Computador nunca precisou ser tão pessoal quanto agora, afirma presidente da Positivo

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Trabalho, aulas, consultas médicas, diversão. Quando tudo começou a ser feito online na pandemia, as famílias descobriram que precisavam ir além da tela reduzida do smartphone. Se existia um único computador em casa, ele se tornou alvo de disputa entre adultos, jovens e até crianças.

“Teve gente que procurou notebook antigo na gaveta, para ver se ainda funcionava, mas logo percebeu que o desempenho da máquina estava ruim”, diz Hélio Rotenberg, presidente da Positivo Tecnologia, a maior fabricante nacional de computadores pessoais (PCs) e uma das dez maiores do mundo.

Houve então uma corrida às lojas. Empresas que trabalham com a segurança de dados, como o setor financeiro, também precisaram equipar depressa seus funcionários com máquinas próprias.

O resultado foi a volta do mercado mundial de computadores ao patamar de dez anos atrás, quando vendia 365 milhões de máquinas ao ano. “Em 2021, devem ser vendidos 370 milhões de unidades em nível mundial”, diz Rotenberg. Um grande avanço em relação aos números de 2015, quando a venda global atingiu o menor patamar histórico, de 260 milhões de unidades.

No Brasil, a queda no consumo foi muito maior: entre 2011 e 2016, houve um recuo da ordem de 72%, para 4,5 milhões de unidades no ano. Mas em 2020 foram vendidas 6,3 milhões de máquinas e, neste ano, a expectativa é chegar perto de 7 milhões.

“As vendas poderiam ser bem maiores, tanto em nível global quanto local, se não fosse a crise mundial envolvendo a oferta de componentes eletrônicos”, diz Rotenberg, lembrando que a produção desses itens depende da Ásia.

Rotenberg acredita que os computadores -que no passado viram o smartphone se tornar o grande responsável pela inclusão digital no mundo- conquistaram definitivamente espaço na vida do consumidor. “O trabalho do escritório será híbrido daqui para a frente. E mesmo os estudantes, principalmente os universitários, farão a maior parte das aulas de maneira remota.”

A revolução na maneira de trabalhar, aliás, é a única experiência boa trazida pela pandemia, na opinião do executivo. “Hoje trabalho vendo o céu azul, posso almoçar todos os dias com a minha família”, diz Rotenberg. “A fórmula vencedora vai mesclar essa conveniência com o contato com a equipe, para manter viva a cultura da empresa.”
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Pergunta – Muita gente voltou a precisar de computar pessoal durante a pandemia?

Hélio Rotenberg – Essa foi a grande mudança de comportamento. Agora, por exemplo, estamos fazendo esta entrevista de dois notebooks, o seu e o meu. A interface de uma tela maior é muito melhor que a de um smartphone.

O consumidor redescobriu o “personal” do “computer”. Quando a gente percebeu que teria que permanecer mais tempo em casa, trabalhando, estudando, se divertindo, e até fazendo consultas médicas, houve uma grande explosão na demanda por notebooks. E também por desktops, mas em menor quantidade. O notebook virou o dispositivo ideal em complemento ao smartphone, que continua com o seu espaço: posso ir para cama e responder a mensagens pelo WhatsApp, por exemplo.

P. – O smartphone foi o responsável pelo advento da inclusão digital, trouxe todo o mundo para a internet. Foi o que atrapalhou o consumo de computadores?

HR – Foram movimentos opostos: enquanto crescia a venda de smartphones, caía a de PCs, um movimento observado desde 2011, no Brasil e no mundo. As pessoas deixaram de ter um computador por pessoa, e o padrão passou a ser um computador por família, na melhor das hipóteses.

Mas, com a pandemia, todos começaram a disputar aquele único computador -os adultos, os jovens e as crianças da casa. Muita gente foi procurar na gaveta algum notebook velho para usar, mas percebeu que ele já não tinha performance. Alguns tentaram consertar, incrementar memória, mas em muitos casos foi resolvido com a compra.

Ao mesmo tempo, muitas empresas, principalmente as que trabalham com segurança de dados, como os bancos, correram para comprar um notebook para seus funcionários trabalharem de casa. O computador voltou a ser pessoal.P. –

Qual foi o aumento da demanda por PCs?

HR – O mercado mundial de computadores, que envolve notebooks e desktops, observou um pico em 2011, de 365 milhões de unidades. Esse mercado foi caindo até atingir 260 milhões de computadores em 2015. Neste ano deve voltar ao patamar de 370 milhões de unidades. O pico brasileiro foi de 16 milhões de computadores, em 2011, e chegamos ao fundo do poço em 2015, com 4,5 milhões de unidades, uma queda de 72%. Neste ano, tudo indica que o mercado nacional vá chegar perto de 7 milhões. Ainda menos da metade do pico, uma vez que a crise econômica dos últimos anos prejudicou muito o poder de compra da classe média.

Os tablets também cresceram muito, mas não estão nesse número. O uso do tablet é voltado principalmente à área educacional, nas escolas públicas do Brasil e do mundo.

O consumo de computadores poderia ser até maior, tanto em nível mundial quanto local, se não fosse a crise global por componentes eletrônicos e circuitos integrados. O varejo está desabastecido.

P. – Está faltando notebook?

HR – O varejista costuma trabalhar com um período médio de estoque de 120 dias. Mas hoje esse tempo está reduzido para 30, 45 dias de estoque. Falta um modelo de uma marca, mas tem outro. É um nível de estoque muito raso. Faltam componentes eletrônicos para todos os aparelhos -TV, smartphone, computador, eletrodomésticos, consoles de videogames- e também para a indústria automobilística. Os fornecedores de circuitos eletrônicos são os mesmos, as foundries, localizadas na Ásia. É uma crise generalizada, que impede o mercado de crescer mais.

P. – O que é uma foundry?

HR – As foundries produzem os chips para as outras empresas inserirem nos seus produtos. Compram o silício e fazem o chip. São pouquíssimas no mundo e, com raras exceções, todos dependem delas. Só a Intel, por exemplo, fabrica os seus próprios chips.

Uma dessa foundries é a TSMC, uma taiwanesa que concentra 70% da produção mundial de chips. Houve uma ruptura no começo da pandemia, que teve origem na China e, na sequência, veio a disparada na demanda.

Também há uma questão geopolítica envolvida. Em 2020, Donald Trump restringiu a venda de chips produzidos no país para alguns compradores chineses, o que fez com que eles antecipassem suas compras para estocar chips. Isso deu uma desorganizada no ecossistema mundial.

Acredito que, dentro de um ano, a situação deve estar normalizada ou, pelo menos, em um patamar melhor que o atual, porque as foundries aumentaram sua capacidade de produção. A gente já nota um pequeno sinal de melhora. Os preços já não sobem tanto como um mês atrás.

P. – Esse aumento no preço dos componentes foi repassado para o consumidor?

HR – Não teve como não repassar. Tem a desvalorização cambial, e o custo do componente em dólar, que sobe. Ainda assim, o aumento do preço dos computadores foi absorvido por causa da demanda alta. Houve um aumento entre 40% e 50% nos preços em relação ao que era antes da pandemia. Nosso computador de entrada, da marca Positivo, por exemplo, custava em torno de R$ 1.400 e hoje é vendido por R$ 2.000. É o nosso carro-chefe.

P. – Hoje a companhia trabalha com as marcas Positivo, Compaq e Vaio. Qual o perfil de cada uma?

HR – Tínhamos a marca Positivo no nível de entrada e no nível médio de preços. Mas percebemos que, de determinado valor para cima, a penetração da marca era menor.

Em abril, incorporamos a Compaq no Brasil. A marca continua sendo da americana HP, mas aqui faz parte do nosso portfólio: somos responsáveis pela fabricação, venda e assistência técnica. A Compaq passou a ser a marca intermediária, entre a básica, Positivo, e a premium, Vaio -que era da Sony e se tornou uma empresa independente, de quem licenciamos a marca no Brasil.

A Positivo navega muito bem hoje na faixa dos R$ 2.000 aos R$ 3.000, com notebooks e desktops -neste último caso, voltados mais ao mercado corporativo. Os notebooks da Compaq são oferecidos na faixa dos R$ 2.800 aos R$ 3.500 e atendem bem os estudantes. Já a Vaio oferece notebooks acima desse patamar. Criamos ainda uma marca de desktops para o mercado de games, a 2 A.M., ou duas da madrugada, o horário que os gameiros gostam de jogar.

P. – E os smartphones?

HR – Trabalhamos com a marca Positivo, de entrada, e a marca Quantum, um pouquinho mais cara. A gente ainda não tem o Vaio dos smartphones, mas pretendemos ter, está nos planos.

P. – Em um cenário de pandemia sob controle, a demanda por PCs deve continuar aquecida?

HR – Todos os institutos de pesquisa, como Gartner, IDC, IT Data, os fabricantes de componentes e softwares, Intel e Microsoft, que são os grandes “drivers” dessa indústria, mostram que não vai haver uma queda no pós-pandemia. O computador veio para um novo patamar de consumo. O trabalho será híbrido na sua grande maioria, o que torna o notebook um elemento fundamental.

Aprendeu-se que o ensino online é mais econômico e mais fácil para a maioria dos estudantes, especialmente os universitários. Da mesma maneira, muitas consultas médicas podem ser feitas online. A pandemia forçou as pessoas a se adaptar à tecnologia. O nível que atingimos agora deve se manter no futuro.

P.- O que mais mudou para você depois na pandemia?

HR – Eu trabalho vendo o céu azul, nem parece que eu estou trabalhando (risos). Trabalho em casa desde 10 de março de 2020. Só fui três vezes à empresa nesse período. Uma delas para conhecer o nosso novo presidente financeiro, dar um oi para ele, que trabalhava havia quatro meses com a gente e eu não o conhecia, toda a contratação foi feita online. E fui duas vezes para fazer fotos de divulgação no showroom da sede, para não ter fotos da minha casa. Todos estão trabalhando em casa até agora, a gente recomenda fortemente que as pessoas não estejam na empresa. As fábricas estão trabalhando, assim como a assistência técnica, porque é preciso, mas fizemos toda uma adaptação para isso.

Tenho duas filhas adultas, estudantes de medicina e arquitetura. Estão estudando de casa, minha mulher trabalha de casa também, é arquiteta. Essa convivência, de almoçar todo dia junto, tem sido muito bacana. Se existiu algum lado bom da pandemia, foi esse.
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RAIO-X
HÉLIO ROTENBERG, 59
Formado em engenharia civil pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), é mestre em informática pela PUC-RJ (Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro). Começou no Grupo Positivo em 1988, como o primeiro diretor do curso de informática das Faculdades Positivo (hoje Universidade Positivo). Em 1989, liderou a criação da Positivo Tecnologia com a participação de mais sete fundadores, para atender as escolas do grupo.
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RAIO-X DA POSITIVO
Fundação: 1989, em Curitiba
Funcionários: 2.000
Faturamento: R$ 2,585 bi
Lucro: R$ 195,8 mi
Fábricas: Manaus (2), Ilhéus (2) e Curitiba (1)
Marcas: Positivo, Compaq, Vaio, Quantum, 2 A.M.
Maiores concorrentes: Dell, Lenovo, Samsung e Multilaser

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