SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A epidemia do abuso de drogas nos Estados Unidos bateu um novo recorde, com mais de 100 mil americanos mortos vítimas de overdose em um ano, segundo dados preliminares apresentados pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) nesta quarta-feira (17).
O total de 100.306 foi computado entre abril de 2020 e abril de 2021 e representa um aumento de 28,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando 78 mil americanos foram vítimas do abuso de substâncias químicas. Em aumento constante há duas décadas, essa cifra dobrou de 2015 para cá.
Esse número ainda é provisório porque investigações de mortes relacionadas ao uso de drogas podem levar meses, mas o valor apresentado pelo CDC nesta quarta soma 98 mil relatórios de mortes apresentados até agora.
“É hora de enfrentar o fato de que a crise está piorando. Precisamos colocar todas as nossas mãos para trabalhar”, disse o secretário de Saúde, Xavier Becerra.
Rahul Gupta, chefe do escritório de políticas de controle de drogas da Casa Branca, afirmou que o número de vítimas é “inaceitável”. “Uma overdose é um pedido de ajuda”, disse. “Para muitas pessoas, esse pedido não tem resposta. Isso requer todo um conjunto de respostas do governo e estratégias baseadas em evidências”.
Recorde histórico, o total de vítimas de overdose foi maior do que o somatório de mortes por arma de fogo e no trânsito. Os dados apontam que a maior parte (cerca de 70%) é formada por homens com idade entre 25 e 54 anos.
O aumento de mortes foi potencializado por opióides sintéticos, sobretudo pelo fentanil fabricado ilegalmente, droga 100 vezes mais poderosa que a morfina e que geralmente é usada combinada a outras substâncias para potencializar seus efeitos.
Anne Milgram, chefe da DEA (Drug Enforcement Administration), órgão de repressão e controle de narcóticos, afirmou que o órgão tem apreendido cada vez mais fentanil. “Só neste ano, a DEA apreendeu fentanil suficiente para prover cada cidadão americano com uma dose letal”, disse, de acordo com a rede americana de rádios NPR.
Cresceu ainda o total de mortes pelo uso de estimulantes, como metanfetamina e cocaína, e por opióides naturais ou semi-sintéticos.
Segundo o jornal The New York Times, os maiores aumentos de vítimas de overdose entre um ano e outro aconteceram nos estados da Califórnia, Tennessee, Louisiana, Mississipi, Virgínia Ocidental e Kentucky. Já nos estados de New Hampshire, New Jersey e South Dakota, o total de mortes caiu.
Especialistas associam o aumento de mortes por overdose à pandemia da Covid, com dificuldade no acesso ao tratamento e aumento de problemas de saúde mental.
“Estamos vendo muitas pessoas que demoram para procurar ajuda e parecem estar mais doentes”, disse ao New York Times Joseph Lee, da fundação para tratamento de dependentes Hazelden Betty Ford. Segundo ele, o número foi influenciado pela perda de apoio comunitário e social, além do fechamento de escolas.
À Associated Press, Katherine Keyes, da Universidade de Columbia, chamou a cifra de “devastadora”. “É uma magnitude de overdose que nunca tínhamos visto neste país.”
Em comunicado após o anúncio do número, Biden afirmou que “enquanto continuamos a fazer avanços para derrotar a pandemia da Covid-19, não podemos ignorar esta epidemia de perdas que afeta famílias por todo o país”.
O governo americano apresentou um plano de US$ 1,5 bilhão para a prevenção e tratamento de abuso dessas substâncias e US$ 30 milhões para financiar serviços locais para pessoas com problemas de dependência. A administração Biden anunciou ainda que planeja melhorar o acesso à naloxona, medicamento capaz de conter uma overdose.
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