BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) – Reino Unido e União Europeia chegaram a um acordo para impor uma trégua na chamada “guerra das linguiças”, a um dia do prazo final para que fosse proibida a entrada de carnes resfriadas britânicas na Irlanda do Norte.
Após ameaças do primeiro-ministro Boris Johnson, do Reino Unido, de desrespeitar unilateralmente as regras do acordo de retirada firmado no brexit –o que poderia levar a uma batalha comercial–, a União Europeia concordou com uma nova carência de três meses para que a situação seja regularizada.
Mais que uma questão comercial, o problema é político, já que envolve o delicado equilíbrio de paz da Irlanda do Norte, conhecido como acordo da Sexta Feira Santa. Assinado em 1998, ele interrompeu três décadas de um conflito que matou 3.700 pessoas, entre unionistas (norte-irlandeses na maioria protestantes que querem continuar no Reino Unido) e separatistas (na maioria católicos, que querem se integrar à República da Irlanda).
O ponto de atrito da “guerra das linguiças” é o Protocolo da Irlanda do Norte, compromisso feito em 2019, durante a negociação do brexit, para que não houvesse uma “fronteira dura” –com fiscalização e aduanas–dentro da ilha irlandesa, entre a Irlanda do Norte, que é britânica, e a República da Irlanda, que é parte da União Europeia.
Com a saída do Reino Unido do bloco europeu, seus produtos não podem mais entrar livremente no mercado comum da UE. Passam a estar sujeitos aos mesmos controles que o bloco impõe a outros exportadores e precisa seguir as mesmas regras. Para evitar esse controle dentro da ilha irlandesa, ele teria que ser feito na fronteira marítima entre a Grã-Bretanha e a Irlanda do Norte.
Uma das regras da União Europeia se aplica às chamadas carnes resfriadas —as linguiças e também nuggets, hambúrgueres e carne moída, entre outros— que, para entrarem no mercado comum europeu, devem ser antes congeladas. Ou seja, a Irlanda do Norte não poderia mais receber linguiças britânicas apenas resfriadas, porque na prática ficou dentro do mercado comum da UE.
O Reino Unido, porém, afirmou que não houve tempo hábil para implementar a fiscalização na fronteira marítima, e que não poderia deixar de enviar seus produtos para uma de suas nações, por risco de provocar desabastecimento e prejuízos.
Segundo o vice-presidente da Comissão Europeia Maros Sefcovic, responsável pelas negociações do brexit, o prazo para que o Reino Unido se adapte às normas foi “flexibilizado” até 1º de outubro. “Não se trata de um cheque em branco”, afirmou ele, dizendo que nesse novo período de carência os ex-parceiros terão que cumprir “obrigações claras”.
Um desses requisitos é o de que sejam cumpridas as regras e padrões de produção de alimentos da UE nesses três meses. Para isso, basta que o Reino Unido não modifique sua legislação atual, que ainda está alinhada à do bloco europeu, do qual fazia parte até o começo deste ano.
Além disso, os produtos serão “fortemente vigiados”: terão que ficar sob controle do governo norte-irlandês, acompanhados de certificados sanitários oficiais, embalados e etiquetados de forma precisa e vendidos apenas em supermercados da Irlanda do Norte.
Do outro lado do canal da Mancha, David Frost, ministro que negocia o brexit pelo Reino Unido, se declarou satisfeito por ter “conseguido chegar a um acordo sobre uma extensão sensata” para as linguiças e outras carnes, mas pediu “soluções permanentes” para as desavenças causadas pelo Protocolo da Irlanda do Norte.
Embora tenha assinado o acordo, Boris Johnson tem feito várias ações que ameaçam os seus termos, entre elas um projeto de lei enviado ao Parlamento britânico no ano passado, a Lei do Mercado Interno, que teve que ser alterado após rejeitado várias vezes pela Câmara dos Lordes (equivalente ao Senado).
Neste mês, enquanto países europeus e até os Estados Unidos pediam que Boris respeitasse os compromissos assumidos e não colocasse em risco a paz da Sexta-Feira Santa, o premiê britânico declarou que faria o que fosse necessário para “proteger a integridade territorial e econômica de nosso país” —ou seja, para não ser impedido de enviar as linguiças britânicas à Irlanda do Norte.
Os atritos recentes também se traduzem em um reaquecimento das tensões entre norte-irlandeses, o que preocupa os norte-irlandeses, de acordo com pesquisa da Universidade da Rainha em Belfast, feita de 11 a 14 de junho. Para 68% deles, as desavenças provocadas pelo Protocolo da Irlanda ameaçam a estabilidade política na Irlanda do Norte.
Em abril, insatisfação com o brexit provocou conflitos durante várias noites, com centenas de jovens atacando policiais e incendiando carros.
O levantamento também mostrou que a opinião pública está totalmente dividida a respeito do compromisso estabelecido na negociação do Brexit: 47% o consideram adequado para sua nação, enquanto 47% se opõem a ele. Uma das principais preocupações é que o preço da comida e de outros produtos fique mais caro nos mercados.
RECEITA
Aproveitando a presença constante das linguiças no noticiário britânico e europeu, o site MyLondon.news aproveitou para ensinar como preparar linguiças que agradem à rainha Elizabeth 2ª, de acordo com o chef Jeff Baker, que já cozinhou para a família real da Inglaterra.
Segundo o cozinheiro, o ideal é tirar a linguiça da geladeira 20 minutos antes de cozinhar, para que ela cozinhe de forma uniforme, sem que sua pele sofra rachaduras.
Na hora de preparar, a frigideira antiaderente deve ser colocada em fogo de médio para baixo, com uma colher de chá de gordura de pato ou ganso, para recobrir o fundo da panela (o excesso deve ser retirado).
Coloque então as linguiças na frigideira sem deixar que elas encostem uma na outra, mantenha o fogo constante e vire-as regularmente para que fiquem douradas (Baker recomenda de 10 a 12 minutos para uma linguiça grossa).
Um segredo adicional: antes de servir, deixe que elas repousem por alguns minutos.
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