Em seu primeiro ano na faculdade de Serviço Social, Wesley Paulo Peixoto, de 24 anos, contava com o apoio da avó paterna para pagar a passagem de ônibus para estudar. Após a morte da dona Maria de Lourdes, ele começou a vender doces para bancar o deslocamento.
Morador de Belford Roxo (RJ), Wesley estudava em Duque de Caxias, outro município da Baixada Fluminense. Graças à boa nota que tirou na prova do Enem, conseguiu uma bolsa de 100% em uma faculdade particular, através do Programa Universidade para Todos (Prouni), ingressando no curso em 2015.
Então, você pensa: três anos ralando debaixo de sol e de chuva para realizar o sonho do ensino superior? Tem que ser forte para não desistir! Porém, mais desafiador do que o cansaço, era a desconfiança de pessoas que não acreditavam que Wesley vendia doces para pagar as passagens dos quatro ônibus que pegava: dois para ir e dois para voltar.
“Cadê o boleto da faculdade?”
“(Na rua) Tinha gente que duvidava; já ouvi coisas como: ‘Cadê o boleto da faculdade?’ ou ‘Está vendendo para a faculdade mesmo? Olha lá, hein?’. Mas isso não fez eu abaixar a cabeça, pelo contrário, entendia cada vez mais que estava no caminho certo”, narra Wesley.
De bicicleta, Wesley saía de casa para vender os doces na rua às 14h. Retornava às 16h30, se arrumava e ia para a faculdade, aproveitando o intervalo das aulas para vender mais doces. Essa foi sua rotina durante três anos, todos os dias da semana.
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“Lembro de já ter os clientes certos, aqueles que sempre compravam e me davam palavras de incentivo. Muitos colegas de turma e alunos de outros cursos diziam que eu era inspiração de vida para eles. Isso me deixava muito feliz, pois sabia que não estava fazendo aquilo em vão”, conta.
Em 2019, depois que terminou a faculdade, Wesley conseguiu um emprego como Jovem Aprendiz em uma empresa de ferragens e materiais de construção.
No ano seguinte, passou a trabalhar em sua área de formação como assessor executivo na Secretaria Municipal de Assistência Social, Cidadania e da Mulher de Belford Roxo, cargo que exerce até hoje.
Além disso, Wesley faz um mestrado em Relações Étnico-raciais no Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET/RJ), campus Maracanã. O tema da sua dissertação é “Racismo na escola e as suas consequências para o estudante negro”.
“Não aconteceu comigo para eu guardar, mas para compartilhar”
Bem longe de levantar a bandeira da meritocracia, Wesley deseja que sua história inspire outros jovens negros e carentes a lutarem por seus sonhos. Se disser que foi fácil, Wesley reconhece que estaria mentindo, mas é possível!
“Sempre digo que, quando nós queremos, podemos chegar lá, mas sabendo que nem todos têm oportunidade e força de vontade. Falo que a história não é só minha. Não aconteceu comigo para eu guardar, mas para compartilhar e deixar registrado a outros jovens que há uma luz no fim do túnel”, aconselha.
O desejo de Wesley não fica só no discurso, não! Além do trabalho na Prefeitura de Belford Roxo e do mestrado, ele arruma tempo para dar aulas de Sociologia e Redação em um cursinho pré-vestibular para jovens negros e carentes, no bairro Vila Operária, em Nova Iguaçu.
O próprio Wesley já foi aluno do cursinho e voltar como professor o traz a sensação de dever cumprido, nas palavras dele.
“É como voltar no tempo e relembrar que um dia estive ali, sentado onde eles estão me ouvindo, desenvolvendo consciência de classe e contando minha história para que se sintam estimulados”, afirma.
De onde estiver, a dona Maria de Lourdes, deve estar bastante orgulhosa do neto. O que para ela não seria bem uma surpresa, mas a confirmação de algo em que acreditou durante toda a sua vida 💜
“Ela acreditava que um dia eu iria me tornar uma grande pessoa e que minha história iria impactar a vida de muita gente”, conclui Wesley.
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EDUCAÇÃO – Razões para Acreditar