SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mesmo fora das estações consideradas críticas, como o outono e inverno, não só os adultos, mas também as crianças estão sofrendo com problemas respiratórios.
Hospitais da cidade de São Paulo tiveram aumento na procura por atendimento médico em razão de gripes, resfriados e dor de garganta, e consequentemente a espera nos seus prontos-socorros também cresceu.
O principal culpado pela alta nos casos de viroses foi a volta ao convívio social após o longo período de confinamento provocado pela pandemia de Covid-19.
A posição da Sociedade de Pediatria de São Paulo é que o retorno às aulas presenciais deveria ter ocorrido em agosto de 2020.
“As crianças não eram grandes espalhadoras do coronavírus”, afirma Fausto Flor Carvalho, pediatra e presidente do Departamento de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
“As crianças foram as primeiras a serem isoladas em casa e as últimas a saírem. Assim, o sistema imunológico fica um pouco aquém daquilo que era. No isolamento, a exposição a vírus e bactérias foi reduzida, e o sistema imunológico ficou mais fácil de ser atacado. Essa é a principal questão”, diz o médico.
A mudança climática é outro fator. Na avaliação de Carvalho, a primavera está atípica, com mais dias frios.
“O ar está muito seco no meio da tarde e com mudanças de temperatura no começo da manhã e no final da noite. Essa combinação de ar seco durante a tarde com o mais úmido e a oscilação e amplitude térmica têm contribuído para as crianças terem quadros respiratórios. A mucosa nasal fica mais ressecada e sensível, o que contribui para as crianças ficarem doentes”, afirma ele.
O Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, na Bela Vista, região central, registrou em novembro maior número de atendimentos de crianças com doenças respiratórias. Foram casos de bronquiolite causados pelo vírus sincicial respiratório. No mês, houve 150 atendimentos contra 60 no mesmo período de 2020, alta de 150%.
Há pelo menos três semanas, o Sabará Hospital Infantil, na Consolação, região central, mantém em seu portal um aviso sobre o aumento expressivo do número de atendimentos. Fica difícil até estimar o tempo de espera no pronto-socorro, de acordo com o informado.
Francisco Ivanildo de Oliveira Junior, infectologista e gerente de qualidade do local, explica que há uma mistura de vírus em circulação e a alta se refere predominantemente a causas respiratórias não ligadas a Covid-19.
Embora o Hospital Sírio-Libanês tenha observado um crescimento no número de pacientes com sintomas respiratórios, o movimento continua abaixo do observado nos dias e horários de pico pré-pandemia.
Apesar de a Secretaria Estadual da Saúde ter afirmado em nota que o Hospital Infantil Cândido Fontoura, na Mooca, na zona leste, registrou queda desde setembro no atendimento a casos respiratórios, funcionários afirmaram ao contrário. Sem se identificar, a Folha esteve no local no dia 2 de dezembro e conversou com dois deles.
Na tarde daquele dia, o tempo de espera para atendimento no pronto-socorro estava em três horas, situação que se repetia havia dias, de acordo com um dos funcionários. Em algumas ocasiões, à noite a espera chegava a cinco horas -na maior parte casos de gripe, febre e dor de garganta.
No Hospital Infantil Darcy Vargas, no Morumbi, na zona sul, houve um aumento nos atendimentos de doenças respiratórias somente entre julho e agosto, mas dentro do esperado por conta da época do ano.
“No momento, a unidade não registra anormalidade nos atendimentos, devido ao seu perfil assistencial, que é voltado é referência em atendimento pediátrico de alta complexidade”, diz trecho da nota enviada pela secretaria.
A Beneficência Portuguesa de São Paulo e o Hospital São Luiz, da Rede D’Or, não responderam aos questionamentos do jornal.
Fora da capital As ocorrências de viroses respiratórias em crianças não é exclusividade da capital paulista.
Segundo Carvalho, em algumas cidades do interior paulista -como Itaí, Avaré, Bauru, Marília e Campinas-, os pequenos representam 80% do movimento nos prontos-socorros.
Os especialistas explicaram que os quadros respiratórios estão sendo causados pela circulação do adenovírus, coxsackievirus -conhecido como doença mão-pé-boca-, rinovírus, bocavírus, parainfluenza 3, vírus sincicial respiratório, que em crianças pequenas causa bronquiolite, mas nas maiores e nos adultos provoca resfriado, além do influenza, que não é o predominante.
Os pais devem manter os ambientes ventilados naturalmente, manter o uso de máscaras, a lavagem correta das mãos, além de adotar alguns cuidados para fortalecer a imunidade: exposição ao sol nos horários adequados, consumo de frutas, legumes e verduras, adequação nas proporções de carnes, frango e peixes, cuidado com o uso abusivo do leite e evitar os alimentos industrializados.
“A expectativa é que a gente comece 2022 melhor e sem tantos quadros respiratórios. Os pais não precisam ficar alarmados em excesso, porque essa fase difícil vai passar em pouco tempo.”
É importante lembrar que a vacina contra o vírus influenza pode ser tomada gratuitamente nos postos de saúde a partir dos seis meses de idade. O imunizante protege contra a gripe e evita complicações.
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