Afegã famosa por capa da National Geographic se torna refugiada na Itália

BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Entre os milhares de afegãos que deixaram o país após a retomada do poder pelo Talibã está uma cidadã que ficou conhecida mundialmente há quase 40 anos ao se tornar símbolo de outra crise migratória na Ásia Central.

A Itália divulgou nesta quinta-feira (25) que deu refúgio a Sharbat Gula, 49, afegã que aos 12 anos foi capa de uma edição da revista National Geographic, ilustrando uma reportagem sobre refugiados que cruzavam a fronteira com o Paquistão em meio à guerra desencadeada pela invasão soviética no Afeganistão.

Gula viajou ao país europeu como parte da evacuação liderada por países ocidentais após a tomada do poder pelo Talibã, em agosto. A mudança, de acordo com a agência Associated Press, foi organizada por organizações sem fins lucrativos que atuavam no Afeganistão.

De acordo com o gabinete do primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, a afegã pediu ajuda para deixar o país de origem e agora terá suporte dos italianos para se integrar à nova casa. Em comunicado, o premiê disse que a fotografia de Gula passou a “simbolizar as vicissitudes e o conflito do capítulo da história que o Afeganistão e seu povo estavam passando na época”.

“O governo propiciou e organizou sua transferência para a Itália, no contexto mais amplo de um programa de evacuação de cidadãos afegãos”, afirma o texto.

Na foto de Steve McCurry para a National Geographic destacavam-se os olhos brilhantes e verdes da garota, com semblante sério e véu vermelho sobre os cabelos pretos.

Em 2002, McCurry voltou a encontrar a garota, e o momento deu origem ao documentário “Os olhos de Sharbat Gula”, transmitido pela National Geographic.

A reunião se deu na região montanhosa afegã de Tora Bora, quase na fronteira com o Paquistão -Gula havia deixado o campo de refugiados muitos anos antes. O programa acompanhou a empreitada de localizá-la e comprovar sua identidade, em um esforço que incluiu técnicas de reconhecimento facial do FBI, a polícia federal americana.

Anos mais tarde, em 2014, Gula voltou a ser foco da imprensa internacional depois que ter sido presa no Paquistão, acusada de comprar uma carteira de identidade falsa. Ela se escondeu depois do episódio, mas em 2016 seu paradeiro foi descoberto e ela acabou deportada para o Afeganistão. Ao chegar ao país natal, foi recebida pelo então presidente, que lhe entregou as chaves de um novo apartamento.

Na época, o governo paquistanês pressionava o vizinho a aceitar de volta cerca de 2,5 milhões de afegãos que se mudaram fugindo da invasão da União Soviética e, posteriormente, do regime extremista do Talibã, que ocupou o poder de 1996 até 2001.

No ano da deportação, os EUA já tinham consolidado sua intervenção militar no país e viam uma retomada na violência devido à insurgência dos talibãs.

Em 2017, a rede britânica BBC publicou uma entrevista com Gula -a primeira dada por ela desde 2002. À época ela morava em Cabul com seus quatro filhos (três meninas e um menino) e contou que o marido e uma filha de 22 anos haviam morrido de hepatite C, em Peshawar, no Paquistão.

O Afeganistão que ela deixou neste ano voltou a ser tumultuado por conflitos e extremismos. Desde que o Talibã retomou o poder em agosto e os EUA retiraram suas tropas do país, mulheres afegãs já foram proibidas de praticar esportes e voltaram a ter restrições para estudar. No último domingo, o regime anunciou diretrizes para a mídia que determinam que emissoras de TV estão proibidas de transmitir filmes, séries e novelas com atrizes.

O país tem sofrido também com ataques terroristas nas principais cidades do país, muitos reivindicados pelo braço local do Estado Islâmico, rival do Talibã.

No último dia 13, seis pessoas morreram após uma bomba explodir em um micro-ônibus na área de Dasht-e-Barchi, povoada pela minoria étnica xiita hazara. Foi ao menos o sexto incidente do tipo em 40 dias.

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