquela região há vários dias, por isso vem ganhando força e a temperatura está subindo”, diz ela.
Depois do fim de semana, porém, a previsão é que haja uma quebra nesse padrão de bloqueio, trazendo assim chuvas a região já na próxima semana e fazendo com que o calor perca força.
Estael Sias, meteorologista da empresa MetSul, lembra que a temperatura mais alta registrada no estado em mais de cem anos de medições foi de 42,6ºC. A marca foi registrada em Jaguarão, na fronteira com o Uruguai, em janeiro de 1943.
Termômetros batendo nos 40ºC não são comuns no Rio Grande do Sul –a análise leva em consideração números das estações oficiais do Inmet.
“A gente está dentro de um período de estiagem severa no Rio Grande do Sul, longo, de baixa umidade no solo, na atmosfera, nível dos rios muito baixos, é normal ocorrer picos de calor, justamente pelo tempo mais firme, ainda mais no período de verão, em que temos muitas horas de luminosidade”, explica.
“Tudo isso favorece essas ondas de calor extremo. Pelos dados históricos, os anos mais quentes no RS, com temperaturas mais altas, 1917 e 1943, também tiveram estiagem severa”, completa.
Um cálculo da FecoAgro-RS (Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul) aponta que as perdas financeiras aos produtores de milho e soja, devido à falta de chuvas, podem passar de R$ 19 bilhões.
Até o dia 7 de janeiro, 195 mil propriedades rurais já haviam sido atingidas com perdas devido à seca, segundo dados da Emater-RS. O levantamento aponta ainda 10,2 mil famílias sem acesso à água, 84,7 mil produtores de milho atingidos e 72 mil produtores de soja, além da queda de 1,6 milhão de litros de leite captados ao dia no estado.
Em Santa Catarina, o Epagri/Ciram emitiu aviso de forte calor no extremo oeste e oeste do estado, válido entre o meio-dia desta quinta e às 18h de sábado. A previsão fala em forte calor, com máximas acima de 35ºC e umidade relativa do ar entre 30% e 40%.
Até esta quarta-feira, a máxima diária do estado em 2022 foi de 38,2ºC, alcançada no dia 2 de janeiro, na cidade de Urussanga.
O recorde absoluto de máximas na região sul do país foi registrado em Santa Catarina, com a marca de 44,6ºC registrada em Orleans, em 1963, segundo dados do Inmet.
Em meio ao calor extremo na região, áreas altas do estado, como São Joaquim, que costuma registrar as temperaturas mais baixas do país, chegaram a amanhecer com geada na última quarta-feira, de acordo com a MetSul. O fenômeno se dá pela baixa umidade do ar.
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