(FOLHAPRESS) – Das 630 milhões de páginas ativas na internet em 2013, 252 milhões sumiram sem deixar uma diploma que apontasse o óbito.
A estimativa de que 38% da web daquele ano saiu do ar é um cômputo conservador, dizem os autores de um cláusula publicado pelo Pew Research Center.

 

Durante os dez anos que se passaram até 2023, um quarto dos endereços da web desapareceu, de concórdia com a estudo de uma modelo de 1 milhão de páginas colhidas no Common Crawl, uma entidade sem fins lucrativos que guarda registros de uma vez que a internet já foi.

Os links salvos na base de dados nem sempre funcionam, devido às limitações de estrutura dos grupos que preservam a memória da web, uma vez que o Common Crawl, o Internet Archive e o archive.is.

Outra parcela do teor é removida por motivo de ações que pedem a retirada dos arquivos de páginas por violação de direitos autorais.

Os autores chamam a tendência das páginas desaparecerem, deixando poucos vestígios, de “putrefacção do dedo”. “Foi uma boa metáfora para ilustrar que a degradação é involuntária, é um revérbero da estrutura da internet e da falta de manutenção, devido à falta de incentivos e ao tamanho da rede”, diz o coordenador do estudo, Aaron Smith.

O cláusula considera exclusivamente as páginas que, ao serem buscadas, apresentaram um dos nove códigos usados pelo servidor para indicar que um endereço está fora do ar -o mais geral é o 404 Not Found.

Foi o levantamento que pôde ser feito com automação e sem checagem humana.
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VEJA OS CÓDIGOS USADOS PELOS PESQUISADORES PARA CONFIRMAR A MORTE DA PÁGINA

Se um endereço na web não responde com as informações esperadas, o usuário recebe um alerta de erro
204 No Content
Indica que o sinal chegou ao servidor, mas não há teor armazenado no endereço

400 Bad Request
Indica que o servidor não processou a solicitação por qualquer erro no endereço

404 Not Found
Indica que o servidor não conseguiu encontrar o endereço indicado

410 Gone
Indica que o teor deixou de estar disponível no servidor

500 Internal Server Error
Indica que um erro no servidor impede o pedido de ser realizado

501 Not Implemented
Indica que o servidor não tem condições técnicas de executar o pedido

502 Bad Gateway
Indica que o endereço que servia de ponte para outra página, mas houve um problema no redirecionamento

503 Service Unavailable
Indica que o servidor não está pronto para atender ao pedido

523 Origin Is Unreachable
Indica que um servidor não pôde ser contatado por um serviço intermediário de proteção
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O filtro da pesquisa deixou passar, por exemplo, páginas que continham informações sobre um ponto e depois foram compradas para exibir anúncios -quando isso ocorre, o teor original foi perdido, mas a pesquisa não conseguiu detectar essa perda.

É uma prática geral na internet, uma vez que mostrou reportagem da Folha de S.Paulo sobre sites do governo tomados por propaganda de apostas online e referências à pornografia infantil.

Foi o que aconteceu com o blog de entretenimento Morri de Sunga Branca, criado em 2009, e que chegou a reunir mais de 600 milénio seguidores no Facebook.
Os donos do portal, posteriormente fecharem as portas do negócio em 2020, perderam o controle sobre o endereço porque deixaram de remunerar a taxa de hospedagem, recorda o publicitário Thiago Pasqualotto, um dos responsáveis pelo blog. Hoje, o link da página que serviu de epílogo do projeto redireciona o usuário a um site de apostas indiano.

“A gente não foi detrás e, quando viu, já não tinha esse registro”, diz Pasqualotto. Hoje, ele afirma que não se arrepende da perda do registro. “Acho muito bom, porque o Morri fica naquela memória afetiva, as pessoas lembram o quanto era lítico, sem parecer liso porque o mundo mudou e o ritmo é outro.”

O publicitário e a sócia, Bianca Muller, decidiram fechar as atividades diante da concorrência com novos formatos emergentes no Instagram, voltados à cobertura de celebridades. O público passou a privilegiar a notícia reproduzida com velocidade na rede social à estudo textual.

“O Morri de Sunga Branca sempre foi um blog de humor, de sátira e de texto, nossa referência era a notícia”, disse o ex-blogueiro. Hoje, segundo ele, talvez o formato encontrasse espaço em um podcast. “Naquele momento, manter o formato não dava mais.”

Os fundadores do Morri de Sunga Branca deram prosseguimento à curso nas redes sociais, cada um com sua conta e mais sucesso financeiro, em função do sazão do mercado de marketing em torno dos influenciadores.

A transição da chamada web 1.0, conhecida pelos blogs e pela livre navegação, para a web 2.0, das plataformas sociais, acelerou ainda mais o “putrefacção do dedo”, avaliam os pesquisadores ouvidos pela reportagem.

No caso do X (ex-Twitter), medido a fundo pela equipe do Pew Research Center, as publicações somem por decisões triviais. Basta o usuário excluí-las ou escolher tornar a própria conta privada.

“As postagens nas redes sociais têm um tempo de vida geralmente mensurado em dias ou até mesmo horas e isso realmente nos chocou”, afirma Smith.

Essa efemeridade afeta, além do registro histórico, o zelo por lembranças familiares e de pessoas falecidas, antes gravadas em álbuns de retrato e diários.

“Quando eu era jovem, nos anos 2000, houve uma preocupação em digitalizar tudo o que estava no papel para preservar no computador”, recorda Tamara Kneese, autora do livro Death Glitch (não lançado no Brasil), que reflete sobre uma vez que a internet revela lacunas durante o luto, quando precisamos manter recordações dos mortos.

“Hoje, para fazer muito desse trabalho de preservação, dependemos desses grupos corporativos, que são altamente erráticos e controlados por bilionários que tomam decisões sem nos consultar”, diz Knesse.

A Meta, por exemplo, impede que sites de registro, uma vez que o Internet Archive e o Common Crawl, salvem as publicações de Facebook e Instagram.
“Normalmente, não pensamos que uma plataforma desse tamanho possa vanescer, mas recentemente o X foi bloqueado pela Justiça no Brasil”, afirma a escritora.

No pretérito, o país já viveu uma perda irreversível quando o Google decidiu fechar o Orkut por razões financeiras. “É o que estamos observando com a romance do TikTok nos Estados Unidos, com bilhões de vídeos e registros que podem sumir por um conflito geopolítico”, diz Kneese.

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