REINALDO JOSÉ LOPES
SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS) – Os dentes de um juvenil que morreu há quase 2 milhões de anos estão revelando pistas importantes sobre uma vez que os ancestrais dos seres humanos mudaram seu padrão de prolongamento, passando a ter uma puerícia muito mais comprida e segura que a dos demais primatas.
Análises detalhadas dos fósseis do jovem, feitas por meio de microtomografias, indicam que seus dentes se formavam num ritmo intermediário entre o das crianças modernas, muito lento e gradual, e o de chimpanzés e outros grandes símios, que já ganham boa segmento de sua odontíase definitiva nos primeiros anos de vida. Os detalhes do processo podem não parecer muito significativos, mas eles trazem uma série de possíveis implicações para a compreensão do desenvolvimento cognitivo e social dos ancestrais da humanidade.
Originário da atual Geórgia, perto da fronteira com a Armênia, o quidam era um membro muito arcaico do gênero Homo, o mesmo ao qual pertencem os seres humanos modernos –a espécie exata na qual ele se classifica ainda é objeto de debate.
Tudo indica que o juvenil e os demais indivíduos achados perto da cidade georgiana de Dmanisi estão entre os primeiros hominínios (membro do grupo de primatas mais próximo do Homo sapiens) a deixar a África e se espalhar por outras regiões do planeta. Os fósseis têm 1,8 milhão de anos, idade um pouco superior à de outros Homo primitivos encontrados na Indonésia.
No novo estudo, publicado na quarta-feira (13) na revista científica Nature, a equipe de Christoph Zollikofer e Marcia Ponce de León, da Universidade de Zurique, reconstruiu todo o desenvolvimento dentário de um hominínio sabidamente “subadulto” tal qual crânio é eleito pela {sigla} D2700.
Um dos indícios de que não se trata de um adulto é justamente o indumentária de que seus terceiros molares (também conhecidos uma vez que dentes do siso) não estão totalmente formados -as raízes dos dentes já tinham se desenvolvido bastante, mas ainda não tinham terminado de crescer.
Com a ajuda de uma das formas mais sofisticadas de tomografia disponíveis para a ciência, conduzida num acelerador de partículas em Grenoble, na França, Zollikofer, Ponce de León e seus colegas conseguiram enxergar as camadas de formação do dente ao longo da vida do juvenil.
O que acontece é que, num ritmo quotidiano, os dentes que estão crescendo recebem novas camadas de dentina (mais fundíbulo) e esmalte (mais superficial), até comprar seu formato “pronto”. Isso corresponde a linhas de prolongamento que a microtomografia é capaz de divisar. E, a partir disso, os pesquisadores estimam qual teria sido o ritmo de formação dos dentes, o que corresponde, indiretamente, à idade do quidam.
Resultado da estudo: o “subadulto” teria morrido com pouco mais de 11 anos de idade (a margem de erro é de seis meses para mais ou para menos). Ainda faltava muro de um ano e meio para ele inferir a maturidade dentária “completa”. Ou seja, em termos humanos modernos, ele seria mais ou menos equivalente a alguém nos anos finais da puberdade, já que a nossa maturidade dentária costuma chegar entre os 18 anos e os 22 anos.
Outrossim, o ritmo universal do desenvolvimento dos dentes se revelou bastante significativo. Os chimpanzés, nossos parentes vivos mais próximos, têm um pico de formação dos dentes muito cedo, com dois anos de vida. Nos humanos modernos, o pico vem exclusivamente aos sete anos de idade, depois de inaugurar muito lentamente e de perder velocidade depois. Já o padrão do jovem georgiano também começa lento, só que alcança um pico antes, aos cinco anos, e também termina antes, num momento não muito dissemelhante do visto entre os chimpanzés.
Os impactos de tudo isso ainda não estão claros. Um pouco que certamente vale no caso do Homo sapiens é o indumentária de que o desenvolvimento infantil, nos primeiros anos de vida, é muito mais lento em vários aspectos porque há uma priorização do desenvolvimento cerebral –o cérebro das crianças é muito imaturo no início e cresce um naco nessa primeira temporada. A odontíase de desenvolvimento mais lento seria um vista dessas tendências mais tardias, o que inclui longos anos de puerícia e puberdade.
A questão, porém, é que os indivíduos da Geórgia ainda tinham cérebros de tamanho modesto, embora já maiores que os dos grandes símios de hoje. Ou seja, o grande prolongamento cerebral na primeira puerícia não explicaria o que acontecia com eles.
A equipe de Zurique propõe, porém, que um elemento importante poderia ter sido o uso, já manante naquela era, de ferramentas de pedra para processar a comida antes da ingestão. Isso permitiria que as crianças mais novas não precisassem mourejar com provisões tão abrasivos e difíceis de mastigar. Segundo esse padrão, as mudanças na odontíase poderiam ter vindo antes das mudanças cerebrais, e o maior zelo dos pais para com os filhos, preparando os provisões, estaria incluído no pacote.
Debbie Guatelli-Steinberg, profissional em evolução humana da Universidade do Estado de Ohio (EUA) que comentou o estudo a pedido da Nature, diz que pode ser prematuro, porém, tirar conclusões com base no juvenil de Dmanisi. É preciso considerar, por exemplo, que os pesquisadores ainda não contam com dados sobre vários indivíduos da mesma espécie para ter uma teoria da versatilidade do desenvolvimento. Infelizmente, esse problema é generalidade em estudos com hominínios, cujos fósseis costumam ser raros.
“Esse é um dos desafios clássicos da paleoantropologia: uma vez que podemos aproveitar ao supremo as parcas evidências que existem, as quais, em universal, correspondem a fósseis isolados?”, disse Zollikofer à Folha.
Embora a mesma técnica pudesse ser aplicada aos adultos de Dmanisi, ela teria duas limitações. “Primeiro, não teríamos uma vez que instaurar a idade exata do quidam na hora de morte. Em segundo lugar, as coroas dentárias [a parte superior dos dentes] de hominínios adultos normalmente mostram um desgaste sumarento, de modo que a informação sobre as fases iniciais do desenvolvimento dos dentes acaba se perdendo.”