SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar caiu pelo quarto pregão seguido nesta quinta-feira (24), com recuo de 1,18%, indo a R$ 4,9050. Este é o menor valor para a moeda desde 9 de junho de 2020. O dólar turismo está a R$ 5,0700.
Na semana, o dólar recua 3,26%, aprofundando a queda em junho para 6,11%. No ano, há queda de 5,5%.
Com a alta dos juros no Brasil, o real é uma das moedas que mais se valorizam ante o dólar no ano, após ficar boa parte de 2021 na lanterna mundial, chegando a acumular depreciação de 10,38% em 9 de março, quando o dólar bateu R$ 5,79, a máxima neste ano. Agora, a moeda brasileira sobe 5,8%.
A queda nesta semana rompeu pela primeira vez em pouco mais de um ano a barreira psicológica de R$ 5. Segundo analistas, porém, a cotação não deve se manter neste patamar por muito tempo, dado que o cenário ainda é de incertezas, que devem se ampliar com a aproximação das eleições de 2022.
Desta forma, há uma janela de oportunidade de compra da moeda americana para viagem, investimentos e envio ao exterior.
Segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, a moeda deverá cair “bem mais”.
“O brasileiro deve aproveitar esse momento de baixa, de forma parcimoniosa, pois o dólar ainda pode continuar caindo este ano, mas ano que vem pode refletir as eleições”, diz Alexandre Liuzzi, co-fundador da Remessa Online.
Ele diz que não se deve tentar acertar o momento certo de comprar dólar, já que a cotação é muito volátil. “Se a necessidade é urgente, faça a transação logo, mas o ideal é dividir operações de modo a diluir o risco cambial”.
Segundo Liuzzi, o volume de remessas da empresa aumentou bastante com a recente queda do dólar. Houve um crescimento de 22,21% no total movimentando na terça (22), quando a moeda fechou abaixo de R$ 5 pela primeira vez em pouco mais de um ano, contra uma semana antes, e um crescimento de 62,17% na comparação com 28 dias atrás.
A queda é fruto, entre outros motivos, de um ciclo de alta de juros e de uma postura do Banco Central de maior compromisso no combate à inflação.
Na quarta (23), foi divulgada a ata da reunião de política monetária da autoridade, que, em meio à escalada persistente dos preços, considerou elevar ainda mais a taxa básica de juros na reunião da última quarta (16), mas decidiu manter o ritmo e anunciou alta de 0,75 ponto percentual, para 4,25% ao ano.
O documento também indicou que o BC deve levar a taxa básica até o nível considerado neutro, que não estimula nem contrai a economia. Nas reuniões passadas, a avaliação era que a atividade ainda precisava de estímulo e que esse ajuste seria parcial, ou seja, abaixo da taxa neutra.
Atualmente, a taxa de juros neutra gira em torno de 6,5%.
Economistas viram na ata um BC mais preocupado com a inflação e ampliaram suas projeção de taxa básica de juros (Selic) para o fim de 2021 para um patamar contracionista, que deve beneficiar ainda mais o real.
“O Copom usou a ata para ir além, indicando que estará pronto para acelerar ou intensificar a alta de juros ainda nesse ciclo, se preciso. Isso poderia ocorrer diante da disseminação mais ampla dessa alta de preços (especialmente conforme o setor de serviços retome a normalidade), e da desancoragem das expectativas para o ano que vem”, diz Rachel Sá, chefe de economia da Rico.
O Credit Suisse elevou a 1 ponto percentual a expectativa de alta dos juros em agosto, ante 0,75 ponto do cenário anterior. O banco agora vê Selic de 7,25% ao fim de 2021 e de 2022.
O Bank of America também elevou a estimativa para 7%, de 6,50%, e, nesta quinta reduziu a projeção para o dólar de R$ 5,20 para R$ 5;
“O crescimento está mais forte do que o esperado anteriormente, a incerteza fiscal está caindo e o BC está ficando nervoso”, diz o banco em relatório.
O Banco Fibra, por sua vez, aumentou a projeção da Selic de 6% para 6,5%, mas vislumbrando risco de o BC conduzir a Selic ao patamar contracionista ainda neste ano.
O Banco Fibra ainda fala em uma “janela de oportunidade” para o real de junho a agosto, após a qual o dólar ficaria em R$ 5,30 ao fim do ano.
O Société Générale também parece pouco convicto de que a queda do dólar continuará. Estrategistas do banco francês entraram com posição comprada em dólar quando a moeda tocou R$ 5,06 e miram os R$ 5,70.
Juros mais altos no Brasil tendem a beneficiar o real por estratégias de carry trade. Elas consistem na tomada de empréstimos em moeda de país de juro baixo (como o dólar) e compra de contratos futuros da divisa de juro maior (como o real). O investidor, assim, ganha com a diferença de taxas.
Victor Beyrute, economista da Guide Investimentos, vê o dólar em torno de R$ 5 no momento, com a moeda terminando o ano entre R$ 5,10 e R$ 5,15, dado o risco eleitoral.
“Acredito que esses patamares mais baixos vieram para ficar por conta de uma melhora de fundamentos. A gente viu a economia retomando o fôlego antes do esperado. O primeiro trimestre, que parecia ser perdido por conta da segunda onda, acabou sendo bem melhor do que o esperado”, diz Beyrute.
Ele também vê uma recuperação mais forte da economia no segundo semestre com o avanço da vacinação no Brasil. “Temos previsões de mais de 5% para o PIB [Produto Interno Bruto] de 2021, enquanto no começo do ano estavam em torno de 3,5%”.
De acordo com Beyrute, a crise hídrica, no entanto, pode impactar o cenário, fortalecendo a inflação e reduzindo a atividade econômica.
Outro ponto de atenção é a política econômica dos Estados Unidos, também ameaçada pela inflação. Por enquanto, o Fed (banco central americano) reforçou que irá manter o juro local próximo de zero e dar continuidade à injeção de liquidez no mercado, o que leva o dólar a perder força internacional.
A perspectiva de alta de juros nos EUA, por outro lado, foi antecipada para 2023, o que fortaleceria a divisa americana.
Além do carry trade, outro fator que tem beneficiado o real é a compra de ações brasileiras por estrangeiros, que acelerou neste ano. Até segunda (21), há uma entrada líquida de R$ 50 bilhões na Bolsa de Valores. Apenas em junho, são R$ 14,8 bilhões.
“Fundamentalmente, o dólar pode ficar abaixo de R$ 5, dada a balança comercial e fluxo de estrangeiro positivos. O problema são as incertezas em relação ao cenário fiscal e político do Brasil”, afirma Jennie Li, estrategista da XP. O grupo vê o dólar a R$ 5,10 ao final deste ano e de 2022.
De acordo com Thomás Gibertoni, analista da Portofino Multi Family Office, o dólar não deve cair muito mais no curto prazo. “Grande parte da valorização do real já está nos preços e não há novo fato que faça com que a divisa brasileira ganhe maior força, [o dólar] deve continuar acima dos R$ 4,90 enquanto espera fatos novos.”
No pregão desta quinta, a divulgação de dados um pouco piores do que o esperado nos EUA ajudou na desvalorização do dólar, mas tranquilizou investidores receosos de um superaquecimento da economia americana que pudesse acabar com a política de estímulo do Fed.
O Departamento do Trabalho dos EUA disse que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego totalizaram 411 mil na semana encerrada em 19 de junho, resultado acima da expectativa de 380 mil em pesquisa da agência de notícias Reuters com economistas.
Dados separados mostraram que as novas encomendas de bens de capital nos EUA caíram inesperadamente em maio, enquanto os pedidos de bens duráveis ficaram abaixo da expectativa dos mercados.
“Os dados dos Estados Unidos decepcionaram um pouco, o que ajuda a reduzir as preocupações com o superaquecimento da economia americana”, disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho. “Por isso, vemos as moedas emergentes se valorizando frente ao dólar.”
Ajudando a acalmar os anseios, o presidente do Fed, Jerome Powell, reafirmou nesta semana a intenção da autoridade monetária de encorajar uma recuperação “ampla e inclusiva” do mercado de trabalho americano e de não elevar os juros muito rapidamente.
“Há muito que se observar em perspectiva; privatizações, eventual movimento nas reformas tributária e administrativa, tudo cercado de muito embate de campanha presidencial, o que desgasta muito os processos. Contudo, o viés de apreciação do real nos parece bem sustentável”, disse Sidnei Moura Nehme, economista e diretor-executivo da NGO Corretora.
Já o Ibovespa fechou em alta de 0,85%, a 129.513,62 pontos nesta quinta, após duas quedas seguidas, embalado pela alta dos índices em Wall Street, que teve sessão marcada por novas máximas históricas.
Ainda antes da abertura dos negócios, o BC elevou a projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil em 2021 para 4,6%, um ponto percentual acima do estimado no documento anterior, enquanto a FGV (Fundação Getulio Vargas) mostrou que a confiança do consumidor atingiu máxima em sete meses em junho.
Em Nova York, o Nasdaq e o S&P 500 renovaram recordes, fortalecidos ainda pela notícia de que o presidente dos EUA, Joe Biden, abraçou um acordo bipartidário de infraestrutura com o Senado para o pacote de infraestrutura de US$ 1 trilhão (R$ 4,9 trilhões), para a reforma de estradas, pontes e redes de banda larga nos próximos oito anos.
O S&P 500 subiu 0,58%, o Dow Jones teve alta de 0,95%, e o Nasdaq ganhou 0,69%.
No Brasil, o destaque foi a JHSF, que subiu 6,23%, após seu aeroporto executivo próximo à cidade de São Paulo receber aval da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para ter voos internacionais.
Magazine Luiza avançou 5,20%, em dia positivo para papéis de varejo, com Lojas Americanas subindo 4,48%, diante das perspectivas mais positivas para a atividade econômica e melhora no sentimento do consumidor.
As ações preferenciais (mais negociadas) da Petrobras subiram 1,19%, conforme os preços do petróleo no mercado internacional apresentaram melhora. O barril de Brent (referência internacional) teve alta de 0,49%. As ações ordinárias (com direito a voto) ganharam 1,53%.
Vale teve alta marginal de 0,13%, em sessão com siderúrgicas em destaque, tendo no horizonte as negociações do pacote de infraestrutura nos EUA. Gerdau, que obtém parcela relevante da receita das operações nos EUA, valorizou-se 3,29%. CSN avançou 3,31%.
BB Seguridade caiu 1,21%, pelo segundo dia como destaque negativo, após anunciar que fará reforço de capital de até R$ 600 milhões na Brasilprev, unidade de previdência complementar aberta.
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