Shavo Odadjian, baixista do System of a Down, diz se sentir ‘livre’ em novidade filarmónica

AMANDA CAVALCANTI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O baixista do System of a Down, Shavo Odadjian, diz finalmente se sentir “livre” ao tocar e inventar com sua novidade filarmónica, Seven Hours After Violet. O grupo se apresenta neste domingo (20) no Knotfest, festival criado pela filarmónica Slipknot que realiza sua segunda edição em São Paulo neste termo de semana.

 

Em sua terceira vinda ao Brasil – as duas primeiras com o System, em 2011 e 2015 – o músico volta mais uma vez escoltado do baterista John Dolmayan, também membro do grupo seminal de metal. Dolmayan veio ao país somente para “base emocional”, conta Odadjian, e não pra tocar, mas os dois se sentaram com a Folha na tarde de sexta (18) e contaram sobre suas lembranças do público brasílio.

“Cá, me parece que todo mundo tem uma crítica profunda pela música e pela arte”, fala Odadjian. “É um público muito emotivo. Me lembro de tocarmos ‘Lonely Day’ e ver muitas pessoas chorando na plateia”, complementa Dolmayan.

Os quatro membros do System of a Down, que conta ainda com o vocalista Serj Tankian e o guitarrista Daron Malakian, se conheceram nos anos 1990 e fizeram secção de uma cena de metal mútuo que começava a se formar na Califórnia nesta estação –grupos uma vez que Deftones e Korn vieram na mesma leva.
A particularidade do System era que, para além do som intenso e eclético, os quatro integrantes eram de progénie armênia e lutavam pelo reconhecimento do genocídio de seu povo, que até hoje não é recebido por seus perpetuadores, a Turquia. A influência estética e política da identidade partilhada do grupo fez com que seus trabalhos, principalmente “Toxicity”, de 2001, se tornassem alguns dos mais importantes do metal moderno.

Mas o quarteto não foi capaz de mourejar tão muito com a glória e as crescentes divergências criativas. “Quando começamos, cada um na filarmónica tinha um espaço muito definido. Depois, as linhas foram se embaçando”, conta Odadjian. “Alguns de nós queríamos fazer mais do que estava fazendo, todo mundo queria gravar suas próprias músicas, e isso acabou causando fricção.”

Depois de cinco álbuns de estúdio, os dois últimos lançados em 2005, o único material inédito que a filarmónica lançou foi uma dupla de singles em 2020. Ainda que tenham feito turnês extensas enquanto System of a Down nesse período, o grupo se debruçou individualmente sobre outras iniciativas: Serj Tankian embarcou em curso solo, Malakian e Dolmayan formaram o Scars on Broadway, e Odadjian se envolveu em uma meia dúzia de projetos –entre eles, um grupo de hip hop com RZA, membro do Wu-Tang Clan.

O retorno do baixista ao metal, porém, só aconteceu em 2022, quando conheceu Morgoth Beatz, nome artístico do produtor Michael Montoya. Foi o início do Seven Hours After Violet, que lançou seu álbum de estreia em 11 de outubro deste ano. “Eu não me sentia mais tão cândido, mas, para leste projeto, abri todas as minhas portas”, comenta Odadjian. “Tem inspirações que vão desde os Beatles à [banda americana de deathcore] Left to Suffer.”

Odadjian classificou gravar com o Seven Hours After Violet (cujas letras iniciais formam SHAV, em referência a ele) uma vez que uma experiência “mais livre” que o System of a Down. “Não tem um produtor me dizendo que ‘isso não soa muito’, não tem ninguém dizendo ‘não quero fazer isso’. Meu tino artístico estava totalmente desimpedido.”

Ao mesmo tempo, Odadjian e Dolmayan ambos concordam que o System não seria a mesma filarmónica e não teria tido o mesmo impacto não fosse a junção das quatro personalidades de seus membros. “Se você sentasse para entrevistar cada um de nós separadamente, veria que somos quatro pessoas muito diferentes. Mas se tivéssemos uma relação de bajular um ao outro, não teríamos criado o System of a Down”.

Na última dez, as tensões entre os membros da filarmónica ficaram cada vez mais públicas – principalmente com o base de Dolmayan ao ex-presidente e atual candidato Donald Trump, que não agradou Tankian. Os músicos parecem discordar, também, sobre a questão Palestina e a guerra em Gaza. Tankian é vocal sobre o base aos palestinos, mas Dolmayan diz não poder determinar “o que é chamado de genocídio e o que não”. “Acho que são povos vizinhos, que têm que aprender a viver em tranquilidade”, diz.

Os músicos garantem, porém, que os quatro integrantes do System são uma vez que irmãos até hoje. As relações amigáveis e os alguns poucos shows que a filarmónica tocou neste ano despertam nos fãs uma esperança de uma turnê de reunião.
“Nós adoraríamos, mas é difícil expressar se sim ou se não”, fala Odadjian. “Acho que somos mais capazes de fazer funcionar hoje do que já fomos. A porta está ocasião”, conclui Dolmayan.

Knotfest Brasil
Quando: 19 e 20 de outubro, a partir das 11h
Onde: Allianz Parque – Av. Francisco Matarazzo, 1705, São Paulo
Preço: Ingressos a partir de R$ 294
Link: https://www.eventim.com.br/campaign/knotfestbrasil