Mulheres trocam absorventes descartáveis por itens ecologicamente corretos

ELIGIA AQUINO CESAR
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Poucas coisas na vida de uma mulher são tão certeiras e naturais quanto a menstruação. Enquanto algumas sofrem com cólicas quase incapacitantes e sintomas de TPM (tensão pré-menstrual), outras só sabem que estão “naqueles dias” quando veem o próprio sangue. A realidade é que, embora todas as mulheres menstruem, cada uma vive a experiência à sua maneira.

Além dos sintomas particulares de cada organismo, a forma de lidar com a menstruação também varia de pessoa para pessoa. Hoje em dia é crescente o número de mulheres que abandonaram os tradicionais absorventes descartáveis e passaram a usar coletor menstrual (também chamado de copinho), calcinha absorvente e absorvente reutilizável, seja por consciência ecológica ou por uma questão de conforto.

Atualmente com 25 anos, a empreendedora Mariana Lopes conta que, seis anos atrás, a conscientização ambiental trazida pela adoção do veganismo como estilo de vida a fez reavaliar alguns hábitos. E foi naquele momento que o coletor menstrual entrou na vida dela. Já a farmacêutica Mariana Sardinha Basso, 31 anos, foi apresentada a essas novas alternativas por colegas que conheceu em um curso sobre plantas medicinais e autocuidado.

Mais do que xarás, as jovens têm em comum as motivações que as levaram a abolir os absorventes convencionais de suas rotinas, que passa por uma mudança de mentalidade em relação à menstrução. Ambas afirmam que nunca mais usaram absorventes descartáveis desde que os abandonaram.

“No início foi uma adaptação que veio junto com o Sagrado Feminino, e eu comecei a ressignificar aquele sangue, no sentido de não ter nojo”, relembra Lopes, citando a filosofia que tem por base harmoinzar corpo, mente e emocional da mulher com os ciclos da natureza. “Esse sangue sou eu, e é um sangue de vida, está cheio de nutrientes. Passei a entender que ali há potência e comecei também uma trajetória de autoconhecimento, porque para usar o coletor é preciso entender o próprio corpo”, diz Mariana Lopes.

Percepção parecida teve Mariana Basso. “Quando comecei a utilizar o copinho, tive uma consciência maior do meu fluxo [menstrual], além da questão ecológica”, diz a farmacêutica, que hoje usa o coletor quando seu fluxo está intenso, em dias mais tranquilos opta pelo absorvente reutilizável e, para dormir, prefere as calcinhas.

“Você faz uma reflexão sobre quanto pode economizar [de dinheiro] e, em relação ao meio ambiente, passa a avaliar quantos absorventes são usados por ciclo. O primeiro absorvente que eu usei deve estar até hoje no lixão e vai permanecer lá por muitos anos e gerações”, diz Basso.

E ela não está errada. De acordo com a organização sem fins lucrativos Akatu, que busca conscientizar e mobilizar a sociedade para um consumo mais consciente, estima-se que uma mulher produza cerca de 200 kg de lixo somente com o uso de absorventes descartáveis ao longo da vida – desde a puberdade até a menopausa.

Uma calcinha absorvente pode ser usada diversas vezes. De acordo com os fabricantes, a capacidade de absorção dessas peças dura cerca de 50 lavagens, o equivalente a dois ou três anos, dependendo da frequência de uso e do cuidado.

Há preços para todos os bolsos, a partir de R$ 50, aproximadamente – algumas marcas ainda indicam que, após a vida útil como calcinha de menstruação, a peça se transforma em uma calcinha normal, para o dia a dia.

COM A PALAVRA, AS MÉDICAS
Tão importante quanto a adoção de hábitos sustentáveis é o cuidado com a própria saúde.

Embora a bula do coletor menstrual indique que a mulher pode usar o item por até 12 horas, a ginecologista e obstetra Mariana Rosário, que atende no hospital Albert Einstein, diz que orienta suas pacientes a esvaziar o copinho a cada duas ou três horas.

Segundo ela, assim como ocorre com o absorvente interno, o coletor funciona como um tampão, e deixar o sangue em contato direto com o colo do útero por muitas horas pode levar a um quadro de bacteremia – o endométrio é uma região cheia de vasos sanguíneos e há a possibilidade de bactérias entrarem na corrente sanguínea por ali, causando uma infecção, que, em casos extremos, pode levar a mulher à morte.

De acordo com a ginecologista Farah Nali Rosa Naufal, que atende nos hospitais Assunção Rede Dor e Brasil Rede Dor e também na clínica Naufal, o uso do coletor é contraindicado a pacientes que nunca tiveram relação sexual vaginal. Além disso, mulheres que estiverem com alguma infecção no trato genital inferior não devem usar copinho até a conclusão do tratamento.

“Pacientes que tenham vaginismo ou vulvodínea – patologias que causam dor intensa na região genital – provavelmente não conseguirão usar o coletor”, diz.

As médicas contam que a busca por informações a respeito dos coletores menstruais tem aumentado em seus consultórios. Na avaliação delas, é correto dizer que trata-se de uma tendência, não apenas pela questão da sustentabilidade, mas também pelo lado financeiro.

“O valor que uma mulher gasta com absorventes descartáveis em um ano já paga um coletor menstrual, que normalmente dura por três anos”, explica Naufal. Mariana Rosário concorda que o investimento compensa, mas pondera que muita gente ainda não pode desembolsar o valor do copinho.

“Os coletores das melhores marcas custam entre R$ 70 e R$ 100. Há kits que vêm com dois coletores e o copo para esterilizar os itens, com valores que variam de R$ 150 a R$ 200”, diz ela, lembrando que a higienização do copinho também é parte fundamental de todo o processo – é preciso esterilizar o coletor antes do primeiro uso e ao final de cada ciclo, seguindo as instruções do fabricante

E assim como citou Mariana Lopes, a ginecologista Mariana Rosário ressalta que o coletor menstrual é um item que exige que a mulher conheça o próprio corpo, afinal, para ser funcional, ele precisa ser introduzido corretamente na vagina. “Teoricamente qualquer pessoa pode usar, desde que tenha um bom manuseio da região genital”, diz.

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