SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Universitários afegãos voltaram às aulas nesta segunda-feira (6), pela primeira vez desde a tomada do poder no país pelo grupo fundamentalista Talibã, em um contexto diferente: com barreiras e estratégias para separar alunos homens de mulheres.
No primeiro governo talibã, entre 1996 e 2001, as mulheres foram impedidas de estudar e trabalhar. Agora, sob escrutínio internacional multiplicado, o grupo extremista prometeu moderação e disse que os direitos femininos serão respeitados “de acordo com a lei islâmica”. Há uma série de dúvidas sobre o que isso significa, e já surgiram registros de repressão de protestos de mulheres.
Na universidade de Avicena, em Cabul, estudantes homens foram separados das mulheres em salas da aula No domingo (5), o Talibã anunciou que aceitaria que alunas frequentassem universidades particulares sob determinadas condições, segundo a agência de notícias AFP. Elas não poderão se misturar aos homens e terão que usar abaya (vestido longo) e niqab (véu que deixa apenas os olhos à mostra). Além disso, terão que deixar a aula cinco minutos antes que os homens e aguardar em uma sala até que eles saiam das instituições de ensino.
Os talibãs também querem que apenas professoras ou “homens mais velhos”, cuja moralidade tenha sido comprovada, deem aulas para as mulheres.
Algumas faculdades acataram a ordem, como a de economia de Avicena, que instalou cortinas para separar os homens das mulheres. “Não poderíamos nos opor”, disse à AFP um porta-voz da universidade. “Mas muito poucos alunos vieram hoje, devido à incerteza.” Fotos das salas de aula segregadas na faculdade circularam nas redes sociais.
As cortinas geraram protestos. “Colocar cortinas é inaceitável”, disse Anjila, estudante de 21 anos que voltou às aulas na Universidade de Cabul, à Reuters. “Me senti péssima quando entrei na sala. Aos poucos estamos voltando 20 anos no tempo.”
Mesmo antes de o Talibã tomar conta do Afeganistão, as mulheres já se sentavam separadas dos homens, mas as salas não tinham nenhuma divisão física, segundo ela.
Nem todas as instituições, porém, aceitaram de imediato as novas regras. “Dissemos que não aceitaríamos o niqab, porque é muito difícil impô-lo, nossas alunas usam véus. Também afirmamos a eles que isso não está escrito no Alcorão”, disse o diretor da universidade Gharjistan, Noor Ali Rahmani. Ele afirma esperar que a comunidade internacional pressione o grupo fundamentalista para flexibilizar a política. “Do contrário, nossos alunos não aceitarão e teremos que fechar a universidade.”
Sher Azam, professor de uma universidade privada em Cabul, disse que o instituto em que trabalha deu aos professores a opção de dar aulas separadas para homens e mulheres ou de dividir a sala com cortinas.
Mas, em um país mergulhado em crise, há dúvidas sobre a presença dos estudantes. “Não sei quantos alunos vão voltar, por causa dos problemas financeiros, já que muitas famílias estão sem empregos”, afirmou.
Um professor de jornalismo da Universidade de Herat, no oeste do país, disse à Reuters que decidiu dividir sua aula, de uma hora, ao meio: a primeira metade para as mulheres, a segunda, aos homens. Dos 120 alunos de seu curso, menos de um quarto apareceu nesta segunda. “Os alunos estão muito nervosos. Eu disse a eles para continuar a vir e a estudar.”
Outras vozes são mais positivas e veem o copo meio cheio. “Hoje conversei com algumas estudantes. Elas estão felizes por poder frequentar as universidades, mesmo com o véu. Essa abertura dos talibãs representa um passo à frente”, tuitou Zuhra Bahman, que dirige há anos programas educacionais para mulheres no país.
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