SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Igreja Católica francesa teve entre 2.900 e 3.200 pedófilos entre seus membros nas últimas sete décadas, afirmou neste domingo (3) o chefe de uma comissão independente que investiga os casos de abuso sexual praticados por cléricos e envolvendo menores ou adultos em situação de vulnerabilidade no país.
As conclusões da comissão francesa estão previstas para serem publicadas na terça-feira (5) após dois anos de trabalho que se debruçou sobre as violações cometidas desde a década de 1950. De acordo com informações do chefe do grupo, Jean-Marc Sauvé, ao veículo francês Journal du Dimanche, o universo da investigação abrangeu cerca de 115 mil padres e oficiais religiosos.
Em junho, o papa Francisco disse que o escândalo dos abusos sexuais na Igreja Católica era uma “catástrofe” mundial. À época, o Vaticano divulgou a revisão mais abrangente das leis da instituição nos últimos 40 anos, endurecendo as regras contra violência sexual.
Segundo o novo regramento, o abuso sexual de menores, por exemplo, deve ser punido com a suspensão e/ou destituição do cargo clerical uma vez que representa uma ofensa contra o sexto mandamento do Decálogo, que prega castidade nas palavras e nas obras, com um menor de idade ou com pessoa “habitualmente imperfeita no uso da razão”.
A mesma punição se aplica ao clérigo que aliciar menores e vulneráveis para induzi-los “a se exporem pornograficamente” e ao religioso que “adquirir, reter, exibir ou distribuir” imagens pornográficas por meio de qualquer tecnologia.
Em sua conta oficial no Twitter, a Igreja Católica francesa publicou, neste domingo, uma oração em nome das vítimas e acrescentou que também faria uma oração na terça, dia da publicação do relatório detalhado. “Querido Senhor, confiamos a você todos aqueles que foram vítimas da violência e dos ataques sexuais. Oramos para que possamos sempre contar com seu apoio e ajuda durante essas provações”, dizia a mensagem.
O relatório, de cerca de 2.500 páginas, será enviado à Conferência Episcopal da França e à Conferência de Religiosas e Religiosos de Institutos e Congregações, que encomendaram a investigação.
Além das denúncias, a comissão também avalia no documento os mecanismos, principalmente institucionais, que podem ter favorecido os abusos sexuais e apresentará 45 propostas para reverter essa estrutura. As mudanças a serem sugeridas vão desde a forma de colher o depoimento da vítima até uma política de reconhecimento e reparação das violências.
O chefe do grupo, Jean-Marc Sauvé, explicou que, no início, foi aberto um espaço para depoimentos e denúncias por 17 meses. Mais de 6.500 ligações de vítimas e parentes foram recebidas. Em seguida, tiveram início 250 audiências e interrogatórios. Uma imersão em arquivos da Igreja, dos ministérios da Justiça e do Interior franceses e da imprensa também compôs a investigação.
Na maioria dos casos, os atos estão prescritos e os autores dos abusos falecidos, o que abre dúvidas sobre quais medidas efetivas serão tomadas pela Igreja Católica francesa.
Desde que Jorge Bergoglio –nome do papa Francisco– foi eleito, em 2013, ele tomou uma série de medidas com o objetivo de erradicar o abuso sexual de monores cometido por cléricgos.
Em 2019, emitiu um decreto que tornou obrigatório que bispos e padres informem suspeitas de abusos sexuais e permitiu a qualquer pessoa enviar denúncias diretamente ao Vaticano. Caso os bispos não informem os casos de abuso, poderiam ser considerados corresponsáveis pelo crime que ocultaram.
Em março, a Igreja francesa, que assiste a um número cada vez menor de fiéis ano a ano, disse que proporia uma compensação financeira aos milhares de menores que foram vítimas de abusos sexuais cometidos por membros do clero desde os anos 1950. A instituição disse, ainda, que pretendia criar, se possível em Lourdes, no sudoeste da França, a instalação de um memorial.
Relatório independente publicado em 2020 no Reino Unido mostrou que a Igreja Católica recebeu mais de 900 queixas envolvendo 3.000 casos de abuso sexual infantil na Inglaterra e no País de Gales entre 1970 e 2015 e que houve mais de cem denúncias relatadas anualmente desde 2016.
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