SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O cartunista Ziraldo, criador do célebre personagem “O Menino Maluquinho”, morreu na tarde deste sábado (6), em sua casa no Rio de Janeiro, aos 91, de falência múltipla dos órgãos. A informação foi confirmada por Daniela Thomas, filha do artista.
Ziraldo teve uma carreira profícua e criou charges, cartuns, pinturas, cartazes, murais, histórias em quadrinhos, livros infantis e crônicas. Seus livros venderam mais de 10 milhões de exemplares e foram publicados em vários idiomas.
Além disso, transbordou o limite de uma folha de papel e virou um intelectual público disposto a distribuir opiniões para salvar o mundo. Sempre se considerou um “aspite”, isto é, um assessor de palpites. Para evitar mal-entendidos, chegou a propor a adoção do ponto de ironia na língua portuguesa.
O humor de Ziraldo se expandiu na revista O Cruzeiro e ganhou expressão política a partir de 1963, no Jornal do Brasil.
No Jornal dos Sports, em 1967, Ziraldo editou o suplemento Cartum JS, revelando os novatos Henfil e Miguel Paiva. Criado em 1969, no vácuo do Ato Institucional nº 5, o AI-5, o semanário humorístico O Pasquim contribuiu para a transformação de Ziraldo em um artista popular.
Com humor, linguagem solta e provocativa nos anos mais repressores da ditadura militar, a publicação, critica ao regime, ditou tendências no jornalismo brasileiro.
Apesar das restrições da censura, o Pasquim descabelou seu estilo e fortaleceu sua oposição à ditadura militar. Ele sofreu três prisões nesse período, mas nem por isso deixou de desenhar. Na cela, ele seguiu no ofício e usava seu conjunto de hidrocor para desenhar, às vezes um simples limoeiro que imaginava no pátio cinza do local.
O salto para a literatura infantil deu um rosto mais terno ao mineiro. Nos anos 1960, o saci-pererê criado por Ziraldo tornou-se o personagem principal daquela que seria a primeira revista em quadrinhos brasileira, A Turma do Pererê. Já na década de 1980, ele criou “O Menino Maluquinho”, personagem que se tornaria um fenômeno editorial.
Em 2014, o cartunista disse à Folha que decidiu criar seu personagem mais conhecido após uma palestra com pais e professores sobre a educação dos filhos. “Disse que devíamos preparar os filhos para o dia de hoje, pois o futuro será feito de muitos hojes”, disse ele. Quando chegou em casa, já tinha a ideia do livro na cabeça. Nasceu Maluquinho, que vive um dia por vez, intensamente.
“Ziraldo é um dos pilares do design brasileiro, praticante dessa forma polivalente de desenhar, que é fazer quadrinhos, cartum e charge, afirmou Laerte, que teve “o primeiro impacto de uma linguagem gráfica” ao ver uma capa da revista Pererê, em 1961. “Nesse sentido, leva o troféu porque vários de nós fizemos as três coisas, mas nenhum fez com a profusão e a competência dele.”
“Ziraldo foi um dos dois ou três maiores artistas gráficos da história do Brasil” diz o escritor Ruy Castro. “Ele era capaz de criar marcas, lettering. Era capaz de fazer tudo graficamente. Ziraldo desenhava enquanto conversava com 30 pessoas ao mesmo tempo. Ele era capaz de tudo. Cansei de ver ele fazer isso. Ele criou personagens que marcaram época, como a Supermãe, o Jeremias, o Bom, e os Zeróis, uma paródia aos super-heróis, tudo isso antes do Menino Maluquinho.”
Ziraldo Alves Pinto tinha apenas seis anos quando viu seu primeiro desenho estampar as páginas do jornal. Na época, foi sua mãe quem enviou o trabalho à extinta Folha de Minas.
Em 2018, por ocasião dos 80 anos de sua carreira, cartunista ganhou uma mega exposição em São Paulo, com mais de 500 obras do artista. Desde março, está em cartaz no CCBB do Rio de Janeiro a mostra “Mundo Zira – Ziraldo Interativo”.
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