Mesmo que semelhante a outras doenças hepáticas, a síndrome de Alagille (ALGS, em inglês) se difere por apresentar características incomuns que afetam órgãos diversos. No mês que marca o Dia de Conscientização da Síndrome de Alagille, a gastroenterologista e hepatologista pediátrica, Marise Tofoli, explica o que é a doença e uma vez que alguns sintomas já podem ser percebidos nos primeiros meses de vida. “A icterícia neonatal persistente é o primeiro sinal de alerta para a possibilidade da síndrome. Ela pode estar acompanhada de sarna intensa, problemas cardíacos congênitos, face com propriedade triangular (com testa larga e proeminente, olhos profundos e queixo pequeno) e uma mudança na secção interna dos olhos que só pode ser detectada durante um examinação oftalmológico especializado”.

 

A ALGS afeta um em cada 30 milénio nascidos vivos.1 Trata-se de uma doença hereditária, com 50% de chance de cada fruto herdá-la. A enfermidade é resultado de uma mutação no gene JAG1 ou, menos frequentemente no NOTCH2, que estão envolvidos no desenvolvimento embrionário de diferentes tecidos. “O quidam com a doença tem no fígado subtracção dos ductos biliares intra-hepáticos, podendo levar a colestase (subtracção ou interrupção do fluxo biliar do líquido produzido pelo fígado). Nos rins, a doença pode desencadear malformações ou alterações funcionais. Já no esqueleto, podem ser observadas vértebras em forma de mariposa nas radiografias e, no coração, podem ter alterações em suas estruturas, levando a problemas cardíacos. Também não podemos deixar de pontuar que existem muitos casos de pacientes que podem apresentar deficiências nutricionais, uma vez que déficit de vitaminas lipossolúveis – uma vez que, por exemplo, as vitaminas A, D, E e K”, reforça a profissional

Em relação ao diagnóstico, a hepatologista explica que são necessários exames para avaliação dos sinais da doença. “Raios x de tórax, para avaliação da poste torácica, ecocardiograma e avaliação oftalmológica são alguns dos exames realizados. A biópsia hepática também pode ser feita para estimar se há redução dos ductos biliares. E, por termo, o teste genético confirma o diagnóstico ao identificar as mutações no gene JAG1 ou NOTCH2”, explica.
 

Impactos e tratamento da síndrome de Alagille

A magnitude dos sintomas pode impactar diretamente na qualidade de vida dos indivíduos com a doença. “O prurido persistente, além de motivar um sofrimento físico pode levar, muitas vezes, à alterações de sono, humor, com tendência a fadiga e irritabilidade, podendo ocorrer prejuízos emocionais uma vez que impaciência”, explica Marise, que reforça a influência do seguimento multidisciplinar – com hepatologistas, cardiologistas, geneticistas, nutricionistas, psicólogos – uma vez que melhora a abordagem e o controle dos sintomas, facilita o tratamento das comorbidades, permite o rastreamento adequado de complicações e promove suporte psicológico para pacientes e famílias.

Em dezembro de 2024, a Escritório Vernáculo de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou uma novidade opção terapia para o tratamento do prurido colestático associado à síndrome de Alagille em pacientes com 12 meses ou mais. A presidente da Associação MariaVitoria de Doenças Raras (AMAVI Raras), Lauda Santos, explica que a aprovação é um marco para a comunidade de pacientes. “A sarna intensa, muitas vezes intratável, motivo prejuízos importantes para o desenvolvimento da garoto, além de afetar toda a família que a acompanha. Ter uma selecção terapia eficiente – e não invasiva para o conforto desse sintoma – é um proveito inumerável para a qualidade de vida de quem convive com esta doença”, conta.

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