5G e desigualde de acesso à internet dominam debates no Mobile World Congress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A chegada do 5G e a desigualdade digital escancarada pela Covid dominaram as apresentações do primeiro dia do Mobile World Congress, maior evento de telefonia móvel do mundo.

O congresso começou nesta segunda-feira (28) em Barcelona (Espanha), de forma híbrida, com público reduzido, participantes com máscara PFF2, e participação online.

A GSMA, associação global que organiza o evento e representa a indústria móvel, estima que em 2025 40% da população esteja coberta com 5G e que 25 bilhões tenham conexões IoT (sigla para Internet das Coisas, que representa a interconexão de máquinas à rede).

Segundo Stéphane Richard, presidente do conselho da GSMA e da Orange, a indústria precisará mirar três principais desafios nos próximas anos: a exclusão de metade da população da transformação digital, o ceticismo em relação à indústria de tecnologia (diante de casos de propaganda, desinformação e ciberataques) e a mudança climática.

“A indústria está investindo pesado em fibra e redes de 5G para responder à crescente demanda de comunicação. Redes de fibra consomem três vezes menos energia do que redes corporativas”, afirmou no painel de abertura do evento. Sua projeção é que em 2025 o 5G reduza em dez vezes a energia que redes 4G consomem para a mesma quantidade de dados processados.

Apesar das promessas industriais e de avanço tecnológico graças ao 5G, especialistas alertaram para o fosso digital que se evidenciou durante a crise de Covid, quando a internet se tornou fundamental para a educação, o trabalho e a saúde.

Dados da GSMA mostram que o déficit de acesso está sete vezes maior do que o déficit de cobertura de internet, ou seja, a infraestrutura avançou para locais remotos, mas as pessoas não necessariamente passaram a usar a internet.

São 3,3 bilhões que residem em áreas com internet e que não estão conectados. “As prioridades precisam mudar. Não se pode focar apenas na cobertura, mas em um modelo centrado nas pessoas”, disse Claire Sobthorpe, da divisão de conectividade e mulheres da GSMA.

De acordo com Doreen Bogdan-Martin, diretora na ITU (sigla em inglês para União Internacional de Telecomunicações), a internet enquanto serviço essencial não pode custar 40% da renda de uma pessoa, o que é comum em algumas regiões. “A Covid mostrou que o acesso é fundamental quando desastres acontecem.”

Ela defende que uma das vias para preencher a lacuna dos desassistidos passa pela facilitação do acesso das mulheres à internet, o que criaria uma cadeia de aprendizado com suas famílias e comunidades. Mulheres, pobres e menos educados estão entre os principais públicos sem conexão.

Também foram defendidos modelos como diferentes tipos de assinatura, um fundo universal para bancar o acesso dos mais vulneráveis e treinamento para experiências digitais básicas.

Representes da indústria também mencionaram a necessidade de uma reforma legislativa para o setor na Europa, a fim de colocar o continente na liderança digital.

“Precisamos de novas regras para esse novo mundo”, disse Jose-Maria Alvarez-Pallete, presidente-executivo da Telefónica, durante painel de abertura. “A regulação hoje é baseada em redes do século passado.”

O presidente-executivo da Deutsche Telekom, Tim Hoettges, afirmou que o mercado na Europa está sendo prejudicado por 27 diferentes conjuntos de regulação, um para cada Estado membro do bloco, enquanto serviços de mensagens de empresas como Facebook e Microsoft estão se aproveitando da infraestrutura montada pelas operadoras.

“Precisamos acordar”, disse Hoettges. “Temos que encontrar um nível justo de trabalho em nossa indústria e precisamos de grandes políticos de visão na Europa.”

A Comissão Europeia definiu um plano de conectividade que envolve a cobertura de todas as residências da Europa com rede de tipo gigabit, além de redes 5G em todas as áreas povoadas, até 2030.

Os executivos também defenderam mais cooperação entre governos e companhias para o cumprimento do ambicioso plano para 5G da Comissão.

“Temos a tecnologia e o conhecimento para fazer, mas quando pensamos em termos de regulação, competição e financiamento, pode haver dúvidas”, disse o presidente da Telefónica.

Ao contrário dos anos anteriores, nenhum grande fabricante anunciou a apresentação de um novo telefone em Barcelona, apesar da expectativa de que algumas empresas chinesas e europeias revelem seus novos aparelhos.

A organização estabeleceu um máximo de 50 mil visitantes por precaução, embora não espere que os convidados superem os 35 mil. Nas edições anteriores, houve 100.000 participantes, de acordo com os organizadores.

Um dos principais poderosos será o magnata da tecnologia Elon Musk, que participará à distância na terça-feira (29).

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