Os reajustes dos preços de produtos na porta de fábrica têm pressionado as margens de comercialização do varejo em todos os segmentos do setor. Nos nove primeiros meses de 2021, os preços dos produtos vendidos pelo varejo brasileiro acumularam uma alta média de 21,4% no atacado, mas o comércio repassou ao consumidor menos da metade do custo extra que teve com esses bens: o aumento de preços ao consumidor foi de 10,5%. Os cálculos são da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), com base em dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No comércio varejista ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, os comerciantes pagaram 20,7% a mais pelas mercadorias no atacado, mas reajustaram seus preços ao consumidor em 10,4%.
“Os dez segmentos do varejo (ampliado) pesquisados pelo IBGE estão tendo que rachar essa alta de preços das mercadorias com o consumidor. Não tem demanda (que permita reajustes)”, justificou o economista Fabio Bentes, responsável pelo levantamento da CNC.
O cálculo considera informações da inflação da indústria medida pelo Índice de Preços ao Produtor (IPP) e a inflação de cada segmento do comércio varejista obtida pela Pesquisa Mensal de Comércio, através da diferença entre receita nominal e volume vendido. Esses indicadores são apurados mensalmente pelo IBGE.
Até setembro, entre as maiores defasagens de repasse ao consumidor dos aumentos verificados neste ano no atacado estavam livrarias e papelarias (alta de 24,7% no atacado e repasse de 3,6% ao consumidor); tecidos vestuário e calçados (alta de 19,3% no atacado e aumento de 5,1% ao consumidor); informática e comunicação (aumento de 6,2% no atacado e de 0,8% ao consumidor); e material de construção (avanço de 42,1% no atacado e de 15,9% ao consumidor).
As demais variações foram em móveis e eletrodomésticos (alta de 16,4% no atacado e 7,3% ao consumidor), artigos de uso pessoal e doméstico (17,0% no atacado e 8,0% ao consumidor), hipermercados e supermercados (14,0% no atacado e 5,7% ao consumidor), farmácias e perfumarias (11,1% no atacado e 3,8% ao consumidor), combustíveis e lubrificantes (49,7% no atacado e 35,4% ao consumidor) e veículos (13,2% no atacado e 11,7% ao consumidor).
Bentes afirma que o ano de 2022 será desafiador para o varejo, não apenas por conta das incertezas sobre a evolução das receitas do setor, mas também por causa das pressões de custos.
“Tem aumento da energia, pela crise hídrica, pela bandeira tarifária. Tem reajustes de combustíveis, que encarece o frete para o comércio. Tem a pressão da taxa cambial em ano eleitoral, que oscila mais e atrapalha a previsibilidade do varejo. Vai ser um ano bem cauteloso para o comércio varejista. Não vai ter mais a ajuda da retomada do fluxo de consumidores como teve em 2021. O consumo presencial já está praticamente normalizado”, enumerou o economista da CNC.
Fabio Bentes não espera trégua da inflação nos próximos meses para comerciantes, tampouco para consumidores, o que deve resultar em desaceleração nas vendas.
“A inflação está azedando as expectativas para a Black Friday e o Natal. Se está estragando o varejo no dia a dia, não tem como não chegar nessas datas comemorativas”, disse ele. “É uma inflação de custos, demora mais a reagir à política monetária do que a inflação de demanda. Isso é um problema para 2022, é essa característica da nossa inflação”, concluiu.
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