SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um dia após violenta repressão contra manifestantes que deixou três mortos em Mianmar, forças de segurança contiveram protestos contra o golpe de Estado em diversas cidades nesta terça-feira (9) com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral, mas sem registro de mortes nas ruas.
Durante um interrogatório, no entanto, Zaw Myat Linn, membro da Liga Nacional para a Democracia (LND), partido da líder civil deposta e presa durante o golpe militar, Aung San Suu Kyi, morreu durante um interrogatório após ter sido preso.
A informação foi confirmada por Ba Myo Thein, que era colega de Linn no Parlamento dissolvido pelos militares, e pela Associação de Assistência aos Presos Políticos, que contabiliza 60 civis mortos desde a tomada de poder.
Segundo Thein, os familiares tentam agora recuperar o corpo do ex-parlamentar no hospital militar. Linn é o segundo membro do partido morto sob custódia da ditadura militar. Khin Maung Latt, que foi gerente de campanha para um parlamentar do LND eleito em 2020, morreu após ser preso no sábado (6) à noite.
Nesta terça, no centro de Rangoon, os agentes intensificaram as operações e as detenções e fizeram um cerco durante a noite de centenas de ativistas. As forças de segurança entraram em várias casas para procurar detratores do regime, após a imprensa estatal advertir que quem esconder manifestantes será punido.
Segundo moradores, o alvo da ação que terminou com dezenas de detidos foram casas que tinham em suas janelas e varandas bandeiras da LND.
Para apoiar os manifestantes cercados, centenas de habitantes desafiaram o toque de recolher imposto pelas autoridades e saíram às ruas. “Libertem os estudantes”, gritavam. Os ativistas conseguiram sair do bairro nas primeiras horas do dia.
Com o cair da noite na cidade costeira de Dawei, agentes dispararam contra manifestantes em diferentes distritos. Testemunhas disseram que dois jornalistas da empresa independente de mídia Kamayut foram presos.
Os protestos são contra o golpe de Estado aplicado por generais, em 1º de fevereiro, que derrubou um governo civil. Os militares dizem que houve fraude nas eleições de novembro, mas não apresentaram provas. Eles prometem realizar um novo pleito, embora não tenham estabelecido um prazo para tal.
“A paciência do governo acabou”, afirmou a imprensa estatal, após cinco semanas de manifestações pró-democracia diárias. Os militares têm cada vez mais aumentado o cerco contra os ativistas, com mais de 1.800 pessoas presas nas últimas semanas e ataques contra ONGs, imprensa e políticos em crescimento.
Um dia após uma operação policial na agência de notícias Myanmar Now, os agentes foram à sede do meio de comunicação independente Mizzima, que teve sua licença revogada pelo Ministério da Informação, junto com outras mídias independentes –Myanmar Now, DVB, Khit Thit e 7 Day.
Segundo o Myanmar Now, ao menos 35 jornalistas foram presos desde a tomada de poder, 19 dos quais já foram libertados.
O governo confirmou ainda ter assumido o controle de hospitais públicos e campi universitários, “a pedido de cidadãos que não querem ver instabilidade em seu país”, diz oficialmente.
Médicos, professores, advogados e funcionários públicos declararam greve desde o golpe de Estado. A convocação de desobediência civil tem um forte impacto em setores como a administração pública, os bancos e os hospitais. A junta militar advertiu que os funcionários que não retornassem ao trabalho seriam demitidos.
No âmbito diplomático, o embaixador mianmarense no Reino Unido seguiu os passos do seu par na ONU e exigiu, nesta segunda, “a libertação de Aung San Suu Kyi”, de quem era convocado por seu governo.
A série de atos do governo militar provocou, novamente, condenações da comunidade internacional, que segue dividida. A ONU pediu máxima moderação ao Exército.
Reino Unido, Estados Unidos e outros países ocidentais adotaram sanções seletivas, mas China e Rússia, aliados do Exército mianmarense, não condenaram o golpe de Estado.
O Conselho de Segurança da ONU não chegou a um acordo sobre uma declaração conjunta e prosseguirá com as negociações esta semana. Os generais, no entanto, ignoram qualquer protesto vindo da comunidade internacional.
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