SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Viúvo de Gilberto Braga, o arquiteto e decorador Edgar Moura Brasil está processando a TV Globo e cobrando R$ 290 mil referentes à última parcela de um contrato firmado com o novelista, que morreu em outubro de 2021.
Emails anexados ao processo mostram que, em dezembro daquele ano, uma funcionária da emissora afirmou que o pagamento não seria efetuado porque o escritor havia morrido. Mas a defesa do viúvo diz que Braga firmou o contrato como pessoa jurídica e, mesmo com a morte, a empresa da qual ele era sócio deveria receber os valores.
Procurada pela reportagem, a Globo disse não conhecer o processo. O viúvo de Braga e seu advogado não quiseram comentar o caso.
O processo, ao qual a reportagem teve acesso, diz que o contrato foi assinado em 2018 para a produção de roteiros de obras audiovisuais, como novelas, séries e minisséries. O documento previa pagamentos mensais de R$ 300 mil em 2019, R$ 250 mil em 2020 e R$ 200 mil em 2021.
Com juros e correção monetária, a parcela que não foi paga hoje chega a R$ 290 mil. A defesa do viúvo pede ainda que a emissora pague as despesas processuais e os honorários advocatícios.
“Ademais, embora o Sr. Gilberto Braga não mais pudesse, pessoalmente, executar algumas atividades, fato é que seu trabalho, contratado por meio da pessoa jurídica da autora, já havia sido entregue e, portanto, a obrigação para com a última persistia e persiste até hoje”, argumenta a defesa do viúvo no processo.
Edgar e Braga, que se casaram em 2014, estavam juntos há 49 anos. Autor de sucessos como “Escrava Isaura” e “Paraíso Tropical”, no ar novamente na Globo, Gilberto Braga se firmou como um dos principais novelistas do Brasil a partir da década de 1970, conforme narra a biografia “Gilberto Braga: O Balzac da Globo”, escrita pelos jornalistas Mauricio Stycer e Artur Xexéo, morto em 2021.
Com o sucesso de “Dancin’ Days”, de 1978 -com Sônia Braga, Antônio Fagundes e Joana Fomm no elenco-, ele consolidou as bases das telenovelas contemporâneas em horário nobre e influenciou até o que os brasileiros vestiam, numa produção lembrada também pelos figurinos coloridos e inspirados nas discotecas.
A ela se seguiram “Água Viva”, de 1980, que mostrou com pioneirismo o uso da maconha na televisão brasileira, dentro do contexto do cotidiano de personagens de classe média alta, “Brilhante”, “Louco Amor”, “Corpo a Corpo”, “Anos Dourados” e “O Primo Basílio”.
Foi em 1988, no entanto, que seu maior sucesso foi ao ar. “Vale Tudo” se tornou um fenômeno e alçou o autor carioca ao panteão da teledramaturgia brasileira.
A reta final do folhetim mobilizou o país com a pergunta “quem matou Odete Roitman?”. As tentativas de decifrar o assassinato da vilã, interpretada por Beatriz Segall, geraram um dos mais eficazes “quem matou?” da nossa televisão. No fim, o telespectador descobriu que Leila, personagem de Cassia Kiss, era a assassina.