SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “O telefone não para de tocar com as pessoas pedindo o Pix.” Desde que a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) publicou nas redes sociais que a distribuição de alimentos na Cracolândia feita pelo padre Julio Lancellotti ajuda o crime, as pessoas não pararam de doar.
O padre conta que o telefone de sua paróquia tocou incessantemente na manhã desta segunda-feira (9), com pessoas pedindo o Pix para fazer mais doações. Sua estimativa é de que a fala da deputada tenha rendido um aumento de ao menos 10% no período.
No último sábado (7), Paschoal publicou em seu perfil no Twitter que o padre e seus voluntários ajudariam se convencessem seus assistidos a irem para abrigos, pois, segundo a deputada, a distribuição de alimentos na Cracolândia ajuda o crime. “O tema precisa ser debatido com honestidade”, escreveu.
Sua fala ocorreu após o compartilhamento de uma reportagem do UOL em que o padre afirmava que a Polícia Militar de São Paulo tentou impedir a distribuição de comida na região.
Até agora, a postagem em Paschoal que critica a ação do padre na Cracolândia tem cerca de 2,6 mil compartilhamentos e 4,5 mil curtidas, grande parte com críticas à fala da deputada.
No dia seguinte (8), um seguidor respondeu à publicação de Paschoal com uma postagem do padre que mostrava formas de doar para a paróquia. A partir desse momento, diversas pessoas começaram a doar. Os valores variam, mas chegaram a ultrapassar R$ 1.000.
O padre conta que preferiu não entrar em debate com ela, mas a convidou para conhecer o trabalho que ele e seus voluntários desenvolvem, pois acredita que esta é uma questão que não deve ser tratada de forma superficial.
“Ela é uma deputada super bem votada no estado de São Paulo, então ela tem uma representatividade grande”, diz. “E uma representatividade que tem que ser levada em conta e tem que ser levada a sério. Ela não pensa assim sozinha.”
Lancellotti diz acreditar que há um segmento na sociedade que pensa como a deputada e que, neste caso, o caminho para mostrar que o trabalho é necessário é abrindo o diálogo com essas pessoas, mostrando o real objetivo da distribuição de alimentos.
“Nosso objetivo não é distribuir comida, é defender a vida, e a gente não pode negar que a alimentação é uma dimensão da vida. Uma dimensão fundamental. Deixar para eles dor, necessidade, carência, fome, não é isso que aciona a mudança. A nossa experiência mostra que acionar a mudança passa pelo afeto, pela acolhida, pela reformulação de valores, nossos e deles”, diz.
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