SYLVIA COLOMBO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Abimael Guzmán, fundador e líder do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso, morreu neste sábado (11), aos 86 anos, num hospital militar de Lima, de acordo com o Ministério da Justiça do Peru. A causa não foi informada. Ele estava internado desde 13 de julho, com dificuldades para ingerir alimentos.
Guzmán cumpria pena de prisão perpétua no centro de detenção de Callao devido a diversos crimes relacionados a terrorismo. O Sendero Luminoso esteve em conflito com o Estado peruano de 1980 a 1999, num conflito que deixou mais de 70 mil mortos.
Nascido em Arequipa, em 1934, Guzmán foi professor de filosofia na Universidade Nacional San Cristóbal de Huamanga, em Ayacucho. A militância começou lá, ao convocar estudantes para a formação de uma agrupação de extrema esquerda que, segundo sua definição, seria a “quarta espada do comunismo”, ou seja, uma herdeira das transformações promovidas pelos pensamentos de Marx, Lênin e Mao Tse-tung.
O Sendero Luminoso, embora já não seja mais uma guerrilha, ainda tem participação na política, por meio do Movadef (Movimento pela Anistia e Direitos Fundamentais), cujos integrantes dizem ter optado pela via democrática, ou por defensores das principais ideias do grupo em alguns partidos. Um deles é o Perú Libre, ao qual pertence o presidente Pedro Castillo. Atualmente, o primeiro-ministro do país, Guido Bellido Ugarte, responde a processo por ter feito apologia do terrorismo ao elogiar as ações da guerrilha.
O primeiro atentado do Sendero Luminoso ocorreu em 17 de maio de 1980, para queimar urnas que seriam usadas em uma eleição num vilarejo de Ayacucho. Assim, os guerrilheiros começaram operando nos Andes e, na época de apogeu da facção, chegaram a ameaçar a realização de ataques em Lima.
O Sendero inseriu-se num contexto de formação de guerrilhas na América Latina, impulsionadas pela Revolução Cubana (1959). Em sua primeira onda, surgiram os montoneros na Argentina e os tupamaros, no Uruguai, seguidos das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e do ELN (Exército de Libertação Nacional), ambos na Colômbia. Todas pregavam a tomada do poder pelas armas e a instalação de um governo socialista, com uma reforma agrária. No Peru, além do Sendero Luminoso, atuou na mesma época o Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA), que em 1996 realizou seu maior ataque, a invasão da residência do embaixador japonês em Lima, que terminou com 17 mortos.
A guerra entre o Estado e Guzmán se estendeu até 1992, quando o então presidente Alberto Fujimori finalmente conseguiu prender o guerrilheiro. Acabar com o grupo terrorista havia se transformado em uma obsessão, e as vitórias contra o grupo se transformaram em seu principal instrumento de propaganda.
Sob a justificativa de que estava enfrentando uma guerra, Fujimori cometeu abusos de poder, pelos quais foi condenado e preso. Uma deles foi apoiar e financiar uma força paramilitar, as chamadas “guardas camponesas”, para enfrentar o Sendero. Depois de capturado, Guzmán foi exibido à imprensa com uma roupa de listras pretas e brancas e dentro de uma jaula. Fujimori, à época, disse que buscava armar uma cena “parecida a dos filmes” para anunciar sua vitória contra o criminoso.
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