PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – O Uruguai começou nesta segunda-feira (15) a aplicar a vacina contra a Covid-19 em cidadãos com idades entre 50 e 70 anos, com dupla nacionalidade brasileira e uruguaia e que sejam moradores das cinco áreas urbanas na divisa com o Brasil -todas localizadas na fronteira com o Rio Grande do Sul.
Os imunizantes, entretanto, são destinados apenas a moradores do lado uruguaio, com residência fixa, ou a pessoas que trabalham no país mas vivem em cidades brasileiras.
O Rio Grande do Sul vive situação crítica. A capital, Porto Alegre, enfrenta lotação máxima em todas as suas UTIs. Um contêiner precisou ser instalado no hospital Moinhos de Vento, o maior particular da cidade, para abrigar corpos de vítimas do coronavírus.
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Em outro grande centro médico, o Hospital da Restinga e do Extremo Sul de Porto Alegre, na periferia do município, pacientes ficam nos corredores, de pé e ao lado de cilindros de oxigênio, devido à lotação.
Segundo o Ministério da Saúde do Uruguai, 30 mil doses foram direcionadas aos municípios na fronteira com o Brasil, e a orientação é não deixar “vacinas na geladeira”. O governo uruguaio destinou parte dos imunizantes que sobraram de outras regiões do país para reforçar a vacinação na fronteira, tentando assim blindar o país da ameaça de novas variantes, como a P1, originada em Manaus.
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A situação brasileira preocupa o governo uruguaio. O país registrava nesta segunda 72.862 casos confirmados e apenas 717 mortes. Mesmo com números baixos, o Uruguai enfrenta o pior momento da pandemia: a média móvel de 1.171 novos casos de infecção por dia é a mais alta já registrada no país.
Das cinco províncias uruguaias que fazem fronteira com o Rio Grande do Sul, a mais afetada é Rivera, onde havia nesta segunda 837 casos ativos da doença, contra 427 da cidade brasileira de Sant’Ana do Livramento.
As duas cidades dividem a mesma área urbana e são separadas apenas por ruas e praças, onde a circulação de pessoas é livre. Além de Rivera, também há cidades fronteiriças com o Brasil nas províncias de Cerro Largo, Artigas, Rocha e Treinta y Tres.
O jornalista brasileiro Marcelo Barboza Rodriguez, 26, naturalizado uruguaio desde 1997, mora em Rivera e foi vacinado na última quinta-feira (12). Ele entrou no grupo prioritário de vacinação de pessoas entre 18 e 59 anos devido a comorbidades -ele tem asma e é obeso. “Foi muito tranquilo. Marquei a vacina por aplicativo, de um dia para o outro”, disse ele.
O pai dele, Raúl Barboza, 66, vacinou-se no dia seguinte porque trabalha numa cooperativa de serviços médicos em Rivera. Ele, que também é brasileiro, tem nacionalidade uruguaia porque mora no país desde os cinco anos de idade. Pessoas com tal histórico são conhecidas na região como “doble-chapas”. A mãe do jornalista, Reila, é a única uruguaia da família e se vacinou nesta segunda.
A brasileira Gislaine Rodriguez também tem dupla nacionalidade, mas não tem direito à vacina porque mora no Brasil e não possui nenhum vínculo trabalhista no Uruguai. “Estou tentando marcar, mas os fronteiriços só vão ter vacina se sobrarem doses”, disse.
Além de Rivera, as províncias de Cerro Largo e Artigas estão classificadas com a cor vermelha no mapa de risco do Uruguai -a mais alta do país. As províncias de Rocha e Treinta y Tres receberam a cor laranja.
No início da tarde de segunda, o Uruguai recebeu mais 1,56 milhão de doses da chinesa Sinovac, fabricante da Coronavac. O governo também já anunciou a compra de 2 milhões de vacinas da Pfizer, que já entregou 50 mil doses para serem aplicadas exclusivamente em profissionais de saúde.
Até quarta-feira (17), o país espera ter atingido a marca de 270 mil pessoas vacinadas contra a Covid-19.
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