Trump foi supercandidato, e Kamala perdeu por fraquezas de Biden, dizem analistas

VICTOR LACOMBE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com a poeira começando a diminuir depois da sólida vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos, análises de diferentes matizes ideológicos tentam explicar porquê foi provável que o ex-presidente, acuado por investigações e fora do poder por quatro anos, vencesse de forma tão suasório.

 

Trump se tornou o primeiro candidato do Partido Republicano a ocupar o voto popular desde 2004 e levou seus correligionários ao poder tanto no Senado quanto na Câmara, garantindo para si controle totalidade do Legislativo. Outrossim, o agora presidente eleito venceu em todos os sete estados-pêndulo.

Para o historiador da Universidade de Cambridge Gary Gerstle e o vice-presidente da Open Society Foundations, Leonard Bernardo, essa mostra de força, além de erros da campanha do Partido Democrata ou de uma eventual guinada à direita da população americana, pode ter uma explicação simples: Trump é um dos políticos mais eficazes da atualidade.

“Dentre milhares de pesquisas eleitorais antes das eleições, nenhuma conseguiu expor que Trump venceria em todos os estados-pêndulo”, diz Bernardo. “Ele é o que está se chamando de um supercandidato. Não se tratou de um problema com a democracia americana, mas sim do indumento de que Trump representa ideias maiores do que ele. E também não conseguimos prever a enorme vontade dos americanos de explodir tudo. Essa é uma teoria que atrai muita gente.”

Gerstle, por sua vez, afirma que um fator importante, sim, foi a fraqueza da candidatura democrata -mas não por culpa de Kamala Harris. “Dadas as circunstâncias, ela fez uma supimpa campanha, com alguns erros. Mas ela não tinha tempo de se distanciar de Joe Biden, que era um candidato ruim e pressionado pela inflação.”

Os dois especialistas americanos estiveram no Brasil para um evento organizado pelo Cebrap (Meio Brasílio de Estudo e Planejamento) em São Paulo, nos últimos dias 21 e 22. Em conversa com a Folha, concordaram com a teoria de que há uma erosão no base à democracia ao volta do mundo que afeta também os EUA.

“Kamala fez uma aposta. Ela apostou que os americanos estariam muito incomodados com o que aconteceu em 6 de janeiro em Washington [a invasão do Capitólio por apoiadores de Trump]. E ainda estou tentando entender por que a resposta parece ter sido tão indiferente”, diz Gerstle.

“Mas é indumento que vivemos em um mundo no qual a crédito na democracia está enfraquecida, no qual as pessoas não acreditam que seja necessário trespassar às ruas para preservá-la a qualquer dispêndio”, opina o historiador. “E a vitória de Trump inspira autoritários em todo o mundo, porquê [o ex-presidente Jair] Bolsonaro no Brasil.”

“E por que todas essas figuras reacionárias chegam ao poder? Muito tem a ver com os erros de liberais fracos que se comportam porquê se tivessem um recta divino de governar”, diz Bernardo, em referência à posição tida porquê arrogante de figuras do Partido Democrata. “Pode ser nos EUA, pode ser os liberais da Hungria antes da subida de [Viktor] Orbán, pode ser os peronistas na Argentina. Eles acham que não precisam se explicar por que estão lutando o bom combate. E é uma pena que esses liberais não tenham refletido [sobre suas derrotas].”

“Ao termo e ao cabo, o Partido Democrata é uma instituição reformista. E a teoria de que a reforma vai nos tirar da miséria, seja essa miséria real ou não, foi vista porquê ilusória em verificação com a vontade de explodir as coisas”, analisa Bernardo. O observador político, porém, ressalta que a posição de Kamala, Biden e do governo sobre a guerra na Fita de Gaza também foi importante para sua roteiro.

“Quase 300 milénio árabes-americanos moram no estado do Michigan, e muitos são da opinião de que há um genocídio em curso em Gaza. Mesmo que muitos deles não tenham votado em Trump, a maioria somente se absteve. E a vice-presidente não estava em condições de se opor à política solene do governo Biden.”

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