LOS ANGELES, EUA (FOLHAPRESS) – A cinéfila Jenn Murphy, o crítico Pete Hammond e o assessor David Magdael se lembram muito bem do que faziam nesta época do ano em 2020, e em muitos outros anos anteriores.
Todas as noites, estavam no cinema, com um saco de pipoca nas mãos, à espera de um debate ao final da exibição.
E, muitas vezes, seguiam para uma festinha do filme para fechar a noite. Era o pico da temporada de prêmios em Hollywood, a melhor época para se visitar Los Angeles.
Mas, em 2021, o cenário é de salas de cinema fantasmas. Faz praticamente um ano que elas estão fechadas e sem perspectiva de abertura.
Ainda assim, Murphy segue vendo filmes, Hammond continua escrevendo e entrevistando artistas, e Magdael promove diversos trabalhos com potencial de Oscar.
“Faço maratona de filmes aos domingos com meus amigos. Cada um no sofá de sua casa e, ao final, entramos no Zoom para conversar”, contou Murphy, produtora de vídeo e ex-programadora de um festival de cinema. “É chocante pensar que não vou ao cinema faz um ano”, afirmou.
A Hollywood virtual trouxe mudanças no cotidiano dos profissionais. Hammond, colunista de prêmios e principal crítico do site Deadline.com, já se acostumou a entrevistar celebridades por videocall e afirma que há até mesmo uma maior intimidade.
“Estou olhando para a casa delas, comentando suas bibliotecas”, disse Hammond, que passou a receber dos estúdios presentes como comida e álcool para compensar a falta das recepções tão comuns nesta época do ano.
“Os atores estão sem dúvida mais disponíveis e podem fazer divulgação sem sair do sofá. Economiza muito dinheiro, é mais conveniente e praticamente a mesma coisa.”
Hammond chegou a cruzar a fronteira do condado de Los Angeles para ir ao cinema em Orange County, que reabriu as salas por alguns meses na pandemia. Ele e outras cinco pessoas assistiram a “Tenet”, um dos raros blockbusters liberados pelos estúdios.
“Foi uma experiência diferente da que tive com outros filmes. Ajudou a ver da forma como deveria ser”, disse. “Dá muita pena de outros grandes trabalhos que não estão chegando às grandes telas. Sinto falta de sair e estou exausto. Mas poderia ser muito pior.”
A estratégia de promoção dos filmes na temporada de prêmios também foi alterada. O assessor de imprensa David Magdael, que está há 20 anos na indústria, acredita que as pessoas se sentem mais conectadas nos debates virtuais dos filmes, já que não estão no fundão do cinema e sim cara a cara com o artista na tela do computador.
Também cita outra diferença importante –maior acessibilidade a filmes com orçamentos pequenos. Para promover o documentário queniano “Softie”, indicado ao prêmio do Sindicato dos Produtores, realizou eventos online com o time da produção e o diretor, Sam Soko.
“Muito mais gente está assistindo a esses filmes menores. Especialmente entre os votantes, eles têm mais facilidade para ver porque não precisam ou não podem sair de casa”, disse Magdael, contando que a Academia criou uma plataforma própria de cinema para os membros. “Eu mesmo vi mais filmes no último ano. Até comprei uma TV melhor, de 55 polegadas.”
Sua empresa cuida de trabalhos pré-indicados ao Oscar de documentário em longa (“The Mole Agent” e “76 Days”) e curta-metragem (“A Concerto Is a Conversation”, “Hunger Ward” e “The Speed Cubers”). “The Mole Agent” também representa o Chile na categoria internacional.
Para os donos de cinema de Los Angeles, a história é mais sombria. “Não dá para simplesmente desligar tudo e ir embora”, afirma Greg Laemmle, do Laemmle Theatres, com oito salas dedicadas ao cinema independente.
Laemmle lançou uma plataforma online, mas o público virtual não chega a 5%. Ele entrou num programa de empréstimos do governo e diz que o fundo durou um mês.
Considera fechar para sempre ao menos uma sala, da qual o contrato de aluguel vence em breve. Ainda assim, segue otimista ao ver recordes de bilheteria na China e na Austrália. “O público quer voltar”, acredita. “Tem sido incrivelmente difícil, mas somos um grupo resiliente.”
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