(FOLHAPRESS) – Indicada ao prêmio Laureus, conhecido como “Oscar do esporte”, a ginasta Rebeca Andrade, 25, elogiou sua principal rival no esporte, a norte-americana Simone Biles, e disse querer continuar competindo com ela por mais alguns anos. Segundo a brasileira, foi inspirador o momento em que a adversária desistiu de algumas das provas dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, por questões de saúde mental.

 

“Eu não vou falar que senti o que ela sentiu, porque eu nunca passei por isso, mas ali tive um carinho ainda maior por ela. Vi quão forte ela é, não só como atleta, mas como pessoa”, afirmou a paulista, que celebrou o retorno bem-sucedido da americana às competições.

“Eu a tenho como uma grande inspiração e espero continuar trabalhando e competindo com ela por mais alguns anos, porque acho que a gente compete muito bem junta. Ela é um exemplo para todas nós.”

As declarações foram feitas em Madri, durante um evento organizado pelo Laureus. A cerimônia de premiação ocorrerá na capital espanhola nesta segunda-feira (21), e a ginasta brasileira tem sido uma das atletas mais requisitadas pela imprensa internacional.

Rebeca Andrade concorre na categoria “retorno do ano”, que reconhece atletas que conseguiram voltar ao alto desempenho após terem superado adversidades.

O Laureus destacou o histórico de lesões no ligamento cruzado anterior no joelho direito da atleta e as preocupações sobre sua participação nas Olimpíadas de 2024, em Paris -de onde ela saiu consagrada como a maior medalhista olímpica da história do Brasil.

“A pior parte acho que é a recuperação, porque, quando acontece a lesão, é tão rápido que você nem sabe o que pensar direito”, disse Andrade. “Nas três vezes em que me lesionei, pensei em desistir.”

A ginasta afirmou que, na primeira vez em que se lesionou, foi sua mãe quem a incentivou a não abandonar o esporte. Na mais recente, em 2019, sua preparação psicológica foi fundamental para continuar competindo.

“Na primeira vez, o que não me fez desistir foi a minha mãe, porque eu estava conversando com ela e falei que não queria mais. Ela disse: ‘Não. A mãe não vai deixar você parar só porque está com medo de tentar. Você vai para o ginásio, vai fazer sua fisioterapia. Se não conseguir, tudo bem. Você tem sua casa'”, relatou Rebeca.

“Eu tive uma crise de ansiedade sozinha no quarto, precisei me acalmar também sozinha. Então, ali eu pude conhecer a força que a Rebeca tinha, porque normalmente a gente tem alguém do lado para dar um abraço, uma ajuda, mas eu não tive isso naquele momento. Conseguir me acalmar e perceber quão forte mentalmente eu era para colocar meu corpo no eixo foi incrível”, contou a ginasta.

“A minha psicóloga foi essencial para que eu chegasse a esse nível de conhecimento físico, corporal e espiritual, posso dizer assim também”, completou.

Participando do mesmo painel, a ex-ginasta Nadia Comaneci também destacou a importância da resiliência psicológica ao comentar o impacto de entrar para a história do esporte mundial com apenas 14 anos. Em 1976, nos Jogos Olímpicos de Montreal, ela se tornou a primeira ginasta a receber nota 10 -então o maior valor possível na competição.

“Uma vez que você chega ao topo, o único lugar para onde pode ir é para baixo. Então, dá muito mais trabalho conseguir permanecer no alto”, afirmou.

A romena relembrou sua participação nos Jogos Olímpicos seguintes, em Moscou, em 1980, quando cometeu um erro nas qualificações para as barras assimétricas e se classificou na quarta posição.

“Então, eu pensei comigo mesma: ‘Quão ruim pode ser? Quer dizer, pior que o quarto lugar? O que mais pode acontecer?’. E foi assim que consegui subir para a segunda posição”, disse a ex-ginasta, que também comentou as dificuldades adicionais enfrentadas pelos atletas atualmente.

“Eu não consigo imaginar como é agora com a mídia social, porque na minha época não havia redes sociais. Então ninguém ficava mostrando comentários do tipo ‘não posso acreditar que ela caiu'”, disse Comaneci, que elogiou a trajetória de Rebeca Andrade.

A ex-atleta relembrou seu primeiro encontro com a brasileira, quando Rebeca tinha dez anos e esteve em Oklahoma, nos Estados Unidos. “Fiz um sinal para o meu marido, dizendo que achava que essa menina seria boa”, relatou.

“Fico muito feliz de estar aqui para parabenizá-la por tudo o que você passou. Porque o esporte traz consigo todo tipo de delicadeza e desafio na nossa vida, e o fato de você ter superado tudo isso é muito importante”, disse a romena para Rebeca. É uma inspiração para toda a geração de agora e para todas as que virão depois de você.”

Antes, a brasileira já havia afirmado que Comaneci era uma de suas referências no esporte, mas disse que também estava empolgada para se encontrar com a tenista belarussa Aryna Sabalenka durante o Laureus.

“Eu sou apaixonada por ela. Acho que ela é incrível e muito talentosa. É incrível com o público e como atleta. Ela é divertida, é carinhosa, e acredito que eu seja assim também com as pessoas que torcem por mim. É muito legal ver em outra pessoa que você admira algo que você também tem”, disse Rebeca Andrade.
Atual número um do mundo, Sabalenka está indicada ao Laureus na categoria atleta feminina do ano.

Também indicados ao prêmio, vários outros atletas de destaque mundial -como Simone Biles, Carlos Alcaraz e Mondo Duplantis- confirmaram presença na cerimônia na capital espanhola.

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