SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A polícia da Nicarágua continua seu cerco à oposição do ditador Daniel Ortega, com a prisão de mais cinco líderes neste fim de semana, o que elevou o total de detidos para ao menos 12, entre eles quatro pré-candidatos à Presidência.
Na noite deste sábado (12), Tamara Dávila, da Unidade Nacional Azul e Branca (Unab), foi detida em sua casa. Já neste domingo, Dora María Téllez e Ana Margarita, integrantes do partido União Democrática Renovadora (Unamos), foram presas.
Também foram detidos neste domingo a presidente da sigla, Suyen Barahona, e o vice-presidente, o general aposentado Hugo Torres.
A polícia disse que todos são investigados por “praticar atos que atentam contra a independência, a soberania e a autodeterminação, incitar a ingerência estrangeira nos assuntos internos”, entre outros crimes, segundo comunicado divulgado após as detenções.
Eles foram enquadrados na Lei de Defesa dos Direitos do Povo à Independência, Soberania e Autodeterminação para a Paz, aprovada em dezembro do ano passado para punir com prisão a intervenção estrangeira. Os crimes pelos quais os opositore s são investigados atualmente fazem parte da nova legislação –que, segundo seus críticos, tem como principal objetivo atacar a oposição.
O Unamos é um partido de oposição de esquerda, formado por dissidentes sandinistas -antes era conhecido como Movimento da Renovação Sandinista (MRS), de centro-esquerda.
Dentre os detidos, dois tiveram forte participação na luta contra a ditadura de Anastasio Somoza na década de 1970. Téllez, 65, foi uma das comandantes das frentes guerrilheiras e ministra da Saúde durante a revolução sandinista nos anos 1980.
Em 1995, ajudou a fundar o MRS com dissidentes, hoje Unamos, que faz parte da plataforma de oposição ao governo Ortega, no poder desde 2007.
Torres, 73, é o único guerrilheiro sandinista que participou das duas maiores operações militares contra Somoza, segundo o jornal nicaraguense La Prensa: a tomada da casa de Chema Castillo e do Palácio Nacional.
O veículo publicou um vídeo deixado pelo opositor antes de ser preso. “Há 46 anos, arrisquei minha vida para tirar da prisão Daniel Ortega”, disse ele, na gravação. “Mas assim são as voltas da vida, aqueles que uma vez abraçaram os princípios hoje, os traíram.”
A prisão de Téllez, Vigil e Torres ocorreu de maneira similar a de outros opositores. A tropa de choque entrou em suas casas, na capital Manágua, permanecendo por várias horas. Dávila e Barahona também foram detidas em casa.
Com os cinco opositores, são ao menos 12 os detidos pela ditadura de Ortega, incluindo quatro pré-candidatos à eleição presidencial, marcada para 7 de novembro.
A recente onda de repressão começou em 2 de junho, quando o regime colocou em prisão domiciliar a jornalista Cristiana Chamorro, filha da ex-presidente Violeta Barrios de Chamorro (1990-1997) e apontada como principal nome da oposição na eleição.
No sábado (5), o ex-embaixador Arturo Cruz, 67, também pré-candidato da oposição, foi preso no aeroporto da capital, quando voltava dos Estados Unidos. Cruz, que foi embaixador da Nicarágua nos EUA entre 2007 e 2009, apresentou há dois meses sua candidatura às eleições pela Aliança Cidadã pela Liberdade (CLX), de direita.
Na terça (8), foi a vez de outros dois pré-candidatos à Presidência do país, Félix Maradiaga e Juan Sebastián Chamorro García. Maradiaga, 44, foi preso depois de prestar depoimento ao Ministério Público. A campanha do opositor afirmou que o carro onde ele estava foi parado logo após ele deixar o local do interrogatório.
Ele é pré-candidato a presidente pela União Nacional Azul e Branca, grupo formado a partir dos protestos contra o regime que eclodiram em 2018. Devido às declarações contra Ortega -ele chegou a testemunhar contra o ditador em uma sessão do Conselho de Segurança da ONU-, Maradiaga teve a prisão decretada há três anos e precisou fugir do país para não ser preso. Ao retornar, em 2019, chegou a ser recebido por policiais no aeroporto, mas não foi detido.
A prisão de Juan Sebastián Chamorro García, primo de Cristiana Chamorro Barrios, ocorreu sob a acusação de “incitar a ingerência estrangeira em assuntos internos”, “organizar atos de terrorismo com financiamento de potências estrangeiras”, entre outras razões alegadas, de acordo com um comunicado da Polícia Nacional à imprensa.
Os últimos três, José Adan Aguerri, Violeta Granera e José Pallais Arana, foram detidos na quarta (9), segundo informações do La Prensa. Ex-presidente do Conselho Superior da Empresa Privada (Cosep), Aguerri foi detido e levado para uma unidade da Direção de Auxílio Judicial, conhecido como novo Chipote.
Pallais, analista político e membro da Coalizão Nacional, e Granera, integrante da Unab, receberam uma sentença de 90 dias, ainda de acordo com o jornal nicaraguense. Ele foi encaminhado para o mesmo local que Aguerri, enquanto ela permaneceu sob prisão domiciliar, segundo comunicado da polícia.
Jornalistas também têm sido interrogados pelas autoridades nas últimas semanas.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) reagiu às detenções neste domingo, em seu Twitter. “A CIDH reconhece esses feitos como parte de uma escalada da repressão e da criminalização contra líderes de oposição, que exercem suas liberdades públicas, mediante o uso de categorias penais amplas e imputações arbitrárias sem evidências.”
Na publicação, o órgão, ligado à Organização dos Estados Americanos, instou a Nicarágua a libertar imediatamente os detidos e “encerrar os ataques às liberdades públicas e, especialmente, ao exercício dos direitos políticos no país”.
Notícias ao Minuto Brasil – Mundo