SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A disseminação de notícias falsas sobre as vacinas contra a Covid-19 pelas redes sociais cresceu após o início da imunização no Brasil, mostra análise da União Pró-Vacina, projeto da USP-Ribeirão que monitora desde 2019 os dois maiores grupos antivacina atuando no país.
Entre maio e julho de 2020, período em que começaram os testes dos imunizantes no país, o número de publicações mensais alcançou, no máximo, 87. Em dezembro foram 111. Em janeiro deste ano, 257.
A segunda quinzena de janeiro, período que coincide com a aprovação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) do uso emergencial das vacinas Coronavac, do Butantan e da Sinovac, e Covishield, da Universidade de Oxford e da AstraZeneca, e início da vacinação, concentrou quase 40% das publicações.
O teor da maioria dessas postagens trata do suposto perigo das vacinas (45,1%) e faz referências a diversas teorias da conspiração (19%). Ainda persistem outras desinformações usadas pelos grupos antivacina, como alteração do DNA humano (5,7%), conspirações políticas envolvendo os imunizantes (4,9%), ausência de eficácia (4,3%) e uso de fetos abortados na fabricação desses produtos (3,3%).
Segundo o pesquisador João Henrique Rafael, analista de comunicação do Instituto de Estudos Avançados da USP-Ribeirão e idealizador do projeto, houve uma mudança de teor do conteúdo anti-vacina. “Eles saíram de publicações genéricas para postagens com falsos casos de mortes ou de reações graves. É o clássico caso do bombeiro tal, da enfermeira tal que tomaram a vacina e morreram.”
As postagens utilizam principalmente vídeos (41,6%), links (24,5%), imagens (22%) e textos (11,7%). A maior parte está em português (71,2%), mas há ainda conteúdo em inglês (19,8%), espanhol (7,1%) e outros idiomas (1,9%).
O volume de interação dos participantes dos grupos com o conteúdo segue alto, segundo Rafael. As 368 postagens de dezembro e janeiro obtiveram 3.942 reações, 1.313 comentários e 2.372 compartilhamentos. No total, 126 autores foram responsáveis por todas postagens, sendo que 16 responderam por quase metade das publicações (48,10%).
De acordo com o pesquisador, apesar de circular informações falsas sobre vacina em várias plataformas, grupos organizados antivacina, que já atuavam há anos na disseminação de conteúdo falso, só foram encontrados no Facebook.
A análise demonstra que o posicionamento do Facebook em dezembro, afirmando que iria remover postagens que trouxessem alegações falsas sobre vacinas contra a Covid-19, não teve efeito prático nesses grupos. Até mesmo a marcação de conteúdo falso foi falha, segundo Rafael: apenas 7,6% das publicações analisadas pelo grupo da USP entre dezembro e janeiro continham um alerta.
No início de fevereiro, porém, o Facebook atualizou novamente suas diretrizes e disse que removeria grupos, páginas e contas que compartilhassem repetidamente informações falsas sobre Covid-19 e vacinas.
“Aparentemente um dos grupos mais ativos, com 13 mil membros, o Facebook derrubou. Não é mais possível acessá-lo desde o dia 10. É uma política tardia, quase um ano depois da pandemia, mas parece que acertou em cheio esses grupos”, afirma Rafael. O outro grupo, que soma cerca de 15 mil usuários e tem seis anos de atuação, segue disseminando conteúdo falso.
“Vamos cobrar para que esse grupo também seja derrubado e que o Facebook não permita que novas páginas surjam para ocupar o espaço das que foram derrubadas. Vimos que já tem uma nova [página] surgida em janeiro.”
Para ele, é importante que as plataformas de redes sociais atuem firmemente contra esses grupos para evitar o desencorajamento das pessoas na vacinação. “Com o avanço da imunização, as pessoas que acreditavam nessas teorias absurdas também vão percebendo que ninguém entrou em metamorfose e virou jacaré”, brinca.
Pesquisa Datafolha aponta que aumentaram a aceitação aos imunizantes e o medo de contrair a Covid-19.
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