SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar à vista recuava diante de o real nas primeiras negociações desta quinta-feira (20), à medida que os investidores ponderam sobre as incertezas comerciais e geopolíticas no exterior, que incluem novas ameaças tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e as conversas pelo termo da guerra na Ucrânia.

 

Às 9h04, o dólar à vista caía 0,31%, a R$ 5,707 na venda. Na B3, o contrato de dólar horizonte de primeiro vencimento tinha baixa de 0,24%, a R$ 5,716.

Na quarta-feira (19), o dólar fechou o dia em subida, também influenciado pelo cenário internacional, em meio a novas ameaças tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e com a divulgação da ata da reunião de janeiro do Fed (Federalista Reserve, o banco mediano americano).

A moeda americana fechou com poderoso subida de 0,65%, cotada a R$ 5,725, posteriormente fechar com queda de 0,40%, a R$ 5,688 na véspera, menor cotação desde 7 de novembro. Em 2025, a lema dos EUA acumula queda de 7,33%.

O dólar abriu o dia em subida, mas recuou ao termo da manhã e passou a rondar a firmeza em seguida. No início da tarde, voltou a subir e permaneceu em poderoso subida até o termo do pregão.

Já a Bolsa fechou com queda de 0,95%, aos 127.308 pontos. As ações do Banco do Brasil estavam entre as maiores pressões de baixa.

Um operador ouvido pela filial de notícias Reuters disse que um dos motivos para a volatilidade do dólar diante de o real foi uma grande operação realizada por um investidor estrangeiro no mercado horizonte, comprando grande lote de moeda no início da sessão e vendendo posteriormente.

Na cena doméstica, o dia foi marcado pela repercussão da denúncia da PGR (Procuradoria Universal da República) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que o acusa de liderar uma tentativa de golpe de Estado em 2022. Agentes financeiros acreditam que a notícia não teve impacto significativo no pregão.

Diante do contexto pátrio esvaziado, os investidores voltaram suas atenções para o exterior, em procura de notícias sobre o novo governo dos EUA e em relação à trajetória da taxa de juros do Fed.

Às 16h, foi divulgada a ata da reunião do banco mediano dos EUA realizada nos dias 28 e 29 de janeiro. Na ocasião, o Fed manteve a taxa básica de juros na fita de 4,25% a 4,50%, posteriormente três encontros consecutivos cortando os juros.

Segundo a ata, as políticas de Trump criam incerteza para as perspectivas econômicas do Fed e preocupações sobre uma inflação mais subida. Aliás, dirigentes do Fed gostariam de ver novos progressos antes de novas quedas de juros.

A ata ajuda investidores a monitorar as próximas decisões de juros nos EUA e a mensurar o impacto que a medida pode ter no mercado brasílico.

Empresas disseram ao banco mediano dos EUA que esperavam repassar aos consumidores os custos mais altos de insumos decorrentes de tarifas potenciais.

“Em pessoal, os participantes [da reunião do Fed] citaram os possíveis efeitos de potenciais mudanças na política de negócio e imigração, o potencial de desenvolvimentos geopolíticos para interromper as cadeias de suprimentos ou gastos domésticos mais fortes do que o esperado”, informa a ata.

Na mais recente ameaço, Trump disse que pretende impor tarifas sobre automóveis de “em torno de 25%” e taxas de importações semelhantes sobre semicondutores e produtos farmacêuticos.

“A ata de hoje parece em traço com um comitê que prefere adotar uma pausa longa, em vista das elevadas incertezas, ainda mais diante de várias mudanças de política econômica avante”, afirma Nicolas Borsoi, economista-chefe da Novidade Futura Investimentos.

Na avaliação de Anderson Silva, head de renda variável e sócio da GT Capital, o mercado segue sisudo aos sinais de inflação nos EUA, pois uma eventual retomada do ciclo de subida de juros ou a manutenção de juros elevados por lá “poderia impactar diretamente os mercados emergentes”, porquê o Brasil.

A tese principal dos analistas continua sendo de que as principais medidas de Trump -como tarifas de importação e deportações em massa- têm potencial inflacionário, o que pode forçar o Fed manter a taxa de juros em patamares elevados e dificultar ainda mais o retorno da inflação para a meta de 2%.

Diante das medidas e incertezas de Trump por lá, o governo brasílico prevê subida de juros por cá também. Isso porque, se o Fed mantiver a taxa de juros mais subida por mais tempo, o Banco Médio do Brasil deve seguir o mesmo caminho a termo de certificar um diferencial atrativo para investidores na economia brasileira.

“Falar sobre tarifas não é o mesmo que implementá-las, e acho que vimos muita conversa no último mês e pouca coisa sobre a implementação”, disse Charlie Ripley, estrategista sênior de investimentos da Allianz Investment Management.
A percepção do mercado é de que as tarifas são mais uma tática de negociação do que planos concretos, e abrem espaço para acordos entre os países que estão na mira do presidente americano.

Desde que tomou posse, a única medida mercantil de Trump ativada até o momento foi a tarifa de 10% sobre importações da China, com outras medidas sendo adiadas ou ainda distantes da data planejada para a ingressão em vigor, o que abre espaço para negociações.

Com as ameaças tarifárias, a Bolsa europeia STOXX 600 teve sua maior queda diária desde o início do ano nesta quarta-feira, encerrando com baixa de 0,91%, a 552,10 pontos. Ainda assim, o índice tem subida de murado de 8% até agora nascente ano.

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