(FOLHAPRESS) – Até agora, janeiro de 2025 foi o segundo mais mortal para a dengue no país, ficando detrás exclusivamente de 2024. Nas primeiras semanas do ano, o país já registrou 126 óbitos, e outros 248 casos estão sob investigação. No mesmo período de 2024, o número de mortes chegou a 438 -ou seja, janeiro deste ano ainda pode passar o do ano que vem, de consonância com a investigação das mortes.
O estado de São Paulo concentra a maioria das vítimas, com 111 mortes confirmadas em janeiro e 233 em estudo. O governo estadual decretou estado de emergência em todo o território paulista nesta quarta-feira (19).
Na série histórica, que vai até 2000, além de 2024 e 2025, o janeiro mais mortífero ocorreu em 2010, com 86 óbitos, seguido por 2013, com 76, e 2020, com 73.
Embora os números de 2025, até o momento, sejam menores do que os de 2024, especialistas alertam que ainda é cedo para declarar que oriente será um ano menos severo para a dengue.
A recomendação é manter a vigilância, pois os meses mais críticos da doença, mormente março e abril, ainda estão por vir. Em 2024, o surto da dengue começou precocemente, já em dezembro de 2023, impulsionado por condições climáticas favoráveis à proliferação do Aedes aegypti.
“A dengue está sempre presente, mas, seguramente, teremos um número menor de casos do que em 2024”, afirma Fernanda Maffei, médica infectologista da Irmandade da Santa Vivenda e do Hospital Albert Einstein.
A infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, diz confiar que o número de mortes registrado no ano pretérito não se repetirá. Em 2024, mais de 6.000 pessoas morreram em decorrência da doença, tornando o Brasil o país com maior taxa de obituário por dengue no mundo.
“Dengue não é uma doença que deveria matar. Um tanto estava muito falso nesses números do ponto de vista da assistência à saúde”, afirma. Segundo ela, enquanto a redução de casos depende da população e de medidas individuais, a subtracção da mortalidade envolve diretamente a atuação dos profissionais de saúde.
Com São Paulo registrando um número maior de mortes do que no mesmo período do ano pretérito, é provável que exista uma sobrecarga na rede de atendimento. “Nós precisamos regionalizar o problema. Não adianta indagar o cenário vernáculo sem considerar que um estado uma vez que São Paulo apresenta um agravamento da situação”, ressalta Rosana.
Leonardo Weissmann, médico infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e professor da Unaerp Guarujá (Universidade de Ribeirão Preto), explica que diversos fatores podem influenciar a evolução da epidemia.
“Se as medidas de controle forem reforçadas e mantidas, podemos observar uma desaceleração. No entanto, se houver falhas no combate ao mosquito, o cenário pode se exacerbar rapidamente. Ou por outra, a circulação de diferentes sorotipos do vírus pode impactar a sisudez da epidemia”, alerta.
Ele se refere ao sorotipo 3, que voltou a circundar em São Paulo em seguida anos de escassez, o que significa que grande segmento da população não tem isenção contra ele. O que acontece no estado, para o pesquisador, pode ser um indicativo do que ocorrerá em outras regiões.
Há também especialistas que enxergam um cenário ainda mais preocupante.
“Minha previsão é que 2025 será o pior ano da série histórica, superando 2024. Estamos diante de uma curva ascendente, principalmente nos estados mais populosos”, afirma Alexandre Naime, professor de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Minha previsão é que 2025 será o pior ano da série histórica, superando 2024. Estamos diante de uma curva ascendente, principalmente nos estados mais populosos, diz professor da Unesp e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia
Naime também destaca que os dados do quadro de monitoramento de arboviroses do Ministério da Saúde não são atualizados em tempo real, o que pode mascarar a real dimensão da epidemia.
“As temperaturas continuarão subindo, as chuvas devem persistir. Diante dessas variáveis, é muito cedo para declarar que 2025 será um ano mais lento”, analisa Naime.
O médico critica uma recente nota do Ministério da Saúde, que aponta uma redução de aproximadamente 60% nos casos de dengue nas primeiras seis semanas de 2025, em conferência com o mesmo período do ano pretérito.
“Devemos manter a vigilância. Comemorar a subtracção no número de casos pode levar a população a relaxar e negligenciar as medidas de prevenção”, diz
Em janeiro, o Ministério da Saúde criou o Meio de Operações de Emergência em Saúde (COE) para Dengue e outras Arboviroses. A iniciativa visa intensificar o monitoramento e o combate à dengue, uma vez que a Comboio da Saúde, que intensifica o controle da dengue em diferentes regiões do país.
Para Weissmann, um dos fatores que podem explicar a aparente redução de casos em 2025 é a isenção parcial adquirida pela população em seguida a epidemia de 2024, o que pode ter reduzido temporariamente a transmissão. Outra hipótese é que as medidas de prevenção, uma vez que a eliminação de criadouros e o uso de repelentes, estejam sendo mais seguidas em seguida o impacto da última epidemia.
Entre as recomendações para o enfrentamento da doença, Rosana defende a distribuição gratuita de repelentes em locais públicos, uma vez que parques, onde as pessoas estão mais expostas -estratégia semelhante à adoção do álcool em gel durante a pandemia da Covid-19.
Os especialistas também enfatizam a valimento da vacinação dos grupos prioritários, mormente da segunda ração da vacina. Atualmente, o SUS disponibiliza o imunizante para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. Na última sexta (14), o Ministério da Saúde autorizou todos os estados e o Região Federalista a ampliarem a vacinação em casos em que o imunizante está próximo do vencimento.
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