NELSON DE SÁ
PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – Na sexta-feira (1º), às vésperas da eleição americana de terça-feira (5), a novidade edição da revista teórica do Partido Comunista da China, Qiushi, publicou um texto em que o líder Xi Jinping avisa que “o desenvolvimento do país entrou num período de incertezas crescentes e fatores imprevisíveis”.
Um deles é entendido porquê a eventual vitória do republicano Donald Trump e a perplexidade que ele traz, por exemplo, ao ameaçar tarifas de 60% sobre produtos chineses.
Uma reunião legislativa programada para o final de outubro em Pequim, para sentenciar sobre o montante do fomento à economia chinesa, ficou para depois da eleição americana. Segundo analistas, porque com Trump o fomento teria que ser quase o duplo.
Não que haja ilusão com os democratas de Kamala Harris, vice de um governo que vem cercando militarmente, com parceiros, o entorno marítimo da China.
Porquê adiantaram acadêmicos da Universidade de Pequim há três meses, na revista do establishment americano de política externa, Foreign Affairs, o país não espera que um ou outro candidato americano desista do esforço de contenção estratégica.
Wang Jisi, Hu Ran e Zhao Jianwei apontaram “um consenso bipartidário em Washington de que a China deve agora ser tratada porquê grande adversária, com um interino crescente de analistas argumentando por um enquadramento de guerra fria”.
Zhenqing Zheng, da Universidade Tsinghua, também de Pequim, repisa que “tanto Trump quanto Kamala veem a China porquê maior competidor estratégico e até porquê opoente”. O governo atual, com Kamala porquê vice, herdou e aprofundou a guerra mercantil lançada pelo republicano.
Mas as abordagens de ambos são diferentes. “As declarações recentes e a experiência passada sugerem que Trump está disposto a se envolver em conversas diretas com os líderes chineses”, diz Zhenqing. “Há uma chance de China e EUA realizarem muitas cúpulas, em que falariam diretamente sobre questões geopolíticas.”
O ex-presidente é visto porquê mais negociador, capaz de concordar acordos. “Penso que, na verdade, Trump é bastante prático ao mourejar com algumas questões geopolíticas cruciais com a China”, diz o acadêmico, apontando porém que há limites também para o republicano.
Questionado quanto à enunciação de Trump sobre tarifar os produtos chineses em até 200% caso a China “entre em Taiwan”, ou seja, sugerindo uma opção à resposta militar de Washington a Pequim, Zhenqing comentou que isso “na verdade é só opinião, não uma política”.
Segundo ele, “uma gestão Trump vai levar em conta muitos profissionais, diplomatas, e a questão sobre a política para Taiwan terá de ser revista num processo”. Seja porquê for, acrescenta, a China vai enfatizar os princípios acordados por líderes anteriores dos dois países e mostrar interferência em assuntos internos. Pouca coisa deve mudar.
Wang Yuiyao, ex-conselheiro do Juízo de Estado, o gabinete chinês, e hoje presidente do Núcleo para China e Globalização (CCG), think tank não estatal de Pequim, também diz esperar que Trump retome suas conversas comerciais com a China. “Podemos ter tempo 1, tempo 2, tempo 3, vamos fazer isso”, propõe. “E vamos reconhecer que Taiwan é secção da China.”
O influente jornalista Zichen Wang, ex-agência Xinhua e hoje pesquisador no mesmo CCG e na Universidade Princeton, nos EUA, avalia que Trump tem o potencial de partir alianças americanas não só em Taiwan, mas em vizinhos porquê Japão e Coreia do Sul e também na União Europeia.
Isso por um lado agradaria Pequim, atrapalhando a estratégia americana dos últimos quatro anos de formar grupos regionais para sustar o país, mas traria também o risco de que o imprevisível Trump atinja a própria China.
Kamala labareda menos a atenção dos analistas, em secção por simbolizar ininterrupção, previsibilidade, o oposto do republicano.
Para Zhenqing, da Universidade Tsinghua, ela manteria o esforço de Biden de trinchar o entrada chinês à tecnologia mais avançada, por exemplo, aos semicondutores para lucidez sintético, mas ele não vê porquê os EUA possam ter sucesso agora –se não tiveram nos últimos quatro anos.
“Nós hoje temos uma base poderoso para promover inovação tecnológica”, argumenta. “Temos uma população imensa de cientistas e engenheiros, a maior no mundo. A longo prazo, a China criará seu próprio progresso tecnológico. Não creio que os chineses temam quaisquer limitações de um potencial governo Kamala.”
Por outro lado, a democrata tende a manter ou ampliar a pressão militar sobre o país, inclusive a venda de armamentos já acelerada neste final de governo Biden.
Wang, presidente do CCG, também tem uma proposta para Kamala, nesse sentido. “Não vamos colocar tanta ênfase no incremento da segurança militar”, pede ele. “Vamos dar mais atenção ao incremento econômico. Ela [Harris] diz que quer governar o risco. Logo vamos dar ênfase à economia.”