O avanço da vacinação e a queda de casos de covid-19 desencadearam anúncios e estudos para flexibilizar o uso de máscaras em locais abertos e livres de aglomerações, como no Rio. O prefeito Eduardo Paes (PSD) informou na segunda-feira que o fim da obrigatoriedade da proteção já pode ocorrer no dia 15. Em São Paulo, a questão é alvo de estudos e a liberação deve ocorrer só com índices de vacinação acima dos 90%.
Especialistas ouvidos pelo Estadão apontam que esta é uma questão que deve considerar planejamento, dados sobre o avanço da pandemia e cautela dos gestores. A discussão ocorre em um momento em que já é possível ver uma parcela da população abdicando do uso da proteção facial nas ruas.
A declaração de Paes teve como base a ata da reunião do comitê científico da prefeitura, realizada no começo de agosto, que permite a flexibilização no cenário de 65% da população completamente imunizada. Com 75%, da população vacinada, a proteção só será exigida em ambientes hospitalares e no transporte público.
Em São Paulo, a situação não está definida, mas já começou a ser analisada. Segundo o secretário municipal da Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, estudos já foram iniciados e devem ser finalizados em duas semanas.
A liberação depende de critérios como: 90% da população com a segunda dose tomada, 100% da população com mais de 60 anos com a dose de reforço e baixos índices de internações e mortes. Segundo balanço divulgado na segunda-feira, 81,75% da população com mais de 18 anos está com o esquema vacinal completo.
“O prefeito Ricardo Nunes nos pediu exatamente que nós pudéssemos fazer uma avaliação, em função dos dados de que a pandemia evolui na cidade, sobre essa questão do uso da máscara”, afirmou Aparecido.
“Nós, obviamente, temos alguns dados que vamos levar em consideração. A expectativa é de que, até o dia 15 de outubro, 90% da população tenha tomado a segunda dose da vacina. Até o fim de outubro, chegaremos a 100% da população com a segunda dose. Até meados de outubro, teremos dado a dose de reforço a toda população com mais de 60 anos. Hoje, temos uma média móvel de 15 óbitos a cada sete dias, ou seja, algo em torno de dois óbitos por dia”, continuou.
Em nota, o governo do Estado disse que “os municípios têm autonomia para definição de estratégias locais de combate à pandemia e devem prezar pela segurança da população”, mas ressaltou que segue vigente a obrigatoriedade do uso de máscaras.
Fiscalização
Pós-doutorando na Faculdade de Medicina na Universidade de Vermont, o físico e membro do Observatório Covid-19 BR Vitor Mori diz que o debate é complexo, mas que o primeiro passo natural na flexibilização da máscara é tirar a obrigatoriedade do uso em ambientes ao ar livre. “Com o passar do tempo, com a vacinação e a desaceleração da pandemia, o uso da máscara não será necessário em todos os ambientes. Para mim, seria interessante que, juntamente com a flexibilização nos ambientes abertos, passassem a fiscalizar os ambientes fechados, oferecessem máscaras melhores, como a PFF2, no transporte público. Isso faz mais sentido do que a população ficar com a mesma máscara folgada em todos os ambientes.”
Mori diz que a comunicação correta sobre os cuidados nas exposições ao ar livre e em locais fechados é fundamental para que os planos de flexibilização não sejam afetados por altas nas infecções pelo vírus. Ainda de acordo com Mori, a definição não será feita com base na decisão do gestor, mas de uma série de indicadores. “É preciso analisar números de casos, de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), internações, óbitos, porcentagem de vacinados, situação regional”, enumera.
Rio
A prefeitura do Rio informou por nota que o planejamento para a flexibilização levou em consideração “o cenário epidemiológico favorável, o aporte adequado de vacinas pelo Programa Nacional de Imunizações, a alta performance de vacinação da população e a alta cobertura vacinal completa acima de 60 anos e com comorbidades”.
Disse ainda que a cobertura da população total com esquema vacinal completo está em 56,5% e a da população adulta (a partir de 18 anos) é de 72,2%. “Todos os índices de monitoramento da pandemia (taxas de transmissão, médias móveis de casos e óbitos, taxas de ocupação de leitos, etc) estão em baixa no município e a rede SUS tem o menor número de pacientes internados por covid-19 desde abril do ano passado, 369 pessoas.”
Para a médica epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin de Vacina, a máscara deveria ser a última proteção a ser retirada, pois a pandemia ainda não está controlada e porque ainda há lacunas no conhecimento sobre o novo coronavírus e suas variantes. “Esta é uma certeza que não é adequada no momento e pode levar a um comportamento da população que pode custar vidas”, disse.
Segundo Denise, a eficácia da máscara na proteção já foi comprovada em estudos. “É algo simples, que comprovadamente funciona, com estudos sólidos, e deve ser a última medida de controle a ser retirada em qualquer lugar fechado, seja condução, loja, shopping. A única exceção onde o uso de máscara pode não ser necessário é do lado de fora, em um ambiente aberto, longe das pessoas ou entre pessoas que moram no mesmo domicílio”, enfatiza a médica epidemiologista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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