SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O início no melhor estilo de um cordão de rua baiano. O fim em uma homenagem ao dramaturgo que brilhou no teatro encravado num dos berços do samba paulistano. Com propostas diversas, 14 escolas de samba desfilam nesta sexta (28) e sábado (1º), invadindo as madrugadas, pelo Grupo Especial do Carnaval de São Paulo.

 

Sete delas se apresentam a partir das 23h desta sexta até o nascer do sol no dia seguinte no Sambódromo do Anhembi, zona norte paulistana. O restante desfila a partir das 22h30 de sábado no mesmo local.

As duas agremiações com as piores notas nas duas noites, em apuração a ser realizada a partir das 16h de terça-feira (4), serão rebaixadas, assim como subirão as duas melhores do Grupo de Acesso, que desfilam na noite de domingo (2).

Quem for às arquibancadas do Anhembi ou assistir aos desfiles pela TV em ao menos algum momento deverá se identificar com alguma das propostas cantadas em samba.

De volta à elite após ser vice-campeã do Grupo de Acesso em 2024, a Colorado do Brás foi buscar nos 75 anos do Filhos de Gandhy o tema para seu enredo. O bloco é apontado como maior afoxé do Carnaval baiano, em que homens saem vestidos de branco e azul em homenagem a Oxalá e a Ogum -será a primeira das inúmeras referências às crenças e à cultura negra nas duas noites de desfile.

A partir daí, escolas falar no Sambódromo sobre as raízes africanas ou retratar as desigualdades nos dias de hoje. “Imagine como é o preconceito contra quem é LGBT, negro e morador da periferia”, afirma Murilo Lobo, carnavalesco da Estrela do Terceiro Milênio, campeã do Grupo de Acesso em 2024.

Com o enredo, “Muito além do arco-íris!”, a escola do Grajaú, no extremo sul de São Paulo, promete um desfile de luta por direitos da comunidade LGBTQIA+ para além do sambódromo. “Fizemos conversas com mães resistentes e nossa proposta foi tocando a comunidade”, diz.

A bicampeã Mancha Verde desfila com “Bahia, da fé ao profano”, desenvolvido a partir do documentário que leva o mesmo nome, que retrata seis importantes festas populares da Bahia que, entre outros, misturam crenças cristãs e de matriz africana.

O enredo da Acadêmicos do Tatuapé, “Justiça – A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo lugar”, se baseia em discurso do lendário ativista norte-americano Martin Luther King Jr. (1929 – 1968).

Barroca Zona Sul, Mocidade Alegre e Gaviões da Fiel têm os enredos “Os nove oruns de Iansã”, “Quem não pode com mandinga não carrega patuá” e “Irin Ajó Emi Ojisé, respectivamente, também com base em raízes negras.

“A gente vai desbravar como construímos nossas relações com amuletos e proteções”, afirma Caio Araújo Oliveira, que estreia como carnavalesco da Mocidade, escola 12 vezes campeã. “A figura dela [presidente] influencia numa identidade muito própria da Mocidade Alegre.”

A cultura indígena embala a Acadêmicos do Tucuruvi, e a literatura, a Império de Casa Verde.

A Dragões da Real, que em 2024 somou os mesmo 270 pontos da campeã Mocidade Alegre, mas acabou na segunda colocação nos critérios de desempate, foi buscar no drama pessoal do carnavalesco Jorge Freitas, que perdeu o neto de 8 anos há cerca de dez meses, força e inspiração para não bater na trave desta vez.

O enredo “A vida é um sonho pintado em aquarela!” tem como proposta desmembrar as várias partes da vida pelas alas da escola. Surgiu a partir da música “Aquarela”, composta por por Guido Morra, Toquinho, Vinicius de Moraes e Mushi, que ficou eternizada na voz de Toquinho.

“Não é inspiração na aquarela de propaganda de lápis de cor, da música infantilizada, mas que conta o ciclo da vida”, diz o diretor de Carnaval Márcio Santana.

O enredo “Em Retalhos de Cetim, a Águia de Ouro do jeito que a vida quer” é uma homenagem ao romântico Benito di Paula, que vai estar com a família no último carro da escola da Pompeia, bairro da zona oeste.

O samba “Retalhos de Cetim”, de 1973, é um dos clássicos do cantor de 83 anos.
Num estilo musical bem diferente, Cazuza (1958-1990) será tema da vizinha Camisa Verde e Branco, agremiação da Barra Funda.

O samba-enredo da escola brinca com letras das músicas do ex-vocalista da banda Barão Vermelho. O trecho “pro dia nascer feliz”, nome de uma das mais consagradas músicas cantadas por Cazuza, é repetido várias vezes na letra da escola que vai desfilar no nascer do dia -é a última da primeira noite.

Para muitos sete é número da sorte. E sete é a quantidade de títulos da Rosas Ouro, que aposta em vários tipos jogos para compor seu colorido desfile. A imagem para definir o enredo da escola da Freguesia do Ó, na zona norte, tem dados, xadrez e roleta.

O Vai-Vai fechará o Carnaval com uma homenagem ao dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, morto em um incêndio em seu apartamento em 2023.

À coluna de Mônica Bergamo, o carnavalesco Sidnei França afirma que pretende usar a homenagem a Zé Celso para questionar o que considera um formato “engessado” do Carnaval paulistano, trazendo elementos da linguagem provocativa do Teatro Oficina, espaço cultural comandado pelo diretor conhecido por desconstruir lógicas tradicionais da dramaturgia.

Tanto o Oficina quanto a escola ficam no Bixiga, onde o samba lota bares e ruas do bairro no centro da cidade aos fins de semana.

VEJA A ORDEM DOS DESFILES DO GRUPO ESPECIAL DE SP

Sambódromo do Anhembi
Av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana, zona norte de São Paulo.
Os ingressos de arquibancada estão esgotados.

SEXTA-FEIRA (28)

21h00 – Desfile das velhas-guardas de São Paulo
23h00 – Colorado do Brás
00h05 – Barroca Zona Sul
01h10 – Dragões da Real
02h15 – Mancha Verde
03h20 – Acadêmicos do Tatuapé
04h25 – Rosas de Ouro
05h30 – Camisa Verde e Branco

SÁBADO (1º)

20h30 – Afoxé Filhos da Coroa de Dadá
22h30 – Águia de Ouro
23h35 – Império de Casa Verde
00h40 – Mocidade Alegre
01h45 – Gaviões da Fiel
02h50 – Acadêmicos do Tucuruvi
03h55 – Estrela do Terceiro Milênio
05h00 – Vai-Vai