SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A extrema direita brasileira mantém interações constantes com seus homólogos nos EUA e chega a mimetizar parte dos discursos de extremistas americanos, principalmente em relação a supostas fraudes em eleições, mostra estudo da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas, a partir da monitoramento de contas no Parler, o microblog que é uma espécie de Twitter da direita.
Ao contrário do Twitter, que veta certos conteúdos nocivos ou que violem os padrões da comunidade, o Parler privilegia a defesa da liberdade de expressão e não restringe nem mensagens que envolvam terrorismo. Segundo o estudo, depois dos EUA, as contas ligadas ao Brasil são as mais ativas.
De acordo com o monitoramento, 53,6% dos perfis ligados ao Brasil interagiram com conteúdos sobre fraude eleitoral, incorporando argumentos americanos ao contexto brasileiro. “Vemos a extrema direita brasileira mimetizando o discurso conspiratório da extrema direita americana, há uma integração internacional”, diz o sociólogo Marco Aurélio Ruediger, coordenador da pesquisa.
Entre os perfis que tiveram maior interação com contas do Brasil estão o TeamTrump, da campanha de Donald Trump, o WarRoomPandemic, do estrategista de direita Steve Bannon, e o Himalaya Global, perfil anti-China com teorias conspiratórias sobre a origem do coronavírus.
Os perfis ligados ao Brasil também interagiram com TommyRobinson (ativista britânico de extrema direita e islamofóbico), dbongino (de Dan Bongino, radialista ultraconservador americano), e RealMarjorieGreene (da deputada republicana Marjorie Greene, apoiadora da teoria conspiratória do QAnon, segundo a qual Trump luta contra uma elite global progressista de adoradores do diabo e pedófilos).
“Os dados apontam para possível interferência ideológica de grupos extremistas de direita externos ou de países de regimes autoritários no pleito de 2022, colocando o Brasil como uma peça do jogo geopolítico de radicais antidemocráticos”, diz o estudo.
Além de repercutir postagens sobre supostas fraudes na eleição americana e celebrar a invasão do Capitólio, os perfis do grupo do Brasil disseminam desconfiança sobre o processo eleitoral brasileiro e desapreço pelas instituições, com temas caros ao bolsonarismo -como críticas ao Supremo Tribunal Federal e aos governadores e tratamento precoce contra a Covid-19.
O Parler foi uma das principais plataformas usadas por apoiadores de Trump para organizar a invasão ao Capitólio em 6 de janeiro, que resultou em cinco mortes. Por isso, ela foi banida das lojas de aplicativos do Google e da Apple e, posteriormente, derrubada do serviço de hospedagem da Amazon. Chegou a ficar algumas semanas fora do ar, mas voltou no início de fevereiro, em outro serviço de hospedagem.
“Essa coordenação das extremas direitas é muito preocupante, vimos o que aconteceu, a invasão do Capitólio. Precisamos estar preparados para o ano que vem, essas redes serão usadas de forma maciça para questionar a lisura do pleito e mobilizar milícias”, diz Ruediger.
Para o estudo, os pesquisadores acompanharam 93,4 milhões de publicações da plataforma, entre 3 de novembro e 7 de janeiro de 2021 -o período compreende a eleição presidencial dos Estados Unidos até o dia seguinte à invasão do Capitólio.
As contas ligadas ao Brasil vão desde perfis relacionados ao governo, como o próprio presidente, deputados e senadores, até influenciadores sem ligação com a política institucional (brasileiros que postam temas sobre o país ou em português).
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