BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) – Ao menos 31 imigrantes morreram ao tentar cruzar o Canal da Mancha nesta quarta-feira (24) em direção ao Reino Unido, segundo o Ministério do Interior da França.
Entre os mortos estão cinco mulheres e uma criança; outras duas pessoas foram resgatadas com vida. Em entrevista coletiva, o ministro Gérald Darmanin afirmou que ao menos uma pessoa continuava desaparecida. As buscas continuariam nesta noite.
O naufrágio, que aconteceu perto da costa francesa, entre Calais e Dunquerque, é o maior desastre desse tipo na região desde 2014, quando a Organização Internacional passou a coletar dados do canal.
Quadrilhas passaram a usar a rota marítima depois que os governos apertaram a fiscalização sobre caminhões, nos quais os imigrantes eram escondidos. Em alta desde 2018, as travessias em botes explodiram neste ano, causando atritos entre França e Reino Unido.
O premiê britânico, Boris Johnson, cuja política para refugiados é criticada por ativistas, convocou uma reunião do comitê de emergência para discutir o caso na noite desta quarta.
“O desastre mostra o quão perigoso é fazer essa travessia”, disse ele em entrevista à rede BBC, depois de se declarar “triste e chocado”. Boris afirmou que o Reino Unido não deixaria “pedra sobre pedra” para impedir o tráfico de seres humanos.
“A França não vai deixar o Canal da Mancha se tornar um cemitério”, afirmou do outro lado o presidente Emmanuel Macron, que deve fazer uma reunião interministerial na manhã desta quinta.
“Nunca podemos condenar o suficiente o comportamento criminoso dos contrabandistas que organizam essas travessias”, disse Darmanin. Segundo o ministro, cerca de 1.500 suspeitos foram presos desde janeiro, quatro deles ligados ao desastre de hoje.
Jean Castex, primeiro-ministro da França, também culpou as quadrilhas: “Meus pensamentos estão com os mortos e feridos, vítimas de gangues de criminosos que exploram sua angústia e miséria”.
Segundo a mídia britânica, cada imigrante paga cerca de 4.000 euros (o equivalente a R$ 27 mil) para chegar ao Reino Unido, e há relatos de botes com até 80 pessoas. No caso desta tarde, de acordo com a administração dos portos de Calais e Boulogne, no norte francês, o barco tinha cerca de 50 imigrantes.
Até esta quarta, o pior naufrágio havia sido o que matou cinco membros de uma família curda iraniana, incluindo um bebê, perto de Calais, em outubro do ano passado. Artin, de 15 meses, foi encontrado três meses depois, na Noruega.
Só neste ano, 31,5 mil pessoas tentaram cruzar o canal a partir da costa da França, segundo o governo francês. Sete tinham morrido ou desaparecido até agora, e 7.800 haviam sido resgatados. Pediram asilo no Reino Unido 25,7 mil imigrantes, mais que o triplo dos 8.469 do ano passado.
Nesta quarta, pescadores foram os primeiros a avistar corpos ao lado de um barco, nas águas do canal. Segundo eles, o número de pessoas dentro dos botes era maior do que o normalmente registrado, possivelmente para aproveitar as condições do mar -que estava calmo, mas com a água fria, apesar do tempo firme.
O Canal da Mancha é uma das rotas mais movimentadas do mundo. Devido às suas fortes correntes marítimas, porém, botes sobrecarregados às vezes nem conseguem flutuar.
Segundo entidades de direitos humanos, contrabandistas passaram a usar barcos infláveis cada vez maiores para fazer travessias mais lucrativas em dias de clima mais favoráveis.
Mas, de acordo com o chefe do porto de Calais, Jean-Marc Puissesseau, há risco também quando o tempo está bom. “Mesmo que o mar não pareça tão agitado, no meio do canal há sempre muitas ondas. É perigoso”, afirmou à BBC.
Na semana passada, o governo francês anunciou ter desmantelado em Dunquerque, ao norte de Calais, um campo em que 1.500 estrangeiros esperavam para tentar a travessia, e prendido 35 suspeitos de tráfico humano.
Na semana anterior, o número de pessoas que atravessaram o canal em um único dia bateu o recorde de 1.185, segundo o governo do Reino Unido, que o classificou como “inaceitável”.
A gestão Boris Johnson, que planeja endurecer as regras para refugiados que aportam em sua costa, afirma que as autoridades francesas não fazem o suficiente para reprimir o contrabando de imigrantes.
A França, por seu lado, diz que é o governo britânico que não impede as travessias, por motivos políticos. A disputa se soma a relações estremecidas pelos direitos de pesca após o brexit e pela parceria formada entre EUA, Austrália e Reino Unido, que arruinou uma venda de submarinos franceses para o país da Oceania.
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