SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta queda nesta terça-feira (18), depois de atingir, na véspera, a menor cotação desde 7 de novembro do ano passado.

 

Os investidores estão atentos à chamada “superquarta” -dia em que tanto o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) quanto o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) decidem sobre juros- e a incertezas no cenário geopolítico.

Na ponta doméstica, o foco está na proposta de aumento da faixa de isenção do IR (Imposto de Renda), enviada nesta tarde ao Congresso Nacional pelo governo Lula (PT).

Às 13h19, a moeda norte-americana recuava 0,49%, sendo negociada a R$ 5,657. Já a Bolsa marcava alta de 0,31%, a 131.227 pontos.

As decisões de política monetária da quarta-feira, apesar de já amplamente precificadas pelo mercado, são o destaque da sessão.

A expectativa é que o Copom suba a taxa Selic em 1 ponto percentual, a 14,25% ao ano, como já sinalizado pelo próprio colegiado na reunião anterior. Já o Fed deve manter os juros na atual faixa de 4,25% e 4,5% pela segunda vez consecutiva, em meio às incertezas instaladas sobre a economia dos Estados Unidos por causa das medidas do governo Donald Trump.

A manutenção da taxa norte-americana em patamares elevados costuma desestimular a procura por ativos de risco, como moedas de mercados emergentes e índices acionários. Isso porque juros altos tornam atrativos os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, o mercado de menor risco do mundo, o que faz com que investidores estrangeiros aloquem recursos na renda fixa norte-americana.

Mas, no caso do Brasil, a tese pode não se concretizar. Quanto maior a diferença entre os juros daqui e os de lá, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de “carry trade” -isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.

Com as decisões já dadas como certas, o foco está voltado aos comunicados que acompanham as batidas de martelo.

“O ponto de atenção refere-se à nova comunicação. Consideramos que o Copom deve indicar que antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros na reunião de maio, refletindo o estágio avançado do ciclo de aperto monetário, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante”, avalia Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos.

Já em relação ao Fed, analistas do Bradesco consideram que, além do comunicado, “será importante analisar as projeções dos membros do comitê, que serão um bom guia para os próximos passos da política monetária e devem trazer uma revisão altista para a inflação, dada as recentes medidas tarifárias”.

Além da “superquarta”, os investidores repercutem o envio ao Congresso do projeto de lei que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 por mês.

O mercado teme que a medida -uma promessa de campanha do presidente Lula- piore ainda mais o quadro das contas públicas caso não seja compensada devidamente. A perda da perda de arrecadação é calculada em R$ 27 bilhões, disse o ministro Fernando Haddad (Fazenda) na segunda. Como mostrou a Folha de S.Paulo, a pasta refez os cálculos e reduziu as estimativas de impacto -a previsão inicial era uma perda de arrecadação de R$ 35 bilhões.

Para compensar a perda de receita, o governo vai introduzir um imposto mínimo para a alta renda. A medida valerá para quem ganha a partir de R$ 50 mil por mês (ou R$ 600 mil por ano).

A alíquota subirá de forma gradual até o limite de 10%, previsto para quem tem renda a partir de R$ 1,2 milhão ao ano.

O anúncio da reforma do IR no fim do ano passado foi uma das principais razões do estresse entre investidores que causou a disparada de 27% da moeda norte-americana no Brasil em 2024.

“O projeto vai tramitar pelo Legislativo, onde o governo tem uma certa dificuldade de articulação e os temores dos investidores é que, durante a tramitação, as medidas de compensação de receita sejam enfraquecidas. Por isso, um certo receio fiscal”, afirmou Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX. .

O cenário geopolítico também é destaque na sessão. Um motivo de preocupação é a nova escalada dos conflitos na Faixa de Gaza, após Israel realizar ataques no enclave que mataram mais de 400 pessoas, segundo fontes palestinas.

Por outro lado, há indicações de que Trump irá falar com o presidente russo, Vladimir Putin, nesta terça, para discutir o fim da guerra na Ucrânia. Para os mercados, o possível telefonema carrega a expectativa de que pelo menos um dos dois conflitos chegue ao fim.

“Não há exatamente a esperança de que vai se chegar a um cessar-fogo no dia de hoje, mas observa-se os avanços propostos pelos EUA de reativar as negociações e tentar levar a Rússia para um acordo que seja aceitável”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

“Então, aumenta um pouco a perspectiva de uma melhora do ambiente de riscos geopolíticos, mesmo que sejam passos iniciais. Isso também tende a favorecer o apetite por ativos de risco globalmente.”

Tanto uma guerra comercial promovida por Trump quanto os confrontos armados inspiram cautela nos mercados globais uma vez que geram instabilidade e distorcem cadeias de suprimentos globais, o que pode encarecer diversas categorias de produtos. No caso específico dos Estados Unidos, há temores de que o tarifaço provoque uma recessão.

Da ponta asiática, as medidas do governo chinês que visam estimular o consumo interno têm despertado otimismo nos mercados emergentes.

“[Elas] tendem a impulsionar a demanda por bens e produtos globais, beneficiando especialmente as economias com fortes laços comerciais com o país asiático”, disse Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.

“O Brasil, como um dos principais parceiros comerciais da China, está bem posicionado para se beneficiar desse movimento, o que ajuda a explicar a valorização do real na sessão de segunda.”

No cenário doméstico, receios fiscais voltaram à torna.