RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Sobram filas em Porto Seguro (BA) neste Réveillon: para aterrissar jatinhos nos aeroportos da região, para a travessia de carros na balsa, para comprar drinques na Passarela do Álcool, para frequentar festas clandestinas que contrariam liminar judicial vetando festejos de fim de ano por lá.
Também congestionada está a UTI regional no meio de uma segunda onda de Covid-19, com todos os seus 30 leitos ocupados, segundo a prefeitura.
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A cidade baiana abriga o distrito de Trancoso, sinônimo de turismo de luxo no Brasil. Foi num condomínio de luxo local, onde alugar uma casa para dez dias nesta temporada pode sair por R$ 70 mil, que a Polícia Militar encerrou uma celebração que aglutinou cerca de 200 pessoas no sábado (26).
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“Sarará”, o nome do evento, aparecia sobre um fundo de pôr do sol praiano no flyer postado em redes sociais. A partir dele, a PM chegou ao endereço e interrompeu a aglomeração ilegal. O responsável fugiu, mas foi identificado e está sendo procurado, segundo a polícia, que divulgou imagens da operação: jovens conversando sem máscara ou distanciamento num imóvel com piscinas iluminadas para a noite.
No mesmo dia, quase 50 jatinhos pousaram num aeroporto particular de Trancoso, provocando tráfego aéreo, com relatos de pilotos que tiveram de esperar mais de uma hora para poder aterrissar.
A UTI porto-segurense está 100% lotada desde 13 de dezembro, o que não impediu a assessoria de imprensa da prefeitura de afirmar à reportagem que o “quadro epidemiológico está controlado” na cidade de 80 mil habitantes. Até agora, a estatística oficial computa 81 mortes locais por Covid-19.
O casal de empresários Dheferson Assunção, 33, e Camila Souza, 35, saiu do interior de São Paulo para passar a virada de ano em Trancoso.
“A gente resolveu viajar neste ano justamente porque não tivemos como viajar para canto nenhum em 2020”, diz ele.
“Foi um ano muito difícil. Esta viagem a gente já tinha organizado desde o ano passado. Inclusive era somente para 15 dias. Resolvemos chutar o balde e aumentamos para 30.”
A dupla repetiu o destino turístico do ano anterior. A diferença é que, desta vez, eles procuram fazer passeios em horários alternativos, para evitar picos de aglomeração, conta Dheferson. “No começo do mês estava vazio, mas, da semana do Natal para cá, tem muita gente. Está mais cheio do que em 2019.”
O arquiteto Thiago Dantas, 29, compartilhou fotos abraçado com três amigos, o quarteto com cerveja na mão dentro do mar baiano. Como contraiu o coronavírus em novembro, diz que não pensou em cancelar a estadia num beach club de Trancoso. Os companheiros de viagem também já foram contaminados.
“Só fechamos o Réveillon em dezembro, justamente por estarmos mais tranquilos em relação a pegar ou transmitir para alguém”, afirma ele. Não há consenso científico ainda sobre a capacidade de pessoas que já se curaram de portarem o vírus depois, ainda que não adoeçam.
Enquanto a PM faz batidas em festas em casas de veraneio luxuosas e também na periferia de Porto Seguro, as redes sociais transbordam com imagens de pessoas sem máscara, com legendas como #trancoseando e #felizdavida.
Dheferson, Camila e Thiago, os três turistas com quem a reportagem conversou, dizem que estão respeitando o protocolo sanitário e cobrindo o rosto para circular em público.
Nas praias e outros espaços abertos, são poucos os que aderem à máscara, diz Dheferson, que exclui da conta os que a usam com nariz descoberto. “Nos quiosques e cabanas, geralmente tem o som ao vivo. Mas sem pista de dança. Geralmente trabalham com a lotação máxima, que é de 200 pessoas.”
“Será uma virada de ano diferente, uma mistura de esperança com medo. Não sei muito como expressar meus sentimentos em palavras. Porém, é colocar nossa fé em Deus para que este vírus acabe em 2021”, diz Dheferson horas após publicar uma foto com “o mozão”, Camila, seguida de hashtags como #ferias, #curtindo e #drinks.
Três pousadas que a reportagem contatou, assim como a UTI em Porto Seguro, não têm mais vaga para o Réveillon. Quando os turistas forem embora de Trancoso, ficarão os residentes do vilarejo à beira-mar, que possui uma unidade de pronto atendimento para atender emergências de saúde mais básicas.
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