Brasileiros ajudam a sustentar turismo no sul de Portugal

FARO E TAVIRA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) – Algarve, no sul de Portugal, é famosa pelo clima ensolarado, pelas praias com falésias e pelos turistas do Reino Uno -existe inclusive um voo direto entre Londres e Faro, a capital da região. Nos pubs com cardápios bilíngues, os viajantes e aposentados britânicos dividem as mesas com um número crescente de jovens brasileiros, atraídos pelos empregos na dimensão do turismo e pela possibilidade de trabalhar remotamente num lugar onde há praia de dia e muita animação à noite.

 

Maria Lima, 28, e Richard Guerra, 32, que se conheceram em Portugal durante um show do Gusttavo Lima, abriram em Tavira, cidade praiana do Algarve, a LS Limpezas, especializada em higienizar alojamentos locais –nome que se dá no país aos quartos e casas alugados por aplicativos uma vez que o Airbnb.

A demanda é grande: eles contam que a LS, que tem seis funcionários, tem murado de 70 clientes habituais. Também começa a prospectar outra dimensão, a de limpeza de prédios recém-inaugurados ou reformados.

“Nosso trabalho inclui até pequenos reparos para deixar os alojamentos prontos para o próximo cliente”, diz Guerra. O sucesso já permitiu ao par comprar uma moradia de praia e fazer viagens pela Europa.

Lima e Guerra têm uma trajetória geral entre os brasileiros que vão morar na região, que começam com pequenos trabalhos e depois empreendem. Ela nasceu no Ceará, morou na Rocinha, no Rio, e trabalhou em restaurantes e casas de repouso. Ele é mineiro, chegou a Portugal ainda garoto com a mãe, portanto recém-divorciada, e trabalhou uma vez que caminhoneiro e entregador antes de se matrimoniar com Lima e se estabelecer em Tavira.

Brasileiros apareceram com destaque na pesquisa “Imigrantes na Profissão em Turismo e Hospitalidade no Algarve”, realizada pelo KIPt (Conhecimento para Inovar Profissões no Turismo, na {sigla} em inglês), um núcleo de estudos no município de Loulé, vizinho a Faro, patrocinado por empresários locais e por seis universidades espalhadas pelo país. “Entre os trabalhadores de diversas nacionalidades, são os brasileiros os que melhor se integram na cultura da região”, diz a economista portuguesa Antónia Correia, coordenadora do levantamento.

O objetivo dele era justamente entender o perfil dos imigrantes para sugerir estratégias de integração às empresas e ao poder público. “O turismo no Algarve precisa de imigrantes, e tudo o que não queríamos era que vivessem segregados em guetos, uma vez que acontece em outros lugares da Europa”, afirma Correia. “Os brasileiros têm maior facilidade por justificação da língua e da proximidade cultural.”

A pesquisa identificou três perfis de imigrantes no Algarve na filete de 20 a 39 anos. Nos dois primeiros, “imigrantes com afinidade cultural e necessidades socioeconômicas” e “imigrantes que procuram melhor qualidade de vida e novas oportunidades” –que de certa forma se sobrepõem–, os brasileiros são o maior passageiro. O terceiro engloba estrangeiros com escolaridade superior, e aí há predominância de outros países europeus.

Rosana Alcântara, 36, mineira de Descrição, vive em Portugal desde os 19. Casou-se, divorciou-se, trabalhou em restaurantes e conta que enfrentou discriminação e machismo. “Do tipo mais clássico, o varão que chega no término da noite ao restaurante e oferece uma carona só porque você é brasileira”, diz.

Com o tempo, adaptou-se a Portugal. “No início os trabalhos costumavam ser por temporada. Hoje há empregos mais estáveis, pois há turistas no Algarve o ano inteiro. O auge é o verão, mas no inverno chegam os europeus do setentrião, para quem a temperatura ainda é comparativamente quente.”

Foi graças às garantias trabalhistas que Alcântara pôde empreender. Ela usou o seguro-desemprego para comprar equipamentos profissionais de cozinha. Em seguida um investimento de EUR 5 milénio (murado de R$ 30 milénio), ela hoje produz salgadinhos em larga graduação. “Cozinho para festas, casamentos e batizados, e também preparo porções para os que querem consumir na praia.”

Já Renata Venâncio, 28, radicada em Faro, enquadra-se no perfil dos “nômades digitais”, jovens com curso superior que vêm ao país em procura de novas experiências. Fã de música eletrônica, ela sonhava em ir ao festival Amsterdam Dance Event, mas a Holanda parecia longe demais para quem morava em Jaru, no interno de Rondônia. A pandemia, no entanto, trouxe-lhe novas perspectivas. “O trabalho remoto transformou minha vida. Descobri que poderia lucrar verba vivendo em qualquer lugar.”

Formada em engenharia de víveres, começou uma vez que professora em cursos técnicos. Seguiu na dimensão educacional –hoje, a partir de Faro, atende remotamente a três empresas do setor de instrução, uma em Mamparra, outra nos Emirados Árabes e uma terceira nos Estados Unidos. Ela também criou um curso sobre uma vez que encontrar trabalho remoto em redes sociais.

O turismo responde por murado de 20% do PIB português. De tratado com Correia, a economista, no Algarve esse número chega perto de 25% e influencia mais de 40 áreas econômicas, da produção de víveres à construção social.

Nem o partido de ultradireita Chega questiona a imigração por lá. Vários doadores da {sigla} são donos de hotéis e restaurantes na região. Sem a mão de obra dos brasileiros –e dos indianos, nepaleses, angolanos, moçambicanos e outros estrangeiros–, seus estabelecimentos não sobreviveriam.