Narradora da ESPN vira primeira mulher a narrar mil jogos na carreira

GABRIEL VAQUER
ARACAJU, SE (FOLHAPRESS) – Conhecida como a primeira mulher a narrar uma partida de futebol na TV brasileira, ainda nos anos 1990, Luciana Mariano, da ESPN, chegou a outra marca histórica: virou a primeira narradora a chegar a 1000 jogos transmitidos por ela.

A marca foi alcançada neste mês. À reportagem, Mariana explicou que tem a mania de guardar todos os jogos que fez um caderninho, o que ajudou a monitorar o dado. A ESPN fez reportagens e a homenageou pelo alcance.

“Comentei com as pessoas mais próximas que é uma marca muito importante, muito representativa, que não pode passar em branco”, afirmou em conversa com a reportagem.

Luciana Mariano foi revelada pela antiga equipe do esporte da Band nos anos 1990. Hoje, narra alguns dos principais torneios do mundo, com o Campeonato Italiano.

Luciana também é apresentadora, e faz parte do programa Mina de Passe, debate sobre futebol feminino exibido semanalmente pela ESPN.
Veja a entrevista na íntegra.

PERGUNTA – Luciana, confesso que nunca vi uma narradora chegar a mil jogos. Como você percebeu que chegou a essa marca? Houve alguma organização?
LUCIANA MARIANO – Nunca aconteceu de uma mulher chegar a mil jogos narrados. Acredito que eu seja a primeira narradora a chegar nessa marca, assim como eu fui a primeira mulher a narrar na televisão brasileira e, por isso, ninguém nunca celebrou essa marca. E a gente investiga se eu sou a primeira também na América do Sul e em muitos outros países, porque mulheres não tinham oportunidade.
Sabendo que isso era muito especial, eu começo a narrar constantemente na ESPN e decido guardar tudo em um caderninho porque todos esses jogos foram tão batalhados de fazê-los, que eu comecei a guardar como uma coisa pra mim, uma lembrança de que eu poderia fazer coisas que eu nunca imaginei.
Comentei com as pessoas mais próximas que é uma marca muito importante, muito representativa, que não pode passar em branco. Não porque sou eu, poderia ter sido a Solange, a Ana, a Mari, qualquer pessoa, mas é uma mulher que não só é a primeira narradora do país, da América do Sul e possivelmente do mundo, mas é uma narradora que continua narrando e que chega a essa marca impressionante de 1000 jogos narrados.
Então, isso é muito muito representativo, muito emblemático para nós, mulheres. Eu acho que é a coisa mais importante que eu fiz depois de ser a primeira mulher que narrou uma partida de futebol na TV brasileira.

P – Desde o seu início para cá, o que você percebeu que mais mudou na sua carreira?
LM – Mudou muita coisa. No começo a gente dependia da boa vontade de alguns, e vez por outra, se essa pessoa não tivesse no comando, a gente não tinha. Eu que só tinha eu e mais ninguém, não tinha oportunidade dependendo dos direitos de quem tinha a transmissão, das competições.
Então, a partir de 2018 que eu começo a narrar de forma intermitente na ESPN que é a empresa que me dá essa condição. Foi aqui dentro que eu senti que um canal estava acreditando em mim e dando o recado: “Olha, nós vamos apostar em você porque a gente acredita nessa ideia, a gente acredita no seu trabalho, a gente acredita na inclusão das mulheres nesse meio tão machista, que já tem repórteres, apresentadoras, tem comentaristas, mas que ainda tem muita resistência a narração”.
E era tudo que eu queria, porque aí chega também a primeira safra de narradoras e eu penso que agora vai. E, de fato, está indo, tanto que eu cheguei aos 1000 jogos. Então, eu sou a narradora dos canais ESPN, que narra jogos de futebol masculino, feminino, campeonatos europeus, ciclismo e me sinto pronta para o que me derem.
Eu sou uma narradora de fato e esse reconhecimento é o mais importante, especialmente por ocupar essa posição de ter sido a primeira, e muitas olharem para mim como uma espécie de referência. Eu acho fantástico poder dar o exemplo que a gente pode fazer tudo e muito mais.

P – Mil jogos é muita coisa, mas você tem algum sonho ou algo que sente falta de ter narrado?
LM – Eu tenho milhares de sonhos. Eu tive a chance de narrar uma prova nos jogos olímpicos de Sydney porque eu estava de plantão e aí disseram: “Você vai ter que narrar, porque ela tá entrando na pista”. E ali eu tive uma experiência com Olimpíadas. Eu gosto muito de jogos olímpicos, adoro atletismo.
Tive a oportunidade de narrar uma prova de natação na ESPN, que foi uma ocasião em que transmitíamos jogos universitários e aparece a oportunidade de narrar essa modalidade. Todo esse tempo no jornalismo esportivo, mesmo que eu não estivesse narrando, me deu condições de aprender de tudo.
E meu maior sonho hoje é poder narrar uma Copa do Mundo de Futebol Feminino e vejo essa possibilidade para 2027. Há muita gente trabalhando para que o Brasil seja sede dessa Copa do Mundo de Futebol Feminino porque nós nunca sediamos uma Copa da modalidade e, por isso, esse no é o meu maior sonho no momento.
Tenho a esperança que isso aconteça e, mesmo que eu não tenha a oportunidade de narrar, quero estar presente em todos os jogos trabalhando ou assistindo. Vai ser a realização de uma vida inteira dedicada à inclusão da mulher nesse espaço que ainda é tão difícil para nós.

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