THAÍSA OLIVEIRA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Candidato avulso à presidência do Senado, o Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) diz que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) devia estar chateado quando o criticou, no início da semana, por ter sido impedido de ir à posse do coligado Donald Trump, nos Estados Unidos.

 

Bolsonaro disparou contra seu ex-ministro dizendo que a decisão dele de concorrer contra Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) à revelia do PL era “lastimoso”. Pontes minimiza o desgaste e afirma inclusive ter se inspirado no ex-presidente -derrotado quatro vezes à presidência da Câmara.

“Ele devia estar chateado, lógico, eu também estaria chateado. É igual quando você come alguma coisa que bate mal”, diz o senador à reportagem.

*PERGUNTA – Por que resolveu se candidatar ao Senado contra um candidato tido porquê quase unânime?
MARCOS PONTES – Primeiro que unanimidade é ruim para a democracia. Eu tive 11 milhões de votos no Senado em 2022, a maior votação do Brasil e uma das maiores da história. Eu ouço a população o tempo todo e sentia falta de ter um candidato de direita que representasse justamente esses anseios da população, coisas que a gente defende desde a campanha: contra drogas, monstruosidade, jogos, em prol de democracia verdadeira, liberdade, anistia, de colocar os processos de impeachment [contra ministros do STF] para votar.

P – O sr. anunciou a candidatura no mesmo dia em que Bolsonaro declarou o suporte do PL a Alcolumbre, o que demonstrou que o sr. estava solitário e sem respaldo. É isso mesmo?
MP – Reverência a posição do partido, sem problema nenhum, faz secção. Eu tive todo o desvelo de não afetar o partido, falei com o Valdemar [Costa Neto], presidente do partido antes. Falei: vou fazer uma candidatura independente de forma a não ter retaliação [ao PL]. O partido mantém o consonância [com Alcolumbre].
E antes de me apresentar eu fui falar com o Davi também. Falei: Davi, zero contra você, você tem as suas ideias, eu tenho as minhas. Vou apresentar a minha candidatura porque eu acho que tem que ter uma candidatura da direita. Aí ele, pô, mas… Tudo muito, faz secção, isso aí é privilégio de um senador. O vestuário de ser uma candidatura independente não prejudica o partido.

P – Mas o sr. realmente acredita que pode lucrar? O que todo mundo diz é que Alcolumbre será o próximo presidente do Senado.
MP – Nasci na periferia, sem saneamento, sem pavimentação, sem zero. Eu falava para o pessoal que queria ser piloto, olhavam para mim e davam risada. E eu fui não só piloto, porquê fui astronauta. Ou seja, você tem que crer nas coisas.

P – O que Valdemar disse?
MP – Ele falou assim: ah, não tem problema, vai lá, [de forma] independente não tem problema nenhum, é uma privilégio do senador. Mas você vai permanecer desenganado. Eu falei assim: mas é melhor eu permanecer desenganado com os outros do que permanecer desenganado comigo.
E sabe quem que me inspirou bastante nisso também? Bolsonaro. Ele foi candidato quatro vezes à presidência da Câmara dos Deputados [perdeu em todas as ocasiões].

P – Bolsonaro deixou evidente que está está obrigado com o sr.
MP – Eu vi. Eu conheço o Bolsonaro há mais de 20 anos, considero meu camarada. E camarada é aquela coisa, pode concordar contigo ou discordar de você. Faz secção da amizade. O importante é a gente estar pensando no mesmo sentido, em trabalhar para ajudar o Brasil.
Tem que considerar também que foi exatamente o dia que era pra ele estar lá na posse do Trump. E ele devia estar chateado, lógico, eu também estaria chateado. É igual quando você come alguma coisa que bate mal, assim, né? Não tem problema não, tranquilo, a gente continua na luta.

P – Há um incômodo com a candidatura também no PL e no entorno de Alcolumbre. O senador Ciro Nogueira (PP-PI) chamou de ingratidão e traição.
MP – A opinião da pessoa só serve pra gente conhecê-la. No mais, não serve para muita coisa. O vestuário de eu ter ido ao espaço me deu mais visão de vida e mais capacidade de estimar muita coisa do que as pessoas que nunca foram. Isso me dá a serenidade para poder olhar isso aí [e pensar], um dia vai aprender um pouco mais. Com relação à traição, isso não existe.
Continuo a fazer a mesma coisa que eu prometi para os meus eleitores. Não mudei em zero. E vou continuar assim. Eu estava lá fazendo campanha em 2018. Tem que checar, eu não lembro onde estava o Ciro em 2018. Mas eu estava lá fazendo campanha, bastante, para o Bolsonaro, em São Paulo. Mas isso também não vem ao caso; isso está lá no pretérito, né?

*RAIO-X | MARCOS PONTES, 61
É senador por São Paulo e ex-ministro da Ciência e Tecnologia do governo Bolsonaro (PL). Engenheiro aeronáutico e astronauta, tornou-se o primeiro brasílico a ir ao espaço, em 2006, por meio da Missão Centenário.

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