Uma competição de robótica sediada no Japão teve um final histórico neste mês, com duas equipes brasileiras na final do All Japan Robot Sumo Tournament (“Torneio de Sumô Robô do Japão”, em português). A equipe da Escola Politécnica da Universidade Federalista do Rio de Janeiro (UFRJ), MinervaBots, enfrentou a Kimauánisso Robotics Team, do Instituto Mauá de Tecnologia, tornando-se campeã mundial na categoria “Mini Sumô”. A disputa ocorreu no domingo (8), último dia do torneio que reuniu 63 robôs de várias nacionalidades.
O robô Zé Pequeno, um dos mais tradicionais da equipe, foi o responsável pela vitória de 2 a 0. Na competição, dois robôs chamados “robôs de sumô”, “sumobots” ou unicamente “sumôs” se enfrentam com o objetivo de empuxar o inimigo para fora de uma estádio circundar — geralmente uma tábua de madeira com borda branca —, em um combate semelhante à tradicional luta japonesa. A disputa foi na estádio Ryōgoku Kokugikan, em Tóquio, palco de grandes competições esportivas dessa arte marcial.
Presente no torneio desde sua geração, em 2012, o MinervaBots foi representado no Japão pelas alunas de engenharia mecânica Anne Victória Rodrigues da Costa e de engenharia eletrônica e de computação Lígia Bonifácio. Integrante do grupo há dois anos, Lígia compartilha que vencer o torneio sempre foi um sonho da equipe. “Chegar lá uma vez que finalistas mundiais foi uma grande conquista, mas também um grande duelo. Eu e a Anne estávamos apreensivas. A competição foi dura, exigiu que mudássemos estratégias e recalculássemos rotas, mas confiamos no trabalho de toda a equipe e conseguimos vencer adversários fortíssimos”, disse.
Atualmente, a equipe do MinervaBots conta com murado de 30 participantes, além de uma gestão interna formada unicamente por alunos. À Dependência Brasil, Lígia ressalta que participar do torneio foi resultado de um trabalho construído ao longo de uma dez de existência da MinervaBots. “São 12 anos de pessoas que trabalharam com dedicação para que hoje pudéssemos entender o título mundial. Foi incrível entrar na estádio com a certeza de que não estávamos representando unicamente a equipe atual, mas toda a trajetória construída por aqueles que vieram antes de nós”.
A vitória da equipe, para a estudante de engenharia de eletrônica e computação, é uma forma de reconhecer a tributo das mulheres na extensão tecnológica. “Ser mulher na engenharia não é fácil. E os desafios que enfrentamos até cá nos prepararam para esse momento. Durante o torneio, fomos surpreendidas com o incentivo estável, inclusive de membros do staff e de outras competidoras. Pudemos observar muitas mulheres de todas as idades se enxergarem em nós, e isso foi muito significativo”, lembra.
Segundo dados da terceira edição da pesquisa “Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, do Instituto Brasiliano de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres representam a menor proporção dos alunos matriculados (15,7%) e concluintes (15%) nos cursos de computação e tecnologias da informação e notícia (TIC). Em confrontação, são a maioria nos cursos de saúde (74,5%) — com exceção de medicina —, serviços pessoais (78,6%) e bem-estar (87,3%). Também são as principais concluintes em serviços pessoais (83,8%) e em bem-estar (91%).
“No Brasil, sabemos que o impacto dessa conquista vai além do troféu. Queremos que ela sirva de inspiração para meninas e mulheres que desejam entrar na ciência, na tecnologia e em competições de eminente nível uma vez que essa”, continua Lígia. Para ela, o título conquistado é uma prova de que mulheres “não só podem, uma vez que devem ocupar espaços na engenharia e na tecnologia”.
“Queremos mostrar que há espaço para todas e incentivar mais mulheres e meninas a participarem, sonharem e acreditarem no seu potencial. A nossa vitória não é só nossa, é um símbolo do que pode ser apanhado com esforço, dedicação e, principalmente, com representatividade”, defende.
Porquê Lígia, Anne também começou a fazer segmento da MinervaBots em 2022. A aluna foi responsável por operar e pilotar o robô projetado em 2014 nas competições que garantiram a presença da equipe no torneio nipónico. “O Zé Pequeno foi um dos primeiros na história da MinervaBots, e teve inúmeras atualizações, desde a sua geração, para que estivesse sempre a par das inovações da categoria”, informou.
O robô disputa na categoria “Mini Sumô 500 g – Autônomo”. Nela, as máquinas contam com o próprio sensoriamento e com estratégias pensadas pelo operador para expelir o inimigo da estádio. Elas ainda podem relatar com mecanismos que confundam o sensoriamento do oponente. No caso do robô projetado pela equipe da Escola Politécnica da UFRJ, Zé Pequeno carrega bandeiras reflexivas.
“Nossa conquista com o robô Zé Pequeno não só honrou todo o suor e trabalho de tantas gerações que já passaram pela MinervaBots, uma vez que também serviu de incentivo e reafirmação para que, cada vez mais, meninas brasileiras enxerguem, assim uma vez que eu, as exatas e a robótica enquanto o seu lugar”, diz a estudante de engenharia mecânica.
Professor da Escola Politécnica da UFRJ e orientador da equipe, Vitor Ferreira Romano enfatiza que a vitória brasileira tem enorme valor para o campo tecnológico vernáculo. “É um evento de nível mundial, com tradição, e ter conseguido o primeiro lugar nesse torneio, enquanto universidade pública e federalista, nos deixa muito felizes. Isso incentiva também os alunos a participarem mais desses eventos e acreditarem em si”, afirmou.
“Com toda certeza o Brasil está caminhando para se tornar uma referência tecnológica, e essa vitória por si só é um belo exemplo disso”, complementa Anne. “Entre os oito melhores robôs do mundo, ranqueados no segundo dia da competição de convenção com o desempenho ao longo do torneio, quatro eram brasileiros, reiterando o propagação do país no contexto da robótica competitiva. Com o devido incentivo e visibilidade para a robótica vernáculo, tenho certeza que podemos chegar ainda mais longe”, ressaltou.
“Ver duas equipes brasileiras na final do maior torneio mundial de sumô de robôs é um motivo de grande orgulho. Isso mostra que, com os incentivos e o suporte adequados, conseguimos competir em pé de paridade com as maiores equipes do mundo. Esse feito não só ressalta o talento e a originalidade dos nossos estudantes e profissionais, mas também coloca o Brasil em destaque no cenário internacional de robótica e tecnologia”, disse o professor de engenharia de controle e automação no Instituto Mauá de Tecnologia, Anderson Harayashiki Moreira.
Moreira, também ex-aluno do Instituto, participa da Kimauánisso desde a sua geração, em 2004. Atualmente com 40 integrantes, incluindo professores, alunos, ex-alunos e dois estudantes do Ensino Médio, a equipe participou do torneio com 11 robôs. As máquinas eram divididas em duas categorias: cinco em “Sumô 3 kg”, sendo dois autônomos e três rádio controlados, e seis em “Mini Sumô 500 g”, com três autônomos e novamente três rádio controlados.
“Esses robôs representam o esforço contínuo da nossa equipe, que investe em inovação e melhorias a cada ano. Nosso processo de desenvolvimento envolve, em média, seis meses, desde o início do projeto até a fabricação e a programação dos robôs. Normalmente, aposentamos robôs mais antigos para transfixar espaço para novos projetos que incorporam as últimas inovações. Essa dedicação tem consolidado nossa reputação uma vez que uma das melhores equipes de robótica do Brasil”, destaca o professor.
Durante o torneio, a equipe conquistou a segundo e terceiro colocação na categoria “Sumô Mini 500 g – Rádio Controlado”; a segunda posição em “Sumô Mini 500 g – Autônomo”, ao competir com o Zé Pequeno da MinervaBots; e o oitava lugar na principal categoria do All Japan Robot Sumo Tournament, “Sumô 3 kg – Autônomo”. Em entrevista, Moreira comemora que os resultados representam uma conquista que “inspira e abre portas para novas oportunidades no campo tecnológico vernáculo”.
*Estagiária sob supervisão de Vinícius Lisboa