SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Há quase uma semana, a rotina da paulista Karen Rozembrá, 35, é entrar em sites de hospedagem na África do Sul atrás de opções minimamente decentes e com custo modesto.
“Já passei por três lugares diferentes desde sábado [27], alguns sujos e não muito seguros”, diz ela, que não consegue voltar ao Brasil em razão das restrições impostas pela descoberta da variante ômicron do vírus causador da Covid-19.
O sequenciamento da nova cepa, anunciada por cientistas sul-africanos na quinta-feira (25), teve como efeito quase imediato o fechamento de grande parte do mundo a voos originados da África do Sul e países vizinhos.
Moradora de Cotia (SP), Rozembrá fez intercâmbio de inglês na Cidade do Cabo durante um mês, e no sábado (27) dirigiu-se ao aeroporto para voltar ao Brasil, num voo com conexão em Dubai.
Estava com o teste de Covid negativo e relativamente tranquila, porque o fechamento do Brasil aos voos sul-africanos ocorreria apenas a partir da segunda (29). Chegando no check-in, contudo, recebeu a informação de que o voo estava cancelado, por decisão das autoridades do emirado do Oriente Médio.
“A companhia aérea [Emirates] deu uma explicação muito vaga, disseram apenas que precisaram cancelar por determinação sanitária. Ficamos sem saber o que fazer”, disse ela.
Segundo Rozembrá, cerca de dez brasileiros que fizeram o mesmo curso ficaram na mesma situação.
“Eu me programei para ficar um mês. Quando acabou o intercâmbio, acabou a acomodação, o seguro saúde, acabou tudo. A companhia disse que não oferecia nada porque não era culpa dela”, diz.
Ela tem dividido acomodação com outra brasileira na mesma situação. Gasta em média o equivalente a R$ 120 por noite em um quarto simples, mais despesas com acomodação e deslocamento.
Calcula que o prejuízo já passou de R$ 800, dinheiro que vem sendo drenado de suas economias no Brasil.
A paulista afirma que algumas poucas companhias aéreas estão operando desde o aeroporto da Cidade do Cabo, mas com passagens a preços exorbitantes, que chegam a R$ 10 mil apenas por um trecho de ida para São Paulo, com conexão na Europa ou África.
Ela diz que não tem condição de pagar essa quantia. Um mês antes de iniciar o intercâmbio, Rozembrá foi demitida de uma empresa farmacêutica onde trabalhava no setor de recursos humanos. Mesmo assim, manteve a viagem, que já estava paga.
Os brasileiros retidos estão em contato com o consulado do país na Cidade do Cabo, que tem tentado ajudar recomendando opções baratas de acomodação.
Rozembrá pediu auxílio financeiro ao governo, e para isso precisou mostrar extratos bancários seus e de seus pais, para demonstrar que não tem condições financeiras de se manter por muito tempo. Por enquanto, não houve resposta do governo ao pedido de ajuda, no entanto.
Ela diz que a única possibilidade de resolver a situação é o envio de um avião do governo brasileiro para resgatá-la e a outros na mesma condição.
“Precisamos de um voo de repatriacão o quanto antes. Não temos possibilidade de esperar até essa situação se resolver”, afirma.
A falta de perspectiva é frustrante, diz ela, que programou a viagem como uma forma de investir no crescimento profissional. “Planejei esse intercâmbio por mais um ano, fiz tudo certinho, paguei a passagem. E agora na hora de voltar cancelam meu voo e fico aqui nesse beco sem saída”, diz.
O Itamaraty afirmou que as embaixadas nos países africanos afetados pelas restrições de voos estão “acompanhando atentamente a situação dos brasileiros impossibilitados de viajar, prestando-lhes toda a assistência consular cabível”.
Segundo o ministério, até o momento houve registro de 325 pedidos de assistência, concentrados, sobretudo, na África do Sul.
“Os postos no exterior estão realizando gestões junto às companhias aéreas que atuam na região, com vistas a que os brasileiros possam embarcar, que haja voos ao Brasil, ou que rotas alternativas sejam encontradas”, disse a pasta.
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