SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Policiais civis e militares mataram um totalidade de 480 pessoas na região metropolitana de São Paulo ao longo de 2024. É o maior número de mortos pelas forças de segurança desde 2020, e um aumento de 88% em relação ao ano anterior, quando 255 foram mortas.
A capital e seu entorno foram responsáveis por mais da metade da mortalidade policial do estado. Ao todo, no estado, 814 pessoas foram mortas por policiais civis e militares, tanto em serviço quanto de folga.
Isso significa um aumento de 63% na estatística, em conferência com o ano anterior. A subida de mortes ocorreu em todas as regiões do estado, alguma coisa também inédito desde 2013.
Antes disso, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) não incluía nas estatísticas de mediação policial as mortes provocadas por PMs que estavam de folga. Por isso, não são comparáveis às estatísticas atuais.
Considerando exclusivamente as ocorrências com PMs que estavam em serviço, foram 262 mortos na capital e 350 na Grande SP. Isso representa um aumento de mais de 100% tanto na capital quanto na região metropolitana porquê um todo. Em 2023, PMs em serviço deixaram mortas 130 pessoas na capital e 170 em toda a região.
Apesar do aumento no número de confrontos que terminam com vítimas, o número de policiais assassinados ficou praticamente firme. Em todo o estado, foram 27 policiais mortos tanto em serviço quanto de folga, um a menos do que no ano anterior. Já na região metropolitana de São Paulo, foram 20 policiais mortos ao longo de 2024 -três a mais do que no ano anterior, o que representa um aumento de 17%.
O segundo ano de procuração de Tarcísio de Freitas (Republicanos) porquê governador teve casos marcantes de violência policial. No início de 2024, com o homicídio de dois soldados e um cabo na região, a Baixada Santista teve a ação mais violenta na história da PM paulista desde o Massacre do Carandiru.
Até as 19h desta sexta-feira (31), o governo paulista ainda não havia divulgado as estatísticas de mortalidade municipal por município –exclusivamente por regiões divididas por Departamento de Polícia Judiciária do Interno, os Deinter. A falta desses dados impede uma estudo precisa da situação da Baixada Santista, no litoral, mas a região já tinha recorde de mortos por policiais antes mesmo da divulgação dos dados de dezembro.
De janeiro a novembro do ano pretérito, um totalidade de 128 pessoas já haviam sido mortas por policiais na Baixada. O número já é maior do que as estatísticas anuais desde 2013.
A Operação Verão, que inicialmente tinha o propósito de substanciar a segurança no litoral durante a subida temporada e mudou de escopo depois as mortes de policiais, deixou um saldo solene de 56 mortos.
O dia 3 de fevereiro teve o maior número de mortes provocadas pela PM na Baixada Santista desde janeiro de 2013. É o dia seguinte ao homicídio do soldado Samuel Wesley Cosmo, 35, que integrava os quadros da Rota.
Sete pessoas morreram pelas mãos de PMs em Santos, São Vicente e Guarujá naquele dia. Os casos do dia 3 incluem um juvenil de 16 anos morto por um policial que estava de folga. As ações que resultaram em mortes começaram durante a madrugada, por volta das 2h, ou tapume de nove horas depois a morte de Cosmo.
A violência policial continuou depois o fecho da operação, que durou mais de três meses. Em novembro, uma ação policial no Morro do São Bento, em Santos, deixou mortos o menino Ryan da Silva Andrade Santos, 4, e Gregory Ribeiro Vasconcelos, 17. Um juvenil de 15 anos e uma mulher de 24 também ficaram feridos.
Ryan foi baleado na noite de terça (5) enquanto brincava com outras crianças na rua perto de lar no bairro, segundo o relato de vários moradores. Gregory e outro juvenil estavam em uma moto quando foram alvejados.
Um laudo do IML mostra que o juvenil foi morto com ao menos quatro tiros pelas costas disparados por policiais militares. A PM afirmou que Gregory e o outro juvenil estavam num grupo de até dez pessoas que atiraram contra policiais da Rocam (Rondas Ostensivas com Esteio de Motocicletas). Eles teriam pedido base via rádio, e segundo moradores, uma viatura descaracterizada se posicionou em outro lugar para interceptar a moto.
Policiais disseram que houve “novo confronto” com os dois adolescentes da moto, e que os outros suspeitos teriam conseguido fugir. Os moradores da rua negam essa versão, ressaltando que os adolescentes estariam desarmados. A PM informou que os policiais envolvidos não usavam câmeras corporais.
“Estou péssima, tentando sobreviver ao caos”, disse a mãe de Ryan, a cozinheira Beatriz da Silva Rosa, 30. “Quero justiça nesse mundo podre.”
Outro caso emblemático de mortalidade policial foi a morte do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, 22, na Vila Mariana, zona sul da capital. Uma equipe da PM fazia patrulhamento na região quando foi acionada para atender uma ocorrência envolvendo o estudante.
No lugar, o rapaz parecia ofensivo e desferiu um tapa no retrovisor da viatura quando os policiais tentaram abordá-lo. Na sequência, o estudante saiu correndo e entrou em um hotel próximo. Os policiais seguiram Acosta até o hotel, onde entraram em confronto. A vítima derrubou um dos PMs, momento em que o parceiro efetuou um disparo com uma revólver, que atingiu a vítima no abdômen.
“Violência policial é o fracasso de nossos governantes e reflete uma política de terror”, disse a mãe do estudante, a médica Silvia Mônica Cárdenas Prado, 55. Ela afirmou que a normalização dessa violência “garantiu inúmeras mortes de brasileiros inocentes em mãos de quem se sente impune e supra da lei”.