GONÇALVES, MG (FOLHAPRESS) – A chefe da Vigilância Sanitária de Gonçalves, cidade turística da região sul de Minas Gerais, foi flagrada cometendo a infração que mais combatia: a aglomeração.
Gonçalves é conhecida como a “pérola da Mantiqueira” por unir cachoeiras, comida roceira, clima de montanha e vida rural sofisticada, um combo que tem funcionado como ímã para paulistanos em busca de refúgio na quarentena.
Mas a cidade vem sofrendo com a queda na arrecadação do turismo justamente pela rigidez da Vigilância Sanitária ao fechar os atrativos para cumprir as regras preventivas impostas na pandemia.
Lilian Kelem Vieira, 33, não cumpriu as regras que ajudou a criar. Participou de uma festa de aniversário, foi denunciada e perdeu oficialmente o cargo na última quinta-feira (7). Mas, no mesmo dia, acabou reconduzida à administração pública municipal na função de chefe de gabinete do prefeito Márcio Donizetti de Oliveira (Cidadania).
Vieira, além de comandar a Vigilância Sanitária, integrava a equipe de fiscais que rondam pelo comércio e pelos atrativos turísticos da cidade para fazer cumprir decreto municipal que proíbe qualquer evento que gere aglomeração, falta de distanciamento social e uso inadequado de máscara.
O erro cometido pela servidora comissionada dividiu opiniões entre os 4.200 habitantes da cidade pelas redes sociais da prefeitura quando o fato se tornou público.
Um morador disse: “Primeira vez em Gonçalves que eu vejo uma pessoa fazer ‘cagada’ e ser promovida. Tá começando bem”. “A segunda chance foi dada. Certamente pela competência e qualidade dos serviços da funcionária”, escreveu outro.
Já uma moradora perguntou: “Vocês [da prefeitura] deram multa a ela? Em entrevista à reportagem e em comunicado oficial, o prefeito Márcio Donizetti disse que a servidora sofreu uma advertência por escrito. “E também perdeu o cargo que tinha. Ela não foi promovida, mas rebaixada de função e salário”, disse o prefeito.
Viera foi flagrada no primeiro final de semana de abril em uma festa de aniversário do filho da babá que cuida de sua filha. Ela foi marcada em uma foto publicada nas redes sociais que chegou ao conhecimento da atual gestão.
A primeira versão da denúncia, diz o prefeito, dizia que a ex-chefe da Vigilância Sanitária estava em uma festa para “50, 80 pessoas”. Mas o prefeito desmentiu a informação. “Eram, no máximo, 11 pessoas. A maioria delas eram do convívio da servidora.”
O prefeito disse que, após receber a denúncia, tentou tirar a servidora da fiscalização da Covid-19 e mantê-la à frente apenas da Vigilância Sanitária. Mas foi advertido pelo Conselho Municipal de Saúde que Vieira não poderia ficar no órgão sem comandar a fiscalização.
Foi então que o prefeito fez um jogo de xadrez. Colocou seu chefe de gabinete no comando do Departamento Municipal de Infraestrutura e conduziu Vieira para o cargo vago.
Questionado se a decisão de manter a servidora nos quadros da prefeitura não arranharia seu mandato, o prefeito disse que agiu com transparência, usando todos os canais da prefeitura para comunicar o erro da servidora e as medidas tomadas.
Também justificou que ela permaneceria na prefeitura porque “é uma excelente profissional”. “Mas o que ela fez foi errado.” Em nota, o prefeito também afirmou que “a Prefeitura de Gonçalves e seus funcionários devem ser exemplos dentro do município com as ações propostas nos Decretos Municipais”.
O comunicado diz ainda que “o sacrifício para o bem maior –a saúde do povo– deve começar pelos próprios funcionários municipais”.
Vieira entrou na prefeitura na atual gestão. Em 2016, disputou vaga na Câmara Municipal, mas só recebeu 15 votos e não foi eleita. A reportagem a procurou, mas não conseguiu localizá-la para comentar o caso.
À reportagem, o prefeito disse que não cometeu “um mau exemplo” ao manter Vieira na prefeitura. Em comunicado feito à população de Gonçalves por vídeo, Márcio do Zezé, como é conhecido, afirmou que coisas piores do que uma festa de aniversário estão acontecendo na região.
“Está ocorrendo festas e churrascos com bebedeiras muito piores que uma festa de aniversário. Como eu falei: um erro não justifica o outro. Seria muito injusto eu mandá-la embora com esse pensamento. É a primeira vez que ela errou. Eu poderia ter dado uma advertência verbal, mas já foi dada uma advertência por escrito”, justificou o prefeito.
Márcio é operador de máquina e está em seu primeiro mandato. Foi vice-prefeito na gestão anterior e vereador de Gonçalves em duas legislaturas. Seu principal desafio é combater a pandemia diante da falta de estrutura de saúde local.
Casos graves da Covid-19 são levados para Itajubá, a cerca de 80 km de distância, porque Gonçalves não possui hospital –o pronto-socorro mais próximo fica em Paraisópolis, a 10 km.
Até o momento, a “pérola da Mantiqueira” já registrou 169 casos confirmados de Covid-19 e seis óbitos. Cerca de 600 pessoas foram vacinadas contra a doença.
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